domingo, 20 de setembro de 2009

Viver para o próximo


Advogado cria instituto e realiza sonho de levar educação, saúde e cultura a mais de 300 mil brasileiros carentes

Quando descobriu, aos 20 anos, que estava com diabetes, o advogado Luis Eduardo Salvatore decidiu ser feliz. Isso para ele significava realizar alguma coisa para melhorar a vida das pessoas mais carentes. Decidiu deixar o emprego, abdicar da carreira e seu primeiro passo foi viajar para uma aldeia no Alto Xingu, onde encontrou o que realmente queria fazer: ajudar a quem precisava a ter acesso a educação, saúde e cultura. Em troca da permissão para entrar na aldeia e fotografar os costumes indígenas, prometeu levar dentistas para cuidar da saúde bucal dos índios. Ao ver o resultado, ficou encantado com a experiência.

Assim começou o seu projeto. Depois de quatro anos, nascia o Instituto Brasil Solidário (IBS), que criou em parceria com a irmã Ana Elisa.

Ex-empregada de uma agência de designer, ela abraçou a ideia e, em pouco tempo, a ação casual de Salvatore no Xingu se tornou um projeto que atende cerca de dez cidades por ano e, até 2007, contabilizou 343 mil beneficiados diretos. Os projetos sociais realizados pelo instituto são fundamentados na convivência, inovação e na necessidade real de cada município.

"Para nós, é uma grande conquista. Doamos a ferramenta e depois fazemos a gestão de todo o trabalho"
Luis Salvatore, diretor do Instituto Brasil Solidário

As equipes viajam por todo o Brasil para desenvolver os programas em comunidades socialmente desfavorecidas e com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Uma das ações implementadas nas escolas é a construção de "escovódromos" para incentivar a higiene dental diária, que é programada juntamente com o horário das aulas. Cada aluno ganha um kit para toda a família e aprende a escovar os dentes. "Houve diminuição de cáries e dor de dente, e até de evasão escolar que antes ocorria por esses fatores", diz Salvatore.

Neste ano, o instituto iniciou o Programa de Desenvolvimento Sustentável: Amigos do Planeta na Escola, que, em parceria com a Casas Bahia, vai atender dez cidades até 2011 com metodologias educacionais nas escolas e diversas ações voltadas à sustentabilidade, saúde, meio ambiente, teatro, música, cinema e inclusão digital. O IBS distribui às crianças em idade escolar kits com livros doados por editoras e material didático. A pasta é, muitas vezes, recebida por muitas crianças como um presente único. Algo a que elas dificilmente teriam acesso e serve de incentivo para os alunos. Além do material didático, em algumas cidades recebem instrumentos e educação musical - um dos pontos mais valorizados pelo IBS.

Outro programa importante é a Expedição Brasil Melhor, que, desde 2002, atua em parceria com o evento esportivo Rally Internacional dos Sertões. Essa ação social leva assistência médica e odontológica gratuita às populações das cidades por onde passa a prova de corrida, monta bibliotecas, faz palestras educacionais, oferece capacitação profissional e entretém a população com teatro de marionetes e cinema. Somente em 2009, o IBS investiu cerca de R$ 1,2 milhão nesse programa, atendeu seis cidades e continuou a ação iniciada no ano anterior em outros oito municípios. Nesse período, 1.580 consultas médicas e oftalmológicas foram realizadas e 26.380 livros doados para escolas e alunos.

Givanilson Correia da Silva, 16 anos, é um dos muitos que foram beneficiados pelo instituto. Em 2008 era um dos melhores alunos do curso de fotografia, vídeo e rádio promovido pelo IBS em Balsas, no Maranhão. O projeto não só ensinou um ofício ao jovem como o colocou no mercado de trabalho. Ele foi empregado por indicação do instituto e hoje desenvolve trabalhos de tratamento de imagens em uma loja e fotografa em eventos na cidade. "Com este incentivo, pretendo seguir a carreira e, quem sabe, ser até jornalista", disse Givanilson. O instituto acompanha o desenvolvimento do garoto em Balsas, assim como o de outros jovens beneficiados pelo País. "Para nós, é uma grande conquista. Doamos a ferramenta e depois fazemos a gestão de todo o trabalho. A gente começa a fazer não o nosso sonho, mas o daquela pessoa", afirma Salvatore.

Larissa Domingos

Isto É - Independente

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