segunda-feira, 8 de junho de 2009

Garotas são mantidas como escravas sexuais em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul

SÃO PAULO - Uma casa de prostituição em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, mantinha 16 garotas em regime de escravidão. Elas foram encontradas em condições subumanas pela Polícia Federal na última sexta-feira. Além dos quartos para programas sexuais, os donos mantinham nos fundos da boate, na Rodovia 453, um alojamento formado por pequenos dormitórios e uma pequena loja para a compra de produtos pessoais das garotas.
Uma das moças pediu ajuda depois de assistir a um programa exibido na semana passada pelo "Fantástico", que mostrou a tentativa de uma mãe de vender a filha por R$ 500. A jovem foi encontrada pelos agentes da Polícia Federal ainda muito assustada e chorando. Se a polícia não tivesse chegado, ela teria de pagar R$ 1,5 mil para conseguir a liberdade de volta. A origem da dívida estava ali mesmo, dentro da casa de prostituição. A garota foi aliciada na cidade em que vivia, a mais de 2 mil quilômetros de Bento Gonçalves.
- Não quero mais essa vida para mim - disse a menina.
O que também chamou a atenção dos agentes foi uma espécie de loja que fica atrás da boate, com maquiagem, perfume e roupas - produtos que seriam vendidos apenas para as garotas de programa. A lojinha tem preços altos. Uma calça, por exemplo, custa R$ 219; uma sandália, R$ 320; e um casaco, R$ 350.
Cadernos encontrados na boate revelam que, mesmo fazendo vários programas por noite, as garotas recebiam pouco. A maior parte do dinheiro era para abater as dívidas. Só de uma jovem, os donos queriam receber R$ 10 mil.
- Eu fiz um acordo para pagar por mês R$ 200 ou R$ 300 - estima a jovem.
O delegado da Polícia Federal Noerci da Silva Melo diz que é muito difícil que as garotas consigam quitar as suas dívidas.
- Essa divida é impagável. Por isso, elas acabam vivendo uma situação de escravidão - afirma.
O dono da boate e a mulher dele já tinham sido presos em 2005, acusados de tráfico de pessoas e de manter mulheres em condições de escravidão. Foram absolvidos em primeira instância, mas o Ministério Público recorreu. O dono da boate, Roque Milani, diz que mantém o negócio há oito anos.
Repórter: Quanto tempo você mantém esse negócio?
Roque Milani, dono da boate: Oito anos.
Repórter: Você voltou a abrir a boate por quê?
Roque Milani: Por quê? Vocês não fecharam a boate?
Quando achou que a câmera estivesse desligada, Roque Milani, que agora foi preso em flagrante, tentou se defender.
- Tem tanta gente errada nesse mundo aí. Se eu estou errado, me condene - diz.
As garotas de programa prestaram depoimento e receberam ajuda para voltar para casa. Para a polícia, o silêncio é a maior dificuldade para combater esse tipo de crime.
- Quem me garante que eu vou embora e eles não podem me procurar depois? - pergunta uma jovem.
A jovem que pediu socorro está no Programa de Proteção à Testemunha e foi levada para outro estado. O delegado da Polícia Federal diz que a esperança que se tem é de que essas pessoas sejam efetivamente punidas, como outras também que tentem praticar essas atividades ilícitas. A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), relatora da CPI contra a exploração sexual, diz que neste momento há reféns em vários lugares do Brasil, "dentro de casas de prostituição, de massagem ou em vários lugares", afirma.



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