Notícias tristemente comuns em nossa mídia, os maus tratos à infância, geralmente se referem aos abusos físicos e sexuais, agressões, abandono. Alguns casos, notadamente quando de requintada violência ou ocorridos no seio das classes média/alta, costumam ganhar destaque em noticiários, que esmiúçam todos os detalhes, com impensável sordidez.
Ainda hoje rende audiência a morte da menina Isabela Nardoni; Entretanto, quem lembra da pequena índia Guajajara Maria dos Anjos, de 6 anos, assassinada por dois grileiros, no Maranhão, na mesma época? De mesma idade, igual violência, ambas as meninas tiveram suas vidas interrompidas de maneira igualmente brusca e violenta. A diferença? A classe social de ambas, ora.
Poucos dias atrás a mídia fartou-se com informações a respeito de possíveis problemas da garota contratada pelo SBT, a pequena Maísa. De acordo com as notícias veiculadas, ela estaria com sérios problemas causados pela sobrecarga de trabalho. A ponto de a emissora ter sido condenada a pagar uma multa de um milhão de reais por descumprimento de determinações judiciais, como por exemplo, acompanhamento psicológico e redução da jornada da menina de sete anos.
A comoção causada pelo estresse da pequena apresentadora de TV e seu excesso de trabalho emocionou uma importante parcela da população. Certo que qualquer referência ao sofrimento infantil deve realmente comover e provocar reações em setores comprometidos com os direitos humanos. Mas e as outras Maísas, os Dionatans, as Suelens, os Pedros, os Gabriéis que anonimamente e sem nenhum glamour ajudam a movimentar a economia brasileira?
Segundo o IBGE, mais de 5 milhões de jovens entre 5 e 17 anos trabalham no Brasil. Este número segue crescendo (dados do Pnad 2005), pulando de 11,8% em 2004 para 12,2% em 2005. E certamente este número de crianças e adolescentes não tem seu trabalho fiscalizado, até porque o trabalho, no Brasil, só é permitido a partir dos 16 anos. Antes disto, dos 14 aos 16, existe a figura do aprendiz.
Tanto quanto a pobreza, o trabalho infantil tem cor no Brasil. Ainda segundo o IBGE 57,8% eram pardos e 37% brancos, e 5,2% negros. Cerca de 60% das crianças que trabalham estão na agropecuária, seguidos pelo comércio, com 12%, e 11% no setor se serviços. Estes são os dados oficiais. Aqui certamente não estão computados os trabalhos ilegais, de pequenos e invisíveis carvoeiros, ambulantes,prostitutas, ?aviões? do tráfico, crianças e jovens empregadas domésticas, todos eles privados de escola, de assistência e infância.
Estes milhões de pequenos brasileiros que trabalham desde os cinco, seis anos, abortam uma fase importantíssima na construção de sua personalidade. Segundo a mestranda em educação pela UFRGS Alessandra Bohm, o trabalho infantil é uma das maiores causas da evasão escolar. ?A criança que trabalha chega cansada á aula, independente de seu turno. Não tem tempo para as tarefas escolares. A relativa autonomia conquistada pelo pouco dinheiro recebido com seu trabalho traz junto o desinteresse pelo estudo. Crianças que trabalham, como possuem algum dinheiro, são também mais visadas por traficantes.?
Mesmo quando em condições relativamente salubres, o trabalho infantil interrompe o que deveria ser um ciclo de formação e construção da personalidade da criança/adolescente. O discurso arcaico, que dignifica o trabalho até a exaustão, e justifica o trabalho infantil como uma solução, na verdade é que deve ser visto e entendido como um problema. O velho moralismo ocidental cristão, que condena o lazer e o necessário ócio, que exige dos trabalhadores o máximo empenho. O capitalismo, que não respeita quem constrói sua riqueza, por que respeitaria suas crianças?
Certamente nos solidarizamos com as crianças que, como a pequena apresentadora do SBT foi submetida ao trabalho infantil desde os três anos de idade. Ela e centenas de outros pequenos trabalhadores do show business, condicionados a uma "vocação" artística desde bebês por quem lhes deveria educar e proteger. São pequenos atores, modelos, ginastas, cantores, realizando os sonhos e projetos de pais e mães, sujeitos a regras disciplinares, dietas e horários rígidos, submetidos a desafios e frustrações, com sua auto-estima em constante questionamento. lemárica é nossa mídia.
Problemática e insensível nossa mídia. Assim como a pequena índia assassinada não rende manchetes, o trabalho infantil dos anônimos só é notícia quando vinculado ao crime ou de forma sensasionalista. Da mesma forma, as agruras dos pequenos "famosos" raramente chegam às manchetes.
Sejam eles trabalhadores das emissoras de TV, fogueteiros do tráfico ou catadores de lixões, trabalho de criança é estudar, brincar e guardar seus brinquedos. Não será o trabalho das pequenas mãos que resolverá a fome do mundo, as mazelas do capitalismo nem as crises criadas pela ganância do imperialismo.
Poucos dias atrás a mídia fartou-se com informações a respeito de possíveis problemas da garota contratada pelo SBT, a pequena Maísa. De acordo com as notícias veiculadas, ela estaria com sérios problemas causados pela sobrecarga de trabalho. A ponto de a emissora ter sido condenada a pagar uma multa de um milhão de reais por descumprimento de determinações judiciais, como por exemplo, acompanhamento psicológico e redução da jornada da menina de sete anos.
A comoção causada pelo estresse da pequena apresentadora de TV e seu excesso de trabalho emocionou uma importante parcela da população. Certo que qualquer referência ao sofrimento infantil deve realmente comover e provocar reações em setores comprometidos com os direitos humanos. Mas e as outras Maísas, os Dionatans, as Suelens, os Pedros, os Gabriéis que anonimamente e sem nenhum glamour ajudam a movimentar a economia brasileira?
Segundo o IBGE, mais de 5 milhões de jovens entre 5 e 17 anos trabalham no Brasil. Este número segue crescendo (dados do Pnad 2005), pulando de 11,8% em 2004 para 12,2% em 2005. E certamente este número de crianças e adolescentes não tem seu trabalho fiscalizado, até porque o trabalho, no Brasil, só é permitido a partir dos 16 anos. Antes disto, dos 14 aos 16, existe a figura do aprendiz.
Tanto quanto a pobreza, o trabalho infantil tem cor no Brasil. Ainda segundo o IBGE 57,8% eram pardos e 37% brancos, e 5,2% negros. Cerca de 60% das crianças que trabalham estão na agropecuária, seguidos pelo comércio, com 12%, e 11% no setor se serviços. Estes são os dados oficiais. Aqui certamente não estão computados os trabalhos ilegais, de pequenos e invisíveis carvoeiros, ambulantes,prostitutas, ?aviões? do tráfico, crianças e jovens empregadas domésticas, todos eles privados de escola, de assistência e infância.
Estes milhões de pequenos brasileiros que trabalham desde os cinco, seis anos, abortam uma fase importantíssima na construção de sua personalidade. Segundo a mestranda em educação pela UFRGS Alessandra Bohm, o trabalho infantil é uma das maiores causas da evasão escolar. ?A criança que trabalha chega cansada á aula, independente de seu turno. Não tem tempo para as tarefas escolares. A relativa autonomia conquistada pelo pouco dinheiro recebido com seu trabalho traz junto o desinteresse pelo estudo. Crianças que trabalham, como possuem algum dinheiro, são também mais visadas por traficantes.?
Mesmo quando em condições relativamente salubres, o trabalho infantil interrompe o que deveria ser um ciclo de formação e construção da personalidade da criança/adolescente. O discurso arcaico, que dignifica o trabalho até a exaustão, e justifica o trabalho infantil como uma solução, na verdade é que deve ser visto e entendido como um problema. O velho moralismo ocidental cristão, que condena o lazer e o necessário ócio, que exige dos trabalhadores o máximo empenho. O capitalismo, que não respeita quem constrói sua riqueza, por que respeitaria suas crianças?
Certamente nos solidarizamos com as crianças que, como a pequena apresentadora do SBT foi submetida ao trabalho infantil desde os três anos de idade. Ela e centenas de outros pequenos trabalhadores do show business, condicionados a uma "vocação" artística desde bebês por quem lhes deveria educar e proteger. São pequenos atores, modelos, ginastas, cantores, realizando os sonhos e projetos de pais e mães, sujeitos a regras disciplinares, dietas e horários rígidos, submetidos a desafios e frustrações, com sua auto-estima em constante questionamento. lemárica é nossa mídia.
Problemática e insensível nossa mídia. Assim como a pequena índia assassinada não rende manchetes, o trabalho infantil dos anônimos só é notícia quando vinculado ao crime ou de forma sensasionalista. Da mesma forma, as agruras dos pequenos "famosos" raramente chegam às manchetes.
Sejam eles trabalhadores das emissoras de TV, fogueteiros do tráfico ou catadores de lixões, trabalho de criança é estudar, brincar e guardar seus brinquedos. Não será o trabalho das pequenas mãos que resolverá a fome do mundo, as mazelas do capitalismo nem as crises criadas pela ganância do imperialismo.
Regina Abrahão
Portal VERMELHO
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