sábado, 15 de agosto de 2009

Elas decidem como e quando ser mães


As mulheres têm cada vez mais controle da situação: podem prolongar sua fertilidade e engravidar mesmo sem um companheiro

A economista Lindiana Ribeiro sempre batalhou por seus objetivos. Nascida em uma família de poucos recursos, desdobrou-se para fazer três faculdades e crescer profissionalmente. Graças a uma pesada rotina de trabalho, que mesclava carga horária elevada com viagens constantes, comprou uma casa própria em um bairro de classe média de São Paulo, onde vivia confortavel mente, até que, aos 39 anos, o relógio biológico soou. "Quero engravidar", disse com todas as letras ao namorado.
Eles se casaram e o marido, que tinha três filhos de outra relação, logo tentou demovê-la da ideia. "Ele dizia que filho estraga a vida da mulher, pois todas engordam, enfeiam e ficam desempregadas", conta Lindiana. Firme em sua decisão de perseguir a maternidade, terminou o casamento, recorreu a um banco de sêmen e engravidou de um doador anônimo. Hoje, aos 47 anos, mãe de um menino de 4, ela não está mais feia nem mais gorda. Porém, um ano depois de seu filho nascer, perdeu o emprego e não conseguiu se recolocar. Vendeu o que tinha, mora em uma casa simples na periferia e vive de bicos. Mesmo assim, diz com convicção: "Sou uma mulher realizada."
Lindiana não é a única a querer ser mãe a qualquer custo. Quando o assunto são filhos, as mulheres estão mais do que nunca senhoras de seu destino. Com os avanços médicos, têm obtido poder sobre a hora de tê-los e sobre como tê-los. "Elas nunca tiveram tanto controle sobre a maternidade", diz a psicóloga Rosa Maria Macedo. É mais um degrau nas conquistas femininas em relação ao próprio corpo. Na década de 60, a pílula anticoncepcional permitiu a programação da gravidez. Desde os anos 70, o aborto sem restrições vem se tornando legal em diversos países, dando a elas o direito de decidir se querem ou não gerar aquela vida. Agora, as técnicas de congelamento de óvulos e sêmen permitem a prolongação da fertilidade e à mulher sem parceiro ter um bebê.
Dentre as possibilidades, a decisão mais radical é recorrer a um banco de sêmen, pois a futura mãe escolhe prescindir do pai, uma vez que jamais saberá sua identidade. É diferente da antiga produção independente, que gerava um bebê de um encontro casual. Ao buscar um doador anônimo, o processo é solitário do início ao fim. Essa alternativa está se popularizando entre as mulheres que desistiram de esperar o parceiro ideal para ser mães. E a tendência é mundial.
"Nos últimos cinco anos, a procura por sêmen por parte de mulheres sozinhas cresceu 60%", diz Vera Fehér Brand, diretora do banco, que colaborou para o nascimento de mais de 900 crianças desde 1993.
Na opinião de Édson Borges, diretor da clínica de reprodução assistida Fertility, este crescimento está relacionado ao maior conhecimento das técnicas e à diminuição do tabu. "Há cinco anos, as solteiras chegavam sozinhas, falando baixinho e pedindo segredo", diz ele.
"Hoje estão mais confiantes, vêm acompanhadas da mãe, da irmã ou de uma amiga. Até a postura física delas é diferente." Essas mulheres têm o mesmo perfil: mais de 30 anos, bem-sucedidas profissionalmente e sem perspectiva de encontrar um pai para seus filhos. No banco de sêmen, a futura mãe tem acesso a informações biológicas do doador - como cor de olhos, cabelos, altura e peso - e a outras mais pessoais, como profissão e religião. No Brasil, não há legislação específica sobre o assunto, segue-se recomendação do Conselho Federal de Medicina. Sêmen, óvulo e embrião não podem ser comprados nem vendidos e a doação é sempre anônima. Em qualquer tipo de tratamento de reprodução, pagam-se apenas os procedimentos - no caso de fertilização de óvulo com sêmen congelado o gasto varia, mas raramente sai por menos de R$ 10 mil.
O medo do preconceito é um fantasma que assombra essas mulheres. A educadora carioca I.D.S. sofre ao pensar no futuro. Ela sempre quis ser mãe, mas, aos 38 anos, descobriu que não ovulava e não teria condições de engravidar naturalmente. Solteira, tentou adotar uma criança, mas não conseguiu.


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http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2075/elas-decidem-como-e-quando-ser-maes-148036-1.htm

Revista Isto É

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