Uma das moças pediu ajuda depois de assistir a um programa exibido na semana passada pelo "Fantástico", que mostrou a tentativa de uma mãe de vender a filha por R$ 500. A jovem foi encontrada pelos agentes da Polícia Federal ainda muito assustada e chorando. Se a polícia não tivesse chegado, ela teria de pagar R$ 1,5 mil para conseguir a liberdade de volta. A origem da dívida estava ali mesmo, dentro da casa de prostituição. A garota foi aliciada na cidade em que vivia, a mais de 2 mil quilômetros de Bento Gonçalves.
- Não quero mais essa vida para mim - disse a menina.
O que também chamou a atenção dos agentes foi uma espécie de loja que fica atrás da boate, com maquiagem, perfume e roupas - produtos que seriam vendidos apenas para as garotas de programa. A lojinha tem preços altos. Uma calça, por exemplo, custa R$ 219; uma sandália, R$ 320; e um casaco, R$ 350.
Cadernos encontrados na boate revelam que, mesmo fazendo vários programas por noite, as garotas recebiam pouco. A maior parte do dinheiro era para abater as dívidas. Só de uma jovem, os donos queriam receber R$ 10 mil.
- Eu fiz um acordo para pagar por mês R$ 200 ou R$ 300 - estima a jovem.
O delegado da Polícia Federal Noerci da Silva Melo diz que é muito difícil que as garotas consigam quitar as suas dívidas.
- Essa divida é impagável. Por isso, elas acabam vivendo uma situação de escravidão - afirma.
O dono da boate e a mulher dele já tinham sido presos em 2005, acusados de tráfico de pessoas e de manter mulheres em condições de escravidão. Foram absolvidos em primeira instância, mas o Ministério Público recorreu. O dono da boate, Roque Milani, diz que mantém o negócio há oito anos.
Repórter: Quanto tempo você mantém esse negócio?
Roque Milani, dono da boate: Oito anos.
Repórter: Você voltou a abrir a boate por quê?
Roque Milani: Por quê? Vocês não fecharam a boate?
Quando achou que a câmera estivesse desligada, Roque Milani, que agora foi preso em flagrante, tentou se defender.
- Tem tanta gente errada nesse mundo aí. Se eu estou errado, me condene - diz.
As garotas de programa prestaram depoimento e receberam ajuda para voltar para casa. Para a polícia, o silêncio é a maior dificuldade para combater esse tipo de crime.
- Quem me garante que eu vou embora e eles não podem me procurar depois? - pergunta uma jovem.
A jovem que pediu socorro está no Programa de Proteção à Testemunha e foi levada para outro estado. O delegado da Polícia Federal diz que a esperança que se tem é de que essas pessoas sejam efetivamente punidas, como outras também que tentem praticar essas atividades ilícitas. A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), relatora da CPI contra a exploração sexual, diz que neste momento há reféns em vários lugares do Brasil, "dentro de casas de prostituição, de massagem ou em vários lugares", afirma.
O Globo On Line
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