sábado, 13 de junho de 2009

A revolução do cão-guia

Saiba com os cães-guia Boris e Basher mudaram as vidas de Thays Martinez e Daniela Ferrari Kovacs e confira algumas dicas para não cometer uma gafe com os deficientes visuais. E nem com os cães

O companheiro perfeito
Deficiente visual desde a infância, a advogada Thays Martinez fundou o Instituto de Responsabilidade e Inclusão Social (Iris), uma ONG que treina cães-guia

Thays Martinez perdeu a visão aos 4 anos – depois de o vírus da caxumba destruir as células de suas retinas. Aos 7, descobriu numa conversa com a professora que, nos Estados Unidos, cães treinados eram capazes de guiar deficientes visuais e se animou com a novidade. “Sempre adorei cachorros e fiquei feliz ao saber que poderia unir o útil ao agradável”, diz. O tempo passou. Thays estudou em colégios públicos, formou-se em direito na Universidade de São Paulo (USP), começou a trabalhar. Só conseguiu o seu primeiro cão-guia há uma década. Boris – uma mistura de labrador com golden retrivier – é americano. Naquele tempo, não havia treinamento de guias no Brasil. “Costumo dividir a minha vida em a.B. e d.B., antes de Boris e depois de Boris”, afirma Thays, aos 35 anos.
A parceria com o cão se tornou tão poderosa que multiplicou a autoestima de Thays e mudou o seu destino. Foi Boris quem lhe deu segurança para deixar a casa dos pais e ir morar sozinha. Também foi ele que lhe encheu de coragem para largar a estabilidade do emprego no Ministério Público e se dedicar a outras áreas do direito. A relação com Boris motivou Thays a processar o Metrô de São Paulo, que proibiu o cão de guiá-la dentro da área da empresa. E a batalhar pela aprovação de duas leis – uma estadual e outra federal – que permitiram o acesso de cães-guia a locais públicos.
Em 2002, Thays fundou o Instituto de Responsabilidade e Inclusão Social (Iris), uma ONG que trabalha para os deficientes visuais. Vinte dos cerca de 60 cães-guia em atividade no Brasil foram importados pelo Íris – sem nenhum custo para os usuários – graças a uma parceria com a ONG americana Leader Dogs for the Blind. O Iris planeja montar um centro de treinamento de guias no Brasil. Para isso, precisa de patrocínio e de voluntários que topem cuidar dos filhotes durante um ano e lhes ensinar boas maneiras. Só depois dessa fase, chamada de socialização, o cão vai à escola aprender as tarefas específicas de guia. A demanda é grande. Na fila de espera do Iris, há 2 mil deficientes aguardando um cão.
Boris se aposentou no fim de 2008. Aos 10 anos, já não tinha tanta disposição para o trabalho. Diesel, um labrador preto de 2 anos, o substituiu. Socializado numa fazenda, o perfil de Diesel combina com o de Thays. Ambos são ativos e adoram caminhar depressa. Sempre que pode, Diesel dispensa escadas-rolantes e guia Thays por degraus fixos. É praticamente um cão atleta. Abre caminho para Thays desviando de obstáculos fixos e móveis. Às vezes, se distrai com animais soltos pela rua e late forte. Thays percebe os mínimos sinais de desatenção do cachorro. “Diesel, não. Go straight” (Vá em frente), afirma Thays. “Good boy!” (Bom menino). Diesel diminuíra o ritmo para espiar ratinhos de brinquedo espalhados no chão por um camelô. Apesar de ser um jovem adulto, Diesel ainda conserva a cara e a curiosidade típica dos filhotes.

O melhor presente
O cão-guia Basher entrou na vida da paulistana Daniela Ferrari Kovacs há 7 meses, dois dias antes do aniversário dela

A paulistana Daniela Ferrari Kovacs conheceu Basher em novembro do ano passado, dois dias antes de completar 29 anos. “Foi como se eu tivesse tido um filho. Nunca tinha me sentido tão feliz”, afirma. “As pessoas sempre cuidaram de mim. Eu não sabia que também seria capaz de cuidar de um outro ser”. Basher e Dani fazem sucesso por onde passam. Na rua, pedestres param para tirar dúvidas sobre o trabalho do cão ou para elogiar a beleza dele – ou a dela. Alguns cometem o erro de tentar chamar a atenção de Basher e botam em risco a segurança de Dani. Com um sorriso no rosto e a voz doce, ela explica: “Ele é um cão-guia, não pode se distrair”.
Dani fala com felicidade sobre o seu novo companheiro. “Ficamos juntos 24 horas por dia. É mais do que um casamento”. A chegada do cão fez com que as pessoas se aproximassem mais de Dani, e de uma maneira mais cordial. Enquanto ela dá expediente no Tribunal Regional do Trabalho, na região central de São Paulo, Basher repousa sobre um colchãozinho colorido atrás da mesa. Ele tem uns brinquedinhos no escritório até um crachá: “Prestador de Serviços – Basher, cão-guia”. A cada três horas, Dani desce com ele ao “banheiro”. Carrega um saquinho plástico para eventuais resíduos. “Do you wanna go park, Basher?”, pergunta ao cachorro.
Basher é um cão chique: é bilíngue (responde a comandos em português e inglês), viaja de avião, vai ao cabeleireiro, à academia e à terapia. “Se eu soubesse que um cão-guia melhoraria tanto a minha vida, teria procurado um muito antes”, afirma Dani. Fora do horário do expediente, Basher age como um cão comum. Corre pelo condomínio em que Dani mora, na zona oeste de São Paulo, com o cachorro de estimação da família. Virou o xodó dos vizinhos. Ao vestir a coleira-guia, Basher fica mais sério e concentrado. “Quando ele está trabalhando, até parece outra pessoa”, costuma dizer um dos porteiros do condomínio.

Algumas dicas de boas maneiras

Saiba como se comportar bem ao encontrar um deficiente visual e o seu cão-guia

Deficiente visual
Trate-o como as outras pessoas, com delicadeza;
Fale num tom normal de voz e diretamente a ele;
- Ao aproximar, identifique-se. Ao se retirar, diga que está saindo. Dirija-se a ele pelo nome;
- Se parecer que o deficiente visual precisa de ajuda, se ofereça; Avise de maneira calma e clara caso o deficiente estiver prestes a se envolver numa situação de risco;
- Num restaurante, leia o cardápio em voz alta. Quando o alimento chegar, pergunte se ele gostaria de saber o que tem no prato e descreva a posição dos alimentos de acordo com as posições do relógio: "seu café está em 3 horas";
- Deixe todas as portas abertas ou todas fechadas;
- Seja sensível ao questioná-lo sobre a deficiência.

Cão-guia
- É tentador acariciar um cão-guia, mas lembre-se de que ele é responsável por conduzir alguém que não pode ver. O cão nunca deve ser distraído. A segurança do deficiente visual depende do alerta e da concentração do cão;
- Não tem problema perguntar se você pode acariciar o cão-guia. Muitos usuários gostam de socializar seus cães quando têm tempo;
- Nunca forneça alimentos ou outras coisas que distraiam um cão-guia. Eles seguem uma dieta especial e são treinados para resistir a ofertas de alimentos;
- Embora os cães-guia não possam ler sinais de tráfego, são responsáveis em ajudar seus condutores a cruzar a rua com segurança. Chamar um cão-guia ou intencionalmente obstruir seu trajeto pode ser perigoso para a dupla;
- Não buzine e nem chame o cão-guia de seu carro para sinalizar quando é seguro atravessar;
- A vida do cão-guia não é somente trabalho. Quando não está com a coleira, ele é tratado como um animal de estimação comum;
- De tempos em tempos, um cão-guia comete erros e deve ser corrigido. A correção geralmente envolve uma punição verbal juntamente com uma puxada na correia. Não estranhe essas pequenas punições – elas são métodos adequados para treiná-lo.

Instituto de Responsabilidade e Inclusão Social (Iris)

Época

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