O fenômeno, caracterizado pelo aquecimento das águas do Pacífico, chegou ao Brasil trazendo fortes chuvas ao Sul e calor no Sudeste
Desde o fim de julho, diferentes regiões do país têm presenciado fenômenos climáticos incomuns. Na quinta-feira (6), bem no meio do inverno, o Rio de Janeiro e São Paulo registraram 33,5ºC e 29ºC respectivamente. Foram as temperaturas mais altas da estação. Na sexta-feira (31), Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina tiveram chuvas intensas, algo fora do normal para a época, que deixaram, só em Santa Catarina, sete cidades em estado de emergência. Mas qual é a explicação para isso? É simples. O El Niño está de volta. Depois de cinco anos, o fenômeno caracterizado pelo aquecimento anormal das águas na região equatorial do oceano Pacífico está sendo registrado pelos serviços meteorológicos de todo o mundo, como a Administração Atmosférica e Oceânica Nacional (NOAA), dos Estados Unidos, e o Escritório de Meteorologia da Austrália. No Brasil, o responsável pela análise da evolução do fenômeno é o Instituto Nacional de Meteorologia (InMet). “Estamos acompanhando o início do El Niño desde junho, e a previsão é de que ele vai se consolidar a partir de setembro e outubro”, diz Expedito Rebello, meteorologista do InMet em Brasília. Os efeitos do El Niño são diversos no Brasil. No Norte e no Nordeste, as chuvas ficam mais fracas no norte das duas regiões. A Amazônia, em particular, pode sofrer com a falta de chuva. Na primavera, o Sudeste e o Centro-Oeste têm temperaturas muito mais altos. Mas o efeito mais claro do El Niño no Brasil é a chuva forte nos Estados do Sul. Neste fim de semana em particular, o Rio Grande do Sul e Santa Catarina devem ser atingidos por temporais, segundo previsão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Rebello explica que, em anos de El Niño, um bloqueio atmosférico (uma massa de ar estacionada) se forma sobre o país, retendo as frentes frias na região Sul e tornando as chuvas mais frequentes. Foi essa combinação de fatores que causou as históricas enchentes de 1983 e 1984 que destruíram Blumenau, no interior de Santa Catarina, e outras cidades da região. “Aquele El Niño teve um efeito devastador no Estado todo, que acabou com prejuízos de R$ 12 bilhões”, lembra Rebello.
As previsões do InMet dão conta que o El Niño de 2009 deve ser moderado, com a água do Pacífico esquentando até 3ºC. Isso não significa, no entanto, que a intensidade de seus efeitos será amenizada. No El Niño de 1997 e 1998, considerado o evento climático do século, as águas do Pacífico ficaram até sete graus Celsius mais quentes. Austrália e Indonésia tiveram incêndios monstruosos, o Oeste dos Estados Unidos registrou uma seca fortíssima e a onda de calor que atingiu a Índia e a Europa – especialmente Grécia, Itália e França – matou dezenas de pessoas. No Brasil, Roraima ficou praticamente sem chuva por 70 dias e o Sul teve algumas enchentes, mas nada parecido com os efeitos da década anterior. “Um El Niño muito forte como o de 98 pode ter efeitos pequenos no Brasil, mas um El Niño moderado também pode ser devastador”, afirma Rebello. Segundo o meteorologista, isso depende de uma conjunção de fatores, na qual os ventos têm papel fundamental, pois mudam a dinâmica da atmosfera, agravando ou amenizando as chuvas e secas. Mas o que é possível fazer para evitar um desastre? A única alternativa é tentar prever uma onda de seca ou a chegada de fortes chuvas a uma região, reduzindo a possibilidade de danos. Segundo Rebello, quando eventos como esses são detectados pelo InMet, o órgão envia um alerta para a Secretaria Nacional de Defesa Civil e para o Ministério da Integração Nacional, que mobiliza os Estados e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), criando uma rede de proteção para as áreas potencialmente atingidas.
O que é o El Niño?
O El Niño é um fenômeno tão antigo quanto desconhecido. Ele foi observado pela primeira vez em 1525 e 1526, no Peru, mas até hoje não há explicação plausível para o aquecimento das águas do Pacífico. O que se sabe é que as ondas de água quente surgem na costa da Austrália e chegam até o Peru e o Equador. A temperatura da água é medida por uma série de boias instaladas no oceano e que identificam alterações na superfície e a profundidades de até 500 metros. Todas as informações são analisadas pelos serviços de meterologia de mais de 180 países que funcionam de forma interligada. Subidas na temperatura de dois a três graus Celsius caracterizam um El Niño moderado. Entre quatro e sete graus formam um El Niño forte, e acima de sete graus, um fenômeno muito forte.
Segundo Expedito Rebello, do InMet, um El Niño típico sustenta um aumento de temperatura em um período entre 12 e 16 meses, como deve ocorrer em 2009. Já houve especulações de que o fenômeno era cíclico, aparecendo a cada sete anos, mas isso não ocorre mais. "Entre 1991 e 94, tivemos El Niño em todos os anos, mas as águas só ficaram quentes por períodos curtos, de três meses", diz. O último El Niño foi observado em 2004, mas também teve curta duração. De acordo com ele, não há explicação para o fim da peridiocidade. "Pode ser o aquecimento global, mas ninguém sabe o que acontece".
Segundo Expedito Rebello, do InMet, um El Niño típico sustenta um aumento de temperatura em um período entre 12 e 16 meses, como deve ocorrer em 2009. Já houve especulações de que o fenômeno era cíclico, aparecendo a cada sete anos, mas isso não ocorre mais. "Entre 1991 e 94, tivemos El Niño em todos os anos, mas as águas só ficaram quentes por períodos curtos, de três meses", diz. O último El Niño foi observado em 2004, mas também teve curta duração. De acordo com ele, não há explicação para o fim da peridiocidade. "Pode ser o aquecimento global, mas ninguém sabe o que acontece".
José Antonio Lima
Época
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