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sábado, 9 de janeiro de 2010
Grande aposta dos aeroportos internacionais, o escâner corporal é eficiente, mas polêmico
Por expor perfeitamente os contornos do corpo, teme-se que as imagens sejam usadas para fins criminais, como a pedofilia
A preocupação com a segurança nos aeroportos de todo o mundo, latente desde os atentados de 11 de setembro de 2001(1), aumentou ainda mais com a tentativa frustrada do nigeriano Umar Faruk Abdulmutallab de explodir um avião da Northwest Airlines, entre a Holanda e os Estados Unidos. A necessidade de intensificar medidas para evitar atos terroristas levou governantes de países considerados alvos prováveis a determinar a instalação de escâneres corporais de última geração, utilizados para localizar explosivos, armas, fios e drogas. A instalação do equipamento, no entanto, tem causado polêmica.
O aparelho reproduz imagens em três dimensões, através das roupas, de todo o corpo do passageiro (veja infografia). O jornal inglês The Guardian chegou a afirmar que o escaneamento é tão realista que sugere uma “revista virtual sem as vestes”. Por isso, há o receio de que surjam problemas envolvendo pornografia infantil, além da divulgação dessas imagens, principalmente de celebridades, na internet. Enquanto o debate acalorado sobre quem deve ser submetido ao escâner corporal continua, o órgão americano responsável pela segurança dos transportes encomendou mais 150 unidades (atualmente, 19 estão em atividade no país), que serão instaladas ainda neste ano.
Para Jorge Rady, professor da Escola Politécnica de Universidade de São Paulo e especialista em sistemas digitais, o escâner é muito eficiente, apesar de polêmico. De acordo com ele, mesmo que detetores de metais sejam usados em uma revista apurada, o sistema é passível de falhas. “Não vejo outra tecnologia disponível melhor que o escâner corporal, porque os outros sistemas podem ser burlados mais facilmente. Ter o corpo escaneado, porém, não é confortável e, na minha opinião, viola os direitos do passageiro”, diz Rady. “Você vai ao aeroporto e, basicamente, é obrigado a passar por um exame médico”, compara.
A coordenadora do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal (Cedeca), Perla Ribeiro, acredita que, se menores precisam de documentação e cuidados especiais para embarcarem, um procedimento diferenciado também deveria ser adotado na hora da revista. “É preciso manter a preocupação com a integridade física de crianças e adolescentes. Se esse tipo de revista é constrangedor para adultos, é muito pior para crianças. É óbvio que o escâner corporal, quando usado em crianças e adolescentes, pode trazer grandes problemas, por mais que sejam operados por autoridades. Não há dúvidas de que um limite precisa ser imposto para resguardar o bem-estar de todos”, ressalta.
Outras opções
Em meio ao turbilhão de suspeitas de novos ataques terroristas, as empresas de segurança mantêm extremamente ativos os processos de desenvolvimento de novos equipamentos. O detetor de metais, um dos recursos mais populares nos aeroportos, funciona em um portal com campo eletromagnético que, quando entra em contato com objetos metálicos, emite um alerta. Essa ferramenta também é encontrada em estruturas menores, para ser manuseada por funcionários em revistas mais apuradas. A desvantagem do equipamento é que qualquer outro objeto não metálico passa despercebido e, portanto, diferentes tipos de armas podem ser transportadas até as aeronaves.
Outro equipamento de segurança encontrado em aeroportos como os de Nova York e São Francosco, ambos nos Estados Unidos, é o detetor de partículas. Nesse caso, os passageiros são encaminhados até um corredor, onde as paredes estão equipadas com potentes jatos de ar. O sistema é acionado, com o intuito de que micropartículas presas ao corpo e às roupas da pessoas desprendam-se e entrem em contato com eletrodos do detetor. A máquina é previamente programada para identificar uma lista de substâncias proibidas. Quando resíduos de explosivos ou drogas, por exemplo, são descobertos, um alarme é imediatamente disparado, e o passageiro segue para uma revista mais rigorosa. Os detetores de partículas, todavia, não conseguem identificar armas brancas.
As opções para garantir a segurança nos aviões não se restringem às máquinas. Os cães farejadores são muito usados pela precisão na hora de encontrar objetos ilícitos. Com 240 milhões de células olfativas, ou seja, 20 vezes a quantidade média em humanos, os cachorros conseguem localizar possíveis ameaças aos passageiros. Mas o tempo de treinamento necessário para que os animais atinjam alto nível de acerto é longo. O custo também. Além disso, cães farejadores precisam de preparação para cada uma das substâncias pretendidas, o que torna o uso desse artifício de segurança ainda mais complexo.
“Qualquer que seja a opção escolhida para garantir a segurança nos aeroportos, ela sempre estará sujeita a falhas. Não existe um sistema ideal. Então, a maneira mais eficaz para evitar ataques terroristas é a combinação de todos os recursos disponíveis”, opina o especialista Jorge Rady. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, convocou, na terça-feira, uma reunião com a equipe de segurança do país e cobrou rapidez na reforma da estratégia de segurança aeroviária. Pelo rumo das negociações, todas as tecnologias existentes no mercado devem ser levadas em consideração, e a frequência do uso desses aparelhos pode aumentar nos próximos meses.
Divisor de águas
O pior atentado terrorista da história deixou quase 3 mil mortos nos Estados Unidos. Na manhã de 11 de setembro, criminosos sequestraram quatro aviões comerciais: dois foram jogados contra as torres do World Trade Center; um contra o Pentágono e o último caiu em uma área rural no estado da Pensilvânia.
Igor Silveira
Correio Braziliense
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