domingo, 27 de dezembro de 2009

Eles não são iguais


REVEZAMENTO
Os gêmeos Gabriela e Lucas, de 7 meses, em casa. As primeiras mamadas foram organizadas numa planilha de Excel

Criar gêmeos inclui o desafio de preservar a individualidade de crianças muito parecidas e muito ligadas
Renata Lanari tem 31 anos e diz que ainda hoje tem dificuldade em encontrar sua individualidade. Gêmea de Rodrigo Lanari, passou a infância e a juventude se sentindo inevitavelmente ligada ao irmão. “Só descobri que éramos duas pessoas separadas depois de bem grandinha”, diz ela. Renata fala do irmão com emoção e admiração. Os dois se parecem fisicamente e em temperamento. Têm ofícios parecidos (são administradores), moram em bairros próximos e dividem uma casa na praia com o resto da família. Cada um deles construiu muito bem a própria vida, mas houve separações dolorosas. “Casar foi um momento difícil”, diz Renata. Ela conta que sentia como se estivesse abandonando o irmão. “Sempre foi mais natural pensar nos dois do que apenas em mim.”
A história de Renata e Rodrigo sugere que as semelhanças e a conexão entre irmãos gêmeos não são apenas um tema de conversa fascinante. Elas colocam uma questão prática para os pais: como lidar com essas crianças que nascem conectadas e têm características que as distinguem das demais? Os gêmeos têm facilidade de comunicação não verbal entre si e não raro se sentem inseparáveis. Ao criá-los, portanto, a questão é como organizar uma rotina que não torne impossível a vida dos pais e, ao mesmo tempo, garanta a cada um deles atenção exclusiva. Nos últimos anos, com o advento da fertilização in vitro e o crescimento do número de gêmeos, o número de pais com essas dúvidas se multiplicou. Nos Estados Unidos, onde as estatísticas são melhores, o número de gêmeos praticamente duplicou entre 1980 e 2002.
Para esclarecer os cada vez mais numerosos pais de gêmeos, outra Renata, a pediatra Renata Dejtiar Waksman, do Departamento Materno-Infantil do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, recrutou colegas do hospital e organizou o livro Filhos gêmeos, recém-publicado pela Publifolha. Nele, esclarece questões comuns do desenvolvimento e da convivência de irmãos gêmeos, como as palavras que só eles entendem, a necessidade que eles têm de atenção exclusiva e o aprendizado precoce do ato de compartilhar. Uma das lições que o livro procura enfatizar é que, por mais fisicamente parecidos que os univitelinos possam ser, eles jamais serão iguais nem devem ser tratados como entidade única. “Não existem personalidades idênticas”, afirma Waksman.
Logo nos primeiros dias de vida dos bebês, as diferenças aparecem. Para não se perder com a rotina de mamadas, medicações, xixis e cocôs de Lucas e Gabriela, Carolina Manso Icassatti começou anotando tudo num caderno. Depois, o marido sugeriu pôr os dados numa planilha de Excel. “Outras pacientes da médica já estão copiando minha planilha”, diz Carolina.


Época

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