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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
“Quem bate pra ensinar, ensina a bater”
Prática de palmadas vem sendo combatida por especialistas em educação por acreditar que os resultados são mais negativos do que positivos.
A discussão em torno dos castigos físicos aplicados em crianças e adolescentes tem crescido muito nos últimos anos devido ao aumento dos casos de agressão que atingem famílias em todo o mundo. Este ano foi lançada mundialmente a campanha pelo fim dos castigos físicos em crianças e adolescentes do mundo inteiro, que tem como tema “Quem bate pra ensinar, ensina a bater”. A campanha tem por objetivo a diminuição da incidência de agressões.
O mundo vem tomando consciência do tema, com aplicação de leis que proíbem tapas, palmadas e beliscões em 24 países do mundo. No Brasil, a inclusão do tema tem sido feita por Organizações Não-governamentais (ONG´s), com o apoio do Unicef – Fundo das Nações Unidas pela Infância.
Mas, o fim dos castigos ‘educativos’ para uns e ‘agressivos’ para outros ainda está longe de ter uma solução. Enquanto uns defendem o fim das palmadas, outros dizem que antigamente, quando os pais eram mais rígidos, as crianças tinham mais limites. O que vem sendo mais praticado hoje e o que os profissionais recomendam?
A psicóloga Cibelle Bandeira, especialista em psicologia infantil acredita que os resultados dos castigos físicos para as crianças sempre são negativos. “O trauma que as crianças adquirem com a frequência das agressões por motivo banal devem ser combatidos. O ‘bater’ não vale a pena porque além de ser punitivo não é educativo e deve ser substituído por exemplos positivos”, destaca Cibelle.
A opinião da psicóloga é formada por exemplos da prática no atendimento a crianças que sofrem agressão e que se tornam agressivas. “Agredir não á a solução e por mais que a criança seja muito pequena, os responsáveis têm que mostrar exemplos positivos porque a criança é o reflexo do ambiente que convive dentro de casa. Ela vai crescer e reproduzir esse castigo físico: se os pais falam alto, provavelmente, a criança irá falar também”, afirma Cibelle.
Do outro lado da história, os pais dizem que as crianças ‘pimentinhas’ têm que sofrer alguma sanção para serem educadas. “Uma palmadinha não faz mal a ninguém”, conta um pai que não quis se identificar. Ele diz que seu filho faz escândalos em supermercados e shoppings e que ele precisa de um castigo físico para parar o que considera um ’show’.
Sobre o assunto, a psicóloga Cibelle responde que o caso é muito comum, mas que deve ser substituído pelo diálogo. “Os pais devem conversar de igual para igual com as crianças. Se o filho está dando trabalho em algum lugar, o responsável deve parar, conversar na altura da criança – olho no olho – para que ela se sinta importante e no mesmo nível dos pais”, descreve.
Para a psicóloga, a agressão tem resultados no desenvolvimento de traumas, medos e a criança pode até adotar uma postura de timidez e de repressão na convivência social. “As crianças que são agredidas pelos pais geralmente são mais tristes e têm prejuízos no relacionamento, evitando conversas com outras crianças e desenvolvendo medos de agir”, conta Cibelle.
Ela diz que a solução é usar firmeza na voz – sem autoritarismo – e tentar explicar porque a criança não deve fazer aquilo. “A voz firme é sempre um bom aliado na educação das crianças. O fato de falar com firmeza impõe limites a ações feitas pela criança e que será repetida mesmo na ausência dos pais”, relata a especialista.
Para as crianças mais agitadas, Cibelle aconselha aos pais encaminhar os filhos para a prática de esportes e de atividades em grupo. “O esporte é interessante para qualquer criança, das mais agitadas às mais quietas. A interação libera a energia para atividades e garante mais segurança às atitudes das crianças e evita exageros na hora dos passeios e até nas atividades de casa”, aponta a psicóloga.
A prática de bater nos filhos para educá-los vem sendo duramente criticada por ser considerada por uma parcela da sociedade como humilhante e ainda por ferir os princípios humanos do Brasil, ao violar os direitos de vida de cada um.
No final dos anos 90, foi elaborada a Carta Magna da ONU, oficializada como lei internacional e ratificada por 192 países que reconheceram a autonomia da criança para assumir pessoalmente o exercício de seus direitos, observando sua maturidade e não excluindo seu direito à proteção e ao apoio por parte do Estado ao seu desenvolvimento físico, moral e intelectual. Nos outros 170 países o castigo físico ainda é uma prática completamente legal.
Em 2004, o Comitê dos Direitos da Criança incluiu o castigo físico contra crianças e adolescentes dentre suas principais áreas de preocupação. O Comitê expressa sua preocupação com o fato de a punição corporal ser largamente praticada e que nenhuma legislação explícita no Brasil proíbe tal prática.
Segundo determinação do Comitê, os paises devem proibir explicitamente a punição corporal na família, na escola e nas instituições penais, além de promover campanhas educativas para educar os responsáveis sobre alternativas de disciplina. Este ano, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos apresentou o relatório “Castigo Físico e Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes”, recomendando que nos estados-membros da OEA, o uso do castigo físico como método de disciplina de crianças e adolescentes seja proibido.
Para os pais que ainda praticam o castigo físico como ferramenta na educação dos filhos é importante que usem o bom senso já que as palmadas poderão ser punidas moral e juridicamente.
Escrito por Jarbas Rocha em dezembro 27th, 2009
Fonte: Nominuto
Foto: marcelo Cadihe Cavalcanti - Olhares.com
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