sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Médicos irão ao Suriname socorrer estupradas


BRASÍLIA. A Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres enviará ao Suriname, segunda-feira, uma equipe especializada para atender as brasileiras vítimas de estupro. A intenção é garantir às mulheres agredidas no dia 24, na cidade de Albina, o mesmo tratamento previsto para esses casos no Brasil. Entre as estupradas há três grávidas. (Leia também: Avião da FAB resgata brasileiros no Suriname)
- Há urgência em mandar a nossa equipe, com psicóloga, assistentes sociais e um médico especialista em violência sexual. Precisamos saber o que está sendo feito. No Brasil, seguimos um protocolo técnico de profilaxia de HIV e para evitar a contracepção. Se não puder ser feito lá, podemos trazer as mulheres ao Brasil - disse Clarissa Carvalho, da Secretaria de Mulheres. (Veja também: Brasileiros ainda temem ataques no Suriname)
Na noite de quarta-feira, um voo da FAB trouxe mais 31 brasileiros para Belém, inclusive três homens que estavam internados em Paramaribo, todos vítimas de ataques em Albina. Os três foram levados ao Hospital Ordem Terceira, em Belém. Entre os 31 brasileiros repatriados, nove são mulheres. Clarissa foi a Paramaribo acompanhar a situação, mas não recebeu informações do governo surinamês. (Saiba mais: Imigração ilegal originou ataques, diz antropólogo americano)
- A esta altura tínhamos que ter mais informações concretas. Não conseguimos muito quando estivemos lá - disse Clarissa.
Segundo ela, muitas vezes o estado de choque de vítimas de estupro impede que elas consigam até relatar o incidente ou até mesmo tomar decisões simples. Para o padre José Vergílio, que acompanha o atendimento médico às mulheres atacadas, o envio da equipe brasileira será "um presente de ano novo".
- Elas estão um pouco mais calmas, mas é muito difícil neutralizar o trauma. Uma das grávidas, com a gestação avançada, ficou quase cinco dias sem falar. Ela ia voltar para o Brasil, mas desistiu. Outra, que é casada, recebe apoio do marido, mas ele também precisa de atendimento psicológico - disse o padre.
Entre os brasileiros que chegaram anteontem à noite a Belém está Martim Carvalho Brito, de 41 anos, que trabalhava no garimpo há seis meses.
- O alojamento em que eu estava fica em cima de um rio. Fiquei embaixo do assoalho, na água, só com a cabeça de fora por mais de duas horas. Ouvia muitos gritos, pensei que ia morrer - relatou ele.
O goiano Vilmar Pereira, de 49 anos, que trabalha como construtor em Albina desde 2005, disse ter recebido golpes de garrafas e madeira na cabeça:
- Fui ao Suriname procurar um futuro melhor, mas estou voltando sem nada. Perdi todo o dinheiro que tinha. Fiquei só com a roupa do corpo.
Outros brasileiros decidiram não retornar ao Brasil, na esperança de recomeçar a vida no Suriname, onde podem ganhar mais dinheiro no garimpo.
- Parece que já estava tudo programado contra os brasileiros. Os ataques foram violentos. Senti muito medo de morrer e acho que sobrevivi porque mergulhei no rio e depois me embrenhei num matagal - disse o maranhense Wilton Rocha, de 39 anos, que ficou no Suriname.
No desembarque, em Belém, muitos passageiros foram abordados por pessoas em busca de informações sobre parentes que permanecem no país vizinho.

Leila Suwwan
Globo

Leia também: Brasileira narra estupro e vontade de ficar no Suriname
Folha de S. Paulo

Suriname: cinco sobreviventes chegam a Belém
Diário do Pará

Foto: (Ed Ferreira/AE) Governo brasileiro buscou no Suriname grupo de 32 brasileiros, alguns deles feridos

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Verbratec© Desktop.