sábado, 2 de janeiro de 2010

Conceito prévio


Engana-se quem acredita que o preconceito é cultivado somente em países miseráveis e sem educação, pois no tal primeiro mundo também há preconceito. Qualquer preconceito é desfavorável à civilização e o problema está com o preconceituoso e não com o que sofre a discriminação, daí dever ser tratado aquele como sintoma. A homofobia é exercida num sintoma em que o sujeito denuncia seu "ódio de si"; os homossexuais e as lésbicas existem e são realidade social e sujeitos de obrigações e de direitos e a sociedade deve respeitá-los, mas estes quase sempre também têm preconceito do sexo oposto. Os sujeitos de cor escura ou negra devem se orgulhar de assim ser, pois os preconceituosos raciais é que estão enfermos e não querem enxergar as boas qualidades que há nos negros.
A segregação racial, ou apartheid, na África do Sul, existe ainda hoje, pois há entre os negros também algum tipo de preconceito de cor, ou seja, a questão é mais complexa do que se imagina, seja lá o que se imagina.
Nos Estados Unidos há segregação racial e os negros são vergonhosamente discriminados, mostrando que o título de primeiro mundo não conseguiu ultrapassar a fronteira do preconceito.
Na França, país das liberdades e da igualdade, em tese, é possível ver e ouvir discriminações entre os seus patrícios e estrangeiros que ali buscam explicitar as suas limitações impedidas nas suas pátrias.
Na Alemanha pós-Hitler, há áreas proibidas para negros conhecidas como "no go area" dominadas impunemente por neonazistas.
Há discursos anti-semitas disfarçados de "intelectuais" entre notáveis e a xenofobia é praticamente existente em todos os países, pois se tomam as culturas nacionalistas exageradas - chauvinismo - e defendem e acreditam que somente seu país é bom e o seu povo puro. O preconceito está dentro do sujeito e não fora e deve ser tratado como sintoma maléfico à civilização.
Não há qualquer prova ou indicio de que a cor da pele, a religião ou a opção sexual influencie na formação do caráter e da personalidade do sujeito e, lamentavelmente, chegamos ao século XXI ainda convivendo com os preconceitos.


LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO
Psicanalista

Diário do Nordeste

Um comentário:

  1. Ótimo texto. Todos, de uma forma ou de outra, temos algum tipo de preconceito.

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