quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Talibã da Nigéria mata pela fé


Pelo menos 150 pessoas morreram no final de julho na Nigéria, vítimas de um grupo radical islâmico que tenta impor à força o mesmo modelo de governo fundamentalista que os talibãs impuseram no Afeganistão. A Nigéria é o sexto maior produtor de petróleo do mundo, tem um dos mais baixos IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) - é o 158º entre 177 países -, e é constantemente palco de conflitos religiosos. Nesse último, o país decretou alerta militar e libertou pelo menos 100 reféns mantidos pelos fanáticos. Entenda quem são os envolvidos.


1. O que deu origem ao conflito?
Um ataque dos membros do grupo fundamentalista muçulmano Boko Haram a dois postos policiais na cidade de Maiduguri, capital do estado de Borno, no norte do país, no dia 26 de julho, foi o estopim do conflito que causou a morte de 150 pessoas na cidade e se espalhou para os estados de Kano, Yobe e Katsina.

2. O que esse grupo defende?
O nome Boko Haram significa "educação é proibido". Seus membros são contra o sistema de educação ocidental e acreditam que o governo nigeriano esteja sendo corrompido pelas ideias ocidentais e lutam para impor à força as leis islâmicas em todo o país, a exemplo dos Talibãs, no Afeganistão. O grupo é descrito como o Talibã da Nigéria.

3. Quem são seus membros?
O grupo surgiu em 2004 sob o comando de Mohammed Yusuf e é formado originalmente por estudantes que abandonaram a universidade. Seu quartel general está baseado no vilarejo de Kanamma no estado de Yobe.

4. Eles são ligados a algum grupo terrorista?
Oficialmente, não existe ligação da violência perpetrada no país pelos extremistas islâmicos com os talibãs afegãos ou com a rede terrorista al-Qaeda.

5. O grupo tem o apoio das autoridades religiosas islâmicas?
Três organizações que representam o alto clero islâmico da Nigéria, o Conselho Supremo Nigeriano para Assuntos Islâmicos, a Corte Islâmica do Estado de Kwara e a Conferência das Organizações Islâmicas, condenaram a violência promovida pelos Boko Haram e declararam não reconhecê-los como representantes da causa islâmica.

6. Qual a formação religiosa da Nigéria?
Estima-se que 55% da população é formada por muçulmanos, mais concentrados nos estados do norte do país; os cristãos seriam 40% com maior concentração na costa sul. Dos 30 estados em que a Nigéria é dividida, 12 adotaram a partir de 1999 o sistema judiciário de leis islâmicas, conhecido por charia, que já foi alvo de protesto pelos que são contrários ao sistema.

7. Esse foi o único conflito religioso do país?
Não. A tensão religiosa sempre esteve presente na Nigéria desde sua criação, em 1914. Constitucionalmente, o país é um estado laico com liberdade religiosa, mas grupos cristãos alegam que durante quase 40 anos, o governo no norte deu tratamento preferencial a muçulmanos e os discriminou, dividindo ainda mais as visões religiosas. Entre 1982 e 1996, mais de 18 conflitos foram registrados no país. Nos anos 1990, o grupo radical islâmico Maitazinis ficou conhecido pelos seus ataques violentos a quem se opunha à sua doutrina. Em novembro de 2008 e fevereiro de 2009, novos combates ocorreram em regiões distintas causando um total de 404 mortes de ambos os lados.

8. Os conflitos são todos de cunho religioso?
A Nigéria é o maior produtor de petróleo da África e o sexto maior do mundo, mas sua produção tem sido prejudicada pela instabilidade político-religiosa. Companhias estrangeiras que exploram o petróleo e seus empregados são vítimas de milícias que pregam a expulsão dessas empresas e uma maior distribuição dos lucros com a população local. Um desses é o grupo separatista Movimento para Emancipação do Delta do Níger, que já promoveu sabotagem de gasodutos, sequestro e confrontos diretos com forças militares do governo.



Revista Veja

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