sábado, 15 de agosto de 2009

Botox para além das rugas


Sucesso na medicina estética, a substância é usada para tratar derrame, dor nas costas e será testada contra a obesidade

A toxina botulínica conquistou fama por sua capacidade de suavizar rugas e marcas de expressão. Desde a década de 1990, as injeções da substância, que se tornou mais conhecida pelo nome da primeira marca a ser lançada no mercado, o Botox, estão entre os procedimentos mais realizados para rejuvenescimento do mundo. Mas há um outro lado que está recebendo atenção cada vez maior dos pesquisadores: sua aplicação no tratamento de problemas de saúde.
Uma das consequências desse interesse é a ampliação das indicações. Além de ser usado em casos de transpiração excessiva e de um transtorno que acomete os músculos dos olhos, levando a piscar exageradamente, a medicina avalia a eficiência do botox contra os sintomas da enxaqueca, para alguns tipos de rouquidão, dores reumáticas nos joelhos e até obesidade. Ainda à espera de aprovação para iniciar os estudos, cientistas de São Paulo e de Minas Gerais acreditam que o afrouxamento da musculatura estomacal pode iludir o cérebro, fazendo-o acreditar que o estômago está cheio. Isso levaria à redução do apetite.
No Brasil, um dos usos mais recentes é para tratar a incontinência urinária. Há poucos meses a agência reguladora de medicamentos, a Anvisa, deu seu aval para a utilização do botox em pessoas que sofrem de um descontrole na musculatura da bexiga que causa a vontade incontrolável de urinar. Por vezes, há escapes. Esse transtorno é chamado de bexiga hiperativa. A aplicação do composto em 20 ou 30 pontos da bexiga bloqueia os movimentos involuntários dos músculos que causam a sensação de urgência. "Cerca de 90% dos pacientes que foram tratados com medicamentos sem sucesso têm grande melhora com a toxina", diz o urologista Cristiano Mendes Gomes, do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Isso reduziu em 70% o número de cirurgias para tratar a doença." A aprovação da Anvisa significa que agora é possível pedir a cobertura desse procedimento aos planos de saúde.


Outra indicação que se torna popular é o tratamento das sequelas
musculares do acidente vascular cerebral, conhecido como derrame. Dependendo da dimensão das lesões no cérebro, os músculos não recebem os estímulos nervosos para se contrair e relaxar. Por isso, ficam contraídos ao extremo, podendo se deformar. "O botox relaxa a musculatura e ajuda a prevenir deformidades", explica a médica Matilde Sposito, da Universidade de São Paulo.
No Centro Médico Mount Sinai, em Nova York, pacientes que tiveram o problema recebem aplicações da substância durante a reabilitação. "Podem ser tratados aqueles em que o aumento do tônus e da rigidez muscular interfere nas funções", disse à ISTOÉ o neurologista David Simpson, um reconhecido pesquisador dos efeitos da toxina. O método também se aplica a pacientes de traumatismo craniano e paralisia cerebral. "Uso em pessoas com lesões cerebrais", diz a neurologista Elizabeth Quagliato, da Universidade Estadual de Campinas.
A toxina também já faz parte do arsenal médico contra a paralisia facial. Uma das pessoas que recorreram ao método foi o padre Fábio de Melo, de São Paulo, da nova geração de padres famosos da Igreja Católica no Brasil. Acometido por uma paralisia facial que lhe tirou os movimentos do lado esquerdo, ele recebeu injeções na musculatura da face direita, que estava muito contraída por causa do esforço para compensar a perda do movimento do outro lado. O resultado foi a melhora de funções como a mastigação.

No combate às dores nas costas, os mecanismos envolvidos vão além do afrouxamento da musculatura. A toxina diminui a tensão local e age sobre algumas substâncias cerebrais associadas ao processamento da dor, o que reduz a sensibilidade. "Mas é um uso que ainda está em pesquisa e requer comprovação antes de ser colocado em prática", diz a médica Matilde. Em todos os casos, a duração média dos efeitos é entre seis e oito meses. Depois, é preciso repetir a dose.
A multiplicação das indicações do botox está sendo acompanhada da maior preocupação com a segurança das terapias, especialmente nas que ainda são experimentais. "Para evitar danos, esse tratamento só pode ser oferecido por especialistas que conheçam muito bem a dosagem e a forma correta da aplicação para cada um dos problemas", adverte Matilde.

Revista Isto É

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