segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

ANO NOVO, NOVAS TRAGÉDIAS E OS MESMOS CULPADOS.


É difícil recomeçar, após o recesso das festas, escrevendo sobre a morte de tantas pessoas. Ricos, pobres, empresários abastados ou humildes pescadores; todos foram igualmente vítimas das mesmas mazelas e dos mesmos culpados de sempre.
Mas, antes de falar dos culpados, vamos falar do grande inocente injustiçado nessa história trágica. Um homem que teve seu nome e sua imagem arrastados na lama (literalmente) e que foi apontado como o único responsável por toda a tragédia de Angra dos Reis e nas demais cidades brasileiras: São Pedro.
Sim. São Pedro foi acusado por dez entre dez políticos de ser o culpado pelas mortes, prejuízos financeiros e pelas tragédias que se repetem todos os anos como um relógio macabro. Mas, a bem da verdade, ele é o único inocente em toda essa lama sórdida. A chuva ou o excesso dela são fenômenos recorrentes no verão e já viraram até letra de música famosa (mais de uma vez).
Enchentes, deslizamentos e morte são apenas fruto da incompetência, do desgoverno, do populismo e do descaso com o qual políticos pouco preocupados com a real melhoria de vida da população tratam as cidades, os estados e o próprio país que governam. Afinal de contas, não é São Pedro que deixa de dragar os rios, que permite a ocupação de encostas ou o uso desordenado do solo, não é São Pedro que distribui títulos de propriedades em áreas invadidas que deveriam ser desocupadas e; muito menos é São Pedro que não oferece políticas habitacionais, planejamento familiar e controle de encostas.
A falta de políticas públicas para fornecer moradia digna; educação sexual; controle de natalidade e opções baratas para as pessoas de baixa renda construírem suas casas com os devidos cuidados é mascarada pelos agrados, bolsas “cala-a-boca” e títulos de propriedade que, na realidade, servem apenas para legalizar a ilegalidade e perpetuar o risco de vida de populações inteiras. O mesmo se aplica às autorizações para construção de pousadas e casas luxuosas sob barrancos ou sobre encostas.
É lindo subir uma encosta povoada e, numa enorme festa, distribuir títulos de propriedade para as massas. O político vira logo “amigo dos pobres”, “homem do povo” e alguém que “se preocupa” com os desfavorecidos. Quando a enxurrada leva as casas e as vidas; São Pedro, entra em cena e leva toda a culpa, diante do discurso ensaiado por gerações de caras-de-pau que sempre usam as mesmas sentenças embutidas nele e acrescentam algumas variações de momento: “(…) por isso; faremos o possível e o impossível para (…)” .
O mais triste é que o Brasil possui completo “know-how”, equipamentos de ponta e pessoal altamente especializado para monitorar e fornecer alarme antecipado de todos os sinistros que possam ocorrer em relação aos deslizamentos de morros e encostas. O detalhe é que políticos se recusam a instalar os equipamentos e a gerir as encostas como se deve porque, assim como o esgoto, essas são obras (e gastos) que não aparecem para o eleitor. Logo, “injustificáveis”.
É muito mais fácil subir a favela ou ir a uma comunidade carente distribuindo computadores, títulos de propriedade e anunciando “bolsas disso ou daquilo” do que instalar equipamentos que impedirão o desperdício de vidas. Para eles (e suas assessorias) a verdade é uma só: vidas, se perdidas, serão repostas rapidamente pela fertilidade das adolescentes fogosas e mulheres abandonadas e carentes de quaisquer políticas sérias de controle de natalidade ou educação sexual. Mas, os recursos investidos e o quase nenhum bônus político assegurado por uma obra invisível, jamais serão recuperados com vistas a uma eleição. Assim, para o populista “amigo do povo”. Mais vale um bom desastre com muitos barracos rolando e vidas perdidas, do que um técnico capaz de impedir o acontecimento ou a obediência às leis de ocupação do solo tão impopulares.
Pois, com o desastre, ele pode ir ao local; sobrevoar com seu helicóptero reluzente ou passear de barco mostrando “que está presente”. Se tiver sorte, poderá abraçar parentes enlutados e aparecer na TV prometendo que aquilo “nunca mais acontecerá” ou que “está dando todo apoio e empenhando recursos”. No fim, é só contabilizar como foram marcantes a sua fala e a sua presença no local da tragédia e, numa reunião regada a muita comida e bebida fina; ser lembrado que isso jamais aconteceria se ela (a tragédia) tivesse sido evitada.
Por isso, não se engane com a fala mansa, solidária e cruelmente falsa desses espertalhões. Se eles nunca fizeram nada ou sempre te enganam com “bolsas-esmolas” ou cestas básicas; pense direito e dê o troco este ano.
Num país onde o governo alega ter conseguido afastar a miséria e melhorar a vida do povo, não é concebível que mais de 50% dos cidadãos sequer escovem os dentes, tenham esgoto tratado, água encanada e, muito menos ainda, que precisem viver empoleirados sobre o fio do ceifador para conseguir um lar para eles e suas famílias perdendo a vida em tragédias facilmente evitáveis.

Pense nisso.

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BLOG VISÃO PANORÂMICA

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