quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Engenheiro florestal ensina pelas ruas de Curitiba como reduzir a poluição dentro de casa


CURITIBA - É possível respirar ar puro em uma grande metrópole. Basta que todos cultivem mais plantas, tanto em espaços públicos como em casa e no trabalho. Em síntese, este é o recado do engenheiro florestal Bo Stridsberg, de 66 anos. Este sueco, morador de Curitiba há mais de uma década, pode ser visto pelas ruas de Curitiba carregando uma "fazenda portátil" na mochila.
Por mais que a atmosfera de uma cidade esteja com ar impróprio, se em uma sala houver no mínimo quatro palmeiras (Dypsis lutescens) e oito espadas-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata) para cada pessoa, o ar ali dentro será limpo. Tais plantas, além de serem fáceis de cuidar, são grandes produtoras de oxigênio, afirma o sueco, citando estudos desenvolvidos pela Nasa e pelo Instituto de Tecnologia da Índia.
Para o engenheiro florestal, o hábito de cultivar diversos tipos de vegetação precisa ser estimulado urgentemente, pois é uma forma barata de se melhorar a qualidade do ar, pelo menos em espaços fechados.
Stridsberg desenvolveu uma miniestufa desenvolvida com garrafas PET, batizada de "toka trekko". Com esse invento nas costas, ele desperta a atenção das pessoas e aproveita para puxar papo sobre ecologia urbana.
- As pessoas sempre querem saber o que eu tenho na garrafa. O toka trekko já está na internet. Mas como muitos ainda não têm acesso à rede, essa é a melhor maneira de divulgá-lo - explica.
O conceito do engenheiro florestal é o de agricultura urbana, que pode ser colocado em prática, de forma simples, por qualquer cidadão.
- Não preciso ser médico para constatar que muitas crianças na cidade sofrem com falta de vitaminas - diz ele, lembrando que pequenas hortas domésticas ajudariam a melhorar o cardápio de todos, principalmente das pessoas mais carentes.
Casado com uma astróloga, Bo Stridsberg convenceu a mulher a deixar dezenas de espadas-de-são-jorge em volta da cama do ca­­sal. Bo explica que, à noite, essa folhagem libera oxigênio (enquanto a maioria das plantas libera gás carbônico nessa hora), trazendo um ar puro ao quarto de dormir.
O engenheiro florestal conta que, na década de 1990, começou a desenvolver um trabalho na Vila das Torres, estimulando os moradores a plantar legumes e verduras em tambores com terra. Aban­donou o projeto, porém, quando percebeu que a ação estava sendo usada para promover políticos.
- Infelizmente o Brasil tem pragas que não existem na Suécia: dengue, malária e vereador - resume assim a história.

Um matagal como lar
Do lado de fora de sua pequena casa, Bo também mostra como é possível ocupar os espaços livres com a vegetação. Ele dispôs uma centena de vasos e toka trekkos com as mais variadas plantas (comestíveis e ornamentais) até pelos muros do seu terreno.
- Um bom lugar para se viver é aquele que se parece com um matagal - garante.
Bo Nills Axel Stridsberg nasceu em 1943, na cidadezinha rural de Kalmar, sudeste da Suécia.
- Vim de uma família humilde, mas meu pai, engenheiro florestal, nunca deixou faltar comida na mesa. Era um exímio caçador - diz Stridsberg.
Ele seguiria os passos do pai aprendendo a caçar alces e se formando na Escola de Floresta Bjurfors. Sobre a época em que serviu o Exército, hoje ele recorda o clima tenso que vivia, por causa das rixas com os povos vizinhos, como a Rússia.
Mais tarde veio o primeiro casamento, o primeiro filho, e uma série de viagens a trabalho por países da Europa, Ásia, África e América.
- Ao longo dos anos 70 e 80 trabalhei na Índia como consultor de uma empresa sueca na área ambiental, e depois fui transferido para a África. Na Tanzânia, novamente precisei caçar para ter o que comer. Acertei um antílope, uma vez, que forneceu quase 700 quilos de carne para as crianças de uma escola que não viam um bom bife há anos.
Bo chegaria ao Brasil na década de 1990 para atuar em fábricas de papel, morando em várias cidades, do Norte ao Sul do país. Aposentado, pai de três filhos e avô de quatro netos, hoje Stridsberg vive com a atual companheira, a carioca Mônica Schiller, em Curitiba. A plantação é tanto uma paixão como uma fonte complementar de renda.



O Globo

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