Suzano: 18 crianças aguardam por pais adotivos

A maioria tem mais de 10 anos e está fora do perfil das crianças procuradas, em geral brancas e com até 3 anos, pelos casais ou pais solteiros dispostos a adotar no município
Um total de 18 crianças e jovens aguardam adoção em Suzano. A maioria tem mais de dez anos de idade e vive em um dos quatro abrigos do município. A idade dificulta a transferência da guarda a uma família substituta – a tendência é de que muitos deles só deixem o local do acolhimento quando atingirem a maioridade. Por outro lado, cerca de 35 casais ou pais solteiros querem adotar no município. O problema, neste caso, é que o perfil das crianças procuradas (em geral, brancas e com até 3 anos de idade) é o oposto daquelas que estão à disposição.
O desencontro entre famílias substitutas e crianças que vivem em abrigos e aguardam adoção se repete em todo o País.

O cadastro nacional de pais adotantes conta hoje com 22 mil inscritos, enquanto há duas mil crianças e jovens em condições de serem adotados. Na tentativa de reverter este quadro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou, recentemente, a nova Lei da Adoção, que muda as regras para estes procedimentos.
Em Suzano, a legislação tem gerado expectativas de que o processo judicial de transferência da guarda passe a ser mais rápido, de modo que as crianças permaneçam períodos menores em abrigos, no máximo, até dois anos. “Quero acreditar que as mudanças sejam para melhor. Na teoria, a lei parece boa, mas como irá funcionar na prática?”, indaga a coordenadora da Casa Nossa Senhora de Guadalupe, Fátima Reis Santos.Segundo Fátima, 8 das 22 crianças que vivem hoje no abrigo já foram destituídas da família original, por determinação da Justiça, e aguardam adoção.

São pessoas de 7 a 17 anos, todos portadores do vírus da imunodeficiência humana (HIV).Fátima explica que a prioridade em todos os casos de abrigamento é pelo retorno da criança à família. Esgotadas todas as possibilidades de isso ocorrer, aí sim ela é colocada para adoção.

Abrigos
Além da Casa Nosa Senhora de Guadalupe, há outros três abrigos em Suzano: a Casa da Criança e do Adolescente, ambos administrados pela prefeitura suzanense, e o Instituto Beneficente Viva a Vida. Cada um deles tem capacidade para abrigar até 30 pessoas.
A decisão pelo abrigamento, retorno à família de origem ou encaminhamento à adoção é sempre da Vara da Infância e Juventude, mas também envolve o Conselho Tutelar da cidade.A conselheira Ana Paula Braga acredita que o limite de dois anos de abrigamento pode funcionar como pressão para os pais.

“Quando você dá um prazo à família, a tendência é de que ela corra contra o tempo para conseguir se organizar e ter a guarda dos filhos de volta. Se isso não acontecer, ele vai para adoção mais rapidamente. Espero que isso impeça que as crianças permaneçam num abrigo por tempo indeterminado, como ocorre hoje”, relata Ana Paula.

Mogi News