terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Pai é quem cria: o caso do menino Sean


Por Mario Guerreiro *

Nos últimos dias, a mídia tem noticiado e comentado o caso do menino Sean (pronuncia-se: Chan, como em Sean Connery). O que passarei a dizer neste artigo baseia-se nos relatos apresentados pela mídia e não em uma leitura dos autos, pedindo desde já minhas desculpas por qualquer falha quanto à verdadeira natureza da questão.
Segundo informações colhidas nos jornais escritos e televisivos, a história começou quando uma cidadã brasileira casou-se com um cidadão americano e foi morar nos Estados Unidos.
Não fui informado sobre os motivos que levaram à separação do casal, mas sim que ela veio para o Brasil trazendo Sean, então com alguns meses de vida. Tendo se divorciado do americano, ela se casou com um brasileiro com o qual teve uma filha. No entanto, a mãe morreu no parto.
Não sei se o pai biológico de Sean havia entrado na Justiça com um pedido da guarda do menino, mas, se entrou, esse pedido foi recusado. Sean já está vivendo a uns cinco ou seis anos com uma família constituída por seu padrasto, sua madrasta e sua irmã por parte de mãe.
Não sei se sua mãe, antes de falecer, pediu a nacionalidade brasileira para ele. Mas o fato é que ele estuda numa escola brasileira, foi alfabetizado em português ou teve uma alfabetização bilíngüe. Para todos os efeitos, de americano ele somente tem a herança genética paterna.
No entanto, seu pai biológico entrou com um pedido na Justiça reivindicando a guarda de Sean. À primeira vista, parece razoável, uma vez que com a morte da mãe, ele, o pai biológico, é o parente mais próximo do menino e é compreensível que queira cuidar de seu filho, como é esperado de um pai.
Ocorre que, passados cinco ou seis anos, Sean já está adaptado à sua família, principalmente à sua meia-irmã, e seria para ele algo extremamente traumático - podendo ter repercussões negativas para o resto da via - ser separado de seu padrasto e sua madrasta que, embora não sejam seus pais biológicos, são as pessoas que o criaram e que ele reconhece como pais verdadeiros.
No entanto, o caso Sean subiu ao Supremo, que terá de decidir se a guarda do menino permanece com seus pais de criação ou se ele será devolvido ao seu pai biológico. Tertium non datur.
Ambas as partes envolvidas nesse caso terão de aceitar,obviamente, a decisão do Supremo. Mas posso perfeitamente dar meu ponto de vista sobre a questão, independentemente da decisão a ser tomada pela referida Corte em última instância.
Penso que em casos dessa natureza tem-se que levar seriamente em consideração e colocar mesmo como prioritária uma resposta dada à seguinte pergunta: O que é melhor para a criança, ou seja: o que produzirá melhor resultado para sua formação como indivíduo humano?
Deixá-lo continuar vivendo com sua família brasileira, a única conhecida por ele - uma vez que veio para o Brasil com meses de idade - ou enviá-lo ao seu pai biológico, tendo que deixar seus vínculos afetivos e familiares no Brasil e partir para um país desconhecido, separado de sua meia-irmã, ser privado do convívio de seus amiguinhos e coleguinhas, para viver com um pai pouco conhecido por ele?
Acredito que qualquer pessoa dotada de bom senso, ao se colocar no lugar do menino Sean, decidirá que é melhor para ele ficar com sua família brasileira. E espero, sincera e ansiosamente, que o Supremo acolherá esse ponto de vista.

*Mario Guerreiro
Mario Antonio de Lacerda Guerreiro é doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC [Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos]. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica.

Fonte: Jus Vigilantibus

6 comentários:

  1. Um equívoco em seu texto.
    O menino viveu com o pai até 4 anos de idade e não com alguns meses.
    Favor corrigir.
    Todo direito de opinar temos, mas baseados em fatos corretos.

    ResponderExcluir
  2. Verdade, pai é quem cria quando deixam que ele crie.
    Acho que a Alienação Parental ainda não chegou ao alcance de todos , depois de ler isso aqui.

    ResponderExcluir
  3. É inacreditável um Doutor em filosofia e com um currículo extenso como o dele, baseado apenas na mídia, fale tanta coisa absurda.
    Pessoas como ele é que influenciam a massa a desrespeitar as leis. O pequeno Sean foi tirado do seu país e do seu pai “verdadeiro” que o viu nascer e que o criou até aos quatro anos. Isso não conta? E a Convenção de Haia que foi desrespeitada? Nada disso teria acontecido se desde o início houvesse respeito e conscientização das leis.

    ResponderExcluir
  4. O Direito nunca pode se sobrepor a justiça.A vontade da criança é que deve ser respeitada,O menino deveria ter sido ouvido no processo.

    ResponderExcluir
  5. Como ele iria criar se fugiram com a criança?
    O menino ser ouvido depois desses anos todos e a mais recente lavagem cerebral, não seria correto.

    ResponderExcluir
  6. o joão lins e silva casou com a mãe da bruna e a vovo virou madrasta é isso que o senhor está falando??? tantas besteiras baseadas em nada...
    a partir de agora vou começar a duvidar de doutores em filosofia...

    ResponderExcluir

Verbratec© Desktop.