No colo do médico e professor de genética Renato Zamora Flores, um cão vira-lata ajudava dezenas de crianças a superarem o trauma da violência. Fascinadas pelo animal, usado em um programa de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para ajudar na terapia, elas não viam a hora de reencontrá-lo nas consultas. No sábado, o cachorro foi morto, aparentemente, com uma paulada no Campus do Vale, no bairro Agronomia, na Capital.
– Ele era tão querido que o treinei para ajudar na terapia das crianças, uma técnica muito usada pela capacidade dos animais cativarem os pequenos. Elas não contavam o problema para mim, mas para o doutor Alegria. E ele ficava quietinho no meu colo, ouvindo por mais de uma hora – lembra Flores, o primeiro a receber a notícia.
Adotado há cerca de três anos, o animal era um dos personagens mais queridos do campus. Além de auxiliar os atendimentos do Projeto Proteger – Saúde e Comportamento Violento, era parceiro durante as aulas. Alegria acompanhava o professor e, segundo ele, conquistava as alunas. Era comum o cachorro terminar as aulas no colo de alguma moça, ganhando fama de paquerador.
Funcionários suspeitam que cães estão sendo exterminados
A maior parte do dia, Alegria ficava na sala do professor. À noite, eventualmente, dormia na rua. No começo da noite de sábado, um segurança da universidade ligou para ele dizendo que o cão havia morrido. Ao voltar ao campus, o professor encontrou o cachorro com a marca de um golpe na cabeça. Com isso, tornou-se o 10º animal morto no campus em dois meses, indicando a possibilidade de um ou mais exterminadores de cães.Os casos foram registrados na 15ª Delegacia da Polícia Civil, que encaminhou o caso para a Polícia Federal por se tratar de uma área da UFRGS.– Estamos preocupados com isso. Sempre existiram animais no campus, soltos, e isso dificulta um pouco descobrir como estão sendo mortos. Vamos instalar 39 câmeras para monitorar a área, uma medida que deverá ajudar a reprimir esses e outros crimes – diz o coordenador de segurança da UFRGS, Daniel Augusto Pereira.Estudantes e funcionários choraram a morte de Alegria. Após a veiculação da notícia no Jornal do Almoço, da RBS TV, Flores recebeu dezenas de telefonemas e mensagens eletrônicas de solidariedade.– As crianças perguntavam se ele era doutor de verdade. Eu dizia que sim, que era um cãozinho doutor para quem elas podiam contar tudo – lembra o professor Flores.
Zero Hora
Nenhum comentário:
Postar um comentário