segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O apoio que faz nascer

Jacqueline e Agatha são uma das muitas famílias que nascem pelas mãos de Maria Ilze e suas voluntárias. “Nosso papel é cuidar, orientar e torcer para essas mães terem força e equilíbrio na hora de enfrentar o mundo lá fora”, diz Ilze

Quem olha a foto vê uma moça feliz descobrindo as delícias da maternidade. Mas se não fosse o apoio que recebeu da voluntária Maria Ilze (à direita, abaixo) , provavelmente Agatha, 19 dias, nem teria nascido.
Jacqueline Santos Costa, 24 anos, vem de uma família com poucos recursos, tanto financeiros quanto psicológicos. Aos 21 engravidou pela primeira vez e teve Anthony, de 2 anos e 6 meses. No ano passado, engravidou novamente. Mas dessa vez os pais colocaram a menina para fora de casa comprometendo-se a cuidar do filho mais velho. O namorado não ajudou. “Pensei até em tirar a criança”, diz. Foi quando soube de Maria Ilze, do Amparo Maternal (em São Paulo), e tudo mudou. Maria Ilze Moreno Piquera, 69 anos, quatro filhos, também chegou ao Amparo procurando mudanças. Apaixonada por obstetrícia, não colocou seu sonho em prática por falta de recursos para pagar uma faculdade. Mas, aos 40 anos, saiu em busca de sua realização e descobriu o trabalho da instituição. Virou voluntária. Quando começou, 29 anos atrás, recebia gestantes carentes e conseguia roupas e produtos de higiene a partir das doações. Como faz até hoje, conversava, transmitia um pouco de sua vivência. “O mais importante é escutar. Aprendi muito com essas meninas. Mas temos de ter bastante pulso para não chorar”, diz. Muitas se apegam, a chamam de “mãe”: no final das contas, amparar, dar apoio, também faz parte da maternidade. “É muito bom ver os bebês nascendo e saber que ajudou. Você lida com o começo de uma vida, com a esperança.”
O Amparo Maternal existe desde 1939 – assim como Ilze, faz 70 anos. Lá acontecem cerca de 800 partos por mês (80% deles normais). Algumas das novas mães passam os primeiros meses no local até restruturarem suas vidas. O Amparo sobrevive graças a doações do setor público e privado e já acolheu até hoje 50 mil grávidas. As mulheres são atendidas via SUS e contam com médicos, enfermeiras, assistentes sociais e as voluntárias, responsáveis por humanizar sua estadia e oferecer cursos como corte e costura. Há dez anos, Ilze se tornou coordenadora das voluntárias e está sempre tentando melhorar seu trabalho. A mais recente conquista do grupo foi um curso que capacitou-as como doulas – mulheres que dão suporte físico e emocional antes, durante e depois do parto.
Jacqueline pretende ficar no Amparo até o bebê ter 3 meses. “Minha prioridade agora é trabalhar para criar meus filhos”, diz. Foi preciso muita conversa para conseguir entender a atitude dos seus pais, mas está feliz por saber que a mãe está louca para conhecer a neta. A reação do pai ainda é uma dúvida, mas Ilze não se priva do desejo. “Tenho certeza que ele vai chamá-la de volta para casa assim que ver o rostinho da Agatha”, aposta.



Revista Crescer

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