sexta-feira, 5 de junho de 2009

Como escolhemos nossos parceiros?

Pesquisa conduzida por brasileira mostra que nos sentimos atraídos por parceiros com sistema imunológico diferente do nosso. A escolha, que está ligada a uma prole mais saudável, pode ser guiada pelo olfato

Um estudo brasileiro apresentado nesta semana na Sociedade Europeia de Genética Humana, em Viena, demonstrou que, inconscientemente, as pessoas tendem a escolher indivíduos que tenham uma constituição genética diferente da sua. Segundo o estudo, isso seria uma estratégia evolucionária para garantir uma prole mais saudável.
A pesquisa foi conduzida pela professora Maria da Graça Bicalho, do Departamento de Genética da Universidade do Paraná (UFPR), e comparou informações genéticas de 90 casais da vida real com dados de 152 pares formados ao acaso, que serviram como controle no estudo. A conclusão é de que os casais com vida em comum estável tinham mais divergências no chamado MHC, o complexo de histocompatibilidade, um conjunto de genes que tem importante função no sistema imunológico.
Essa diversidade de genes torna mais eficiente o sistema de defesa da prole contra doenças. A mistura de genes de casais com sistemas imunológicos diferentes entre si tem mais chances de gerar indivíduos heterozigotos, ou seja, que têm duas formas de manifestação dos genes ligados à defesa. "Do ponto de vista genético, é um indivíduo mais versátil, porque ele tem duas alternativas para exercer determinada função", afirma Maria da Graça. Em uma comparação bem simplificada, o heterozigoto, se tiver que escrever uma carta, vai fazê-lo com a mesma desenvoltura tanto em um laptop como em uma máquina de escrever. Já o homozigoto, aquele cujo genes se manifestam de maneira idêntica, se daria melhor em apenas um dos meios utilizados.
Isso quer dizer, então, que tendemos a achar atraentes as pessoas com sistema imunológico diverso do nosso? É o que mostram as evidências do estudo realizado pela professora Maria da Graça. Não se sabe exatamente, porém, como percebemos essas diferenças no sistema de defesa na hora de escolher um parceiro. As hipóteses mais prováveis sugerem que o reconhecimento pode ser feito pelo odor ou pela simetria da face.
A pesquisadora brasileira ressalta, porém, que a espécie humana é bastante complexa e que, obviamente, o sistema imunológico não é o único fator para a escolha de um parceiro. Outros componentes, como referências culturais e psicológicas, precisam ser levados em conta na avaliação das afinidades de um casal. De acordo com a professora, porém, todas as pistas que um indivíduo usa para escolha de um parceiro são processadas e agrupadas em um sistema único de avaliação que é gerado justamente na região do MHC. Em outras espécies animais, a influência dos genes dessa região é mais evidente - está comprovada desde o final dos anos 70 - e está ligada à capacidade olfativa.
Depois de analisar a relação entre o MHC e a compatibilidade dos casais, Maria da Graça Bicalho pretende ampliar e refinar a pesquisa em outros aspectos. Já se sabe, por exemplo, que mulheres que usam anticoncepcionais perdem a percepção de escolher indivíduos geneticamente diferentes, ou seja, ficam com a percepção distorcida em função da carga de hormônio que estão utilizando. Outro ponto citado pela professora é avaliar o significado do tipo de perfume que cada pessoa escolhe. Segundo ela, há evidências de que a pessoa opta por um tipo de fragrância na tentativa de restaurar a identidade olfativa perdida por questões culturais. "O MHC influencia a escolha do perfume. Além de nos conferir uma identidade, ele também nos dá também um odor típico e único", diz.

Danilo Casaletti


Época

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