Rio - O novo depoimento de Ana Paula Silva Magalhães revelou detalhes assombrosos das sessões de tortura sofridas pela irmã gêmea dela, Suzana Magalhães, morta pela mãe e pelo tio na semana passada. O relato, feito quarta-feira à noite, chocou os policiais da 25ª DP (Engenho Novo). Ana Paula contou que a irmã apanhava constantemente da mãe, Maria Glória Silva Magalhães, e que levava pauladas e era apedrejada pelo tio, Sílvio da Costa Silva. Ontem, os acusados foram submetidos a acareação.
“Tenho 20 anos de profissão e nunca vi um caso tão bárbaro. E a frieza deles impressiona ainda mais”, disse a delegada Adriana Belém. Ana Paula afirma que também era agredida e que nunca revelou as brutalidades porque tinha medo.
Segundo ela, a tortura começou por ordem da entidade Ciganinha, que Vera Regina da Rocha César, mulher de Sílvio, incorporava. A alegação era de que Suzana iria “desgraçar” a família com a revelação de que era violentada pelo tio.
A gêmea contou que Suzana era obrigada a passar o dia sentada em um banco ou de pé, contra a parede. Quando a jovem adormecia, Sílvio jogava pedras contra ela. A moça só podia beber água com hora marcada, tinha que usar luvas, meias e touca e fazia todas as tarefas domésticas. Também era proibida de ir ao banheiro — urina e fezes eram despejadas numa garrafa plástica. Muitas vezes, no entanto, nem esse objeto podia utilizar. Ainda segundo Ana Paula, Suzana era violentada pelo tio quando a mulher dele saía de casa.
O pai das gêmeas disse ontem que Ana Paula começou tratamento psicológico e que ainda está abalada. “ Temo que ela entre em um trauma profundo se a mãe sair da prisão”.
Detalhes da sentença de morte e do dia do crime
O relato de Ana Paula revelou que a sentença de morte da irmã foi decretada em 3 de abril, após ritual. Na tarde do dia 27, a mãe contou como seria o crime: Sílvio daria 30 comprimidos de calmante, cinco de remédio para diabete, vinho e cocaína. Ana Paula disse que, ao sair para a escola, viu Sílvio entrar na casa.
Horas mais tarde, Ana Paula teve que ir para a casa de Vera, onde também estava a mãe. Como Sílvio estava demorando, Glória foi encontrá-lo e, na volta, confirmou a morte de Suzana. Em ritual naquela noite, o tio contou que a jovem não morreu ao ingerir o coquetel dado por ele. Por isso, Sílvio teria asfixiado a moça.
Pela primeira vez após a prisão, os três acusados se encontraram ontem. Vera não falou. Glória negou os maus-tratos e voltou a dizer que Suzana se drogava. Ela reafirmou que, numa briga, empurrou a filha, que bateu a cabeça na parede. Sílvio admitiu participar de rituais, mas negou o crime. Advogado de Glória, Gelson Ortiz vai alegar legítima defesa: “A filha agredia a mãe”.
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