Rosely Sayão*
Uma jovem mulher encaminhou uma longa mensagem em que conta suas desventuras nos relacionamentos amorosos. Depois de narrar todas as suas decepções, ela diz que não mais considera possível um relacionamento duradouro e com base em afetos e compromisso nos tempos atuais. E mais: ela tem a opinião de que a educação que damos aos filhos tem boa parte de responsabilidade nessa questão.
Apesar de nossa leitora estar muito magoada e, por isso, dizer coisas pesadas, ela nos dá uma boa oportunidade para pensar. Será que ela tem alguma razão? Bem, essa é uma longa conversa, mas podemos começar a refletir a respeito de duas questões.
Temos, cada vez mais, feito tudo – ou quase tudo – para que nossos filhos não sofram, não é verdade? Se eles passam contrariedades na escola, com os colegas ou com os professores, lá vamos nós tentar ajeitar a situação, interferir. Se eles apresentam dificuldades com o necessário esforço para o estudo e o aprendizado, ajudamos e até procuramos oferecer serviços especializados que facilitem seu trabalho.
Quando eles querem algo – e como eles sabem demonstrar bem o sofrimento em que se encontram por não ter o que querem – fazemos de tudo para oferecer o que querem, mesmo que isso nos provoque algum sacrifício.
Para evitar a todo custo que eles passem por sofrimento e frustração, evitamos que eles tenham contato com a morte: atualmente, criança quase não mais participa da cerimônia de despedida de nossos entes queridos. Quando perdem um animal de estimação, até tentamos substituí-lo sem que percebam para que não chorem a perda do bichinho.
Aí está: estamos acostumando os mais novos a uma vida que não é real. Sem sofrimento e dor, não é possível viver. E os relacionamentos amorosos, um tempo depois do início, passam necessariamente por períodos temporários de sofrimento e dor. Esse é um dos caminhos para o crescimento de um casal, não é?
É nesse momento que muitos relacionamentos se rompem e um dos motivos pode ser justamente a busca de uma vida sem contrariedades, sem conflitos, frustrações e dor. Talvez possamos – ou devamos mesmo – deixar os filhos passarem pelos sofrimentos inevitáveis da vida.
Outro ponto da educação que damos aos filhos que pode interferir bem mais tarde, na hora de experimentar o relacionamento amoroso, é o valor que damos ao presente, ao prazer instantâneo, ao consumo desenfreado de tudo. Vamos considerar uma coisa: quantos brinquedos nossos filhos têm? Eles precisam de tanta novidade, de tanta tranqueira tecnológica? Não só não precisam, como nem desfrutam de tudo o que têm.
Quem tem muito não tem nada porque muita coisa impede a dedicação a algumas delas. Assim é com os brinquedos, se vocês observarem bem as crianças: assim que ganham uma novidade ficam entusiasmados …. por alguns minutos. Logo querem e buscam outra novidade. Se pensarmos nos relacionamentos amorosos, faz sentido relacionar essa busca atual dos jovens e adultos por novas e fortes emoções com essa característica da educação atual, não faz?
Claro que não podemos colocar a educação como a única responsável por essa dificuldade atual de os relacionamentos amorosos serem mais duradouros, mas que colabora, colabora.
Nossa questão é: será possível educar os filhos escapando desses ideais socioculturais do nosso tempo?
Uma jovem mulher encaminhou uma longa mensagem em que conta suas desventuras nos relacionamentos amorosos. Depois de narrar todas as suas decepções, ela diz que não mais considera possível um relacionamento duradouro e com base em afetos e compromisso nos tempos atuais. E mais: ela tem a opinião de que a educação que damos aos filhos tem boa parte de responsabilidade nessa questão.
Apesar de nossa leitora estar muito magoada e, por isso, dizer coisas pesadas, ela nos dá uma boa oportunidade para pensar. Será que ela tem alguma razão? Bem, essa é uma longa conversa, mas podemos começar a refletir a respeito de duas questões.
Temos, cada vez mais, feito tudo – ou quase tudo – para que nossos filhos não sofram, não é verdade? Se eles passam contrariedades na escola, com os colegas ou com os professores, lá vamos nós tentar ajeitar a situação, interferir. Se eles apresentam dificuldades com o necessário esforço para o estudo e o aprendizado, ajudamos e até procuramos oferecer serviços especializados que facilitem seu trabalho.
Quando eles querem algo – e como eles sabem demonstrar bem o sofrimento em que se encontram por não ter o que querem – fazemos de tudo para oferecer o que querem, mesmo que isso nos provoque algum sacrifício.
Para evitar a todo custo que eles passem por sofrimento e frustração, evitamos que eles tenham contato com a morte: atualmente, criança quase não mais participa da cerimônia de despedida de nossos entes queridos. Quando perdem um animal de estimação, até tentamos substituí-lo sem que percebam para que não chorem a perda do bichinho.
Aí está: estamos acostumando os mais novos a uma vida que não é real. Sem sofrimento e dor, não é possível viver. E os relacionamentos amorosos, um tempo depois do início, passam necessariamente por períodos temporários de sofrimento e dor. Esse é um dos caminhos para o crescimento de um casal, não é?
É nesse momento que muitos relacionamentos se rompem e um dos motivos pode ser justamente a busca de uma vida sem contrariedades, sem conflitos, frustrações e dor. Talvez possamos – ou devamos mesmo – deixar os filhos passarem pelos sofrimentos inevitáveis da vida.
Outro ponto da educação que damos aos filhos que pode interferir bem mais tarde, na hora de experimentar o relacionamento amoroso, é o valor que damos ao presente, ao prazer instantâneo, ao consumo desenfreado de tudo. Vamos considerar uma coisa: quantos brinquedos nossos filhos têm? Eles precisam de tanta novidade, de tanta tranqueira tecnológica? Não só não precisam, como nem desfrutam de tudo o que têm.
Quem tem muito não tem nada porque muita coisa impede a dedicação a algumas delas. Assim é com os brinquedos, se vocês observarem bem as crianças: assim que ganham uma novidade ficam entusiasmados …. por alguns minutos. Logo querem e buscam outra novidade. Se pensarmos nos relacionamentos amorosos, faz sentido relacionar essa busca atual dos jovens e adultos por novas e fortes emoções com essa característica da educação atual, não faz?
Claro que não podemos colocar a educação como a única responsável por essa dificuldade atual de os relacionamentos amorosos serem mais duradouros, mas que colabora, colabora.
Nossa questão é: será possível educar os filhos escapando desses ideais socioculturais do nosso tempo?
*Rosely Sayão é psicóloga e consultora educacional, tem mais de 30 anos de experiência em clínica, supervisão e docência. Foi colunista dos jornais Folha de S.Paulo (caderno Folhateen) e Notícias Populares e, desde 2000, escreve para o caderno Equilíbrio, também da Folha. Autora de diversos livros, Rosely Sayão presta consultoria em empresas e escolas, dissertando sobre cidadania e sobre educação de crianças e de adolescentes.
Fonte: Blog da Rosely Sayão
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