quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Professor de escola particular é acusado de assediar aluna


Jovem de 16 anos denuncia abuso que teria começado há cinco anos.
Conversas pela Internet via MSN são usadas como prova em inquérito


Rio – Os diálogos via Internet com uma aluna podem levar o professor P., até pouco tempo lecionando em um dos melhores colégios da Zona Sul, ao banco dos réus. Demitido por justa causa no fim do ano passado quando a história veio à tona, denunciada pela mãe da jovem A., então com 16 anos, o mestre se viu em maus lençóis a partir das revelações que a menina fez à polícia, alegando não suportar mais o assédio que, segundo ela, vinha desde 2004. O inquérito deu origem a processo que tramita na 34ª Vara Criminal.
Os primeiros contatos entre professor e aluna ocorreram em 2004, ano em que A., com 11 anos, cursava a 5ª série do Ensino Fundamental (atual 6º ano). No ano seguinte, já sem ter aulas com P., a menina continuou a manter relacionamento próximo com o mestre, e, como afirmou em depoimento à polícia, chegou a ser beijada por ele em algumas ocasiões, em salas vazias, nos intervalos das aulas. A perícia realizada nos computadores da jovem revelaram o teor de conversas em que os encontros eram agendados: “Ah, tive uma ideia agora. Nas terças, você não pode dar uma fugidinha na hora do recreio e ir à sala quando as crianças tiverem descido?”, teria dito o professor. A menina rebate: “Que horas é o recreio?”. E o professor: “Entre duas e duas e meia. Se você chegar às duas e cinco, dá pra rolar algo…”
P. negou todas as acusações em seu depoimento à polícia, mas admitiu que houve contato via Internet com a aluna. Segundo o professor, A. criou páginas no site Orkut para “elogiar seu trabalho”. Ele alegou que as mensagens trocadas com a adolescente se limitaram aos temas da disciplina.
Os trechos das conversas pelo computador que constam no processo indicam mais do que diálogos impróprios entre um mestre de 58 anos e uma aluna de 15. O professor teria pedido que A. se exibisse diante da câmera, inclusive tirando a roupa. “Liga a ‘cam’, deixa eu te ver um pouco”, teria dito ele, em um dos bate-papos. Em outro, vai além: “Aponta o que quer que eu faça com você”, pediu.
A perícia no computador da menina revelou que o professor utilizava codinomes, entre eles “infeliz para sempre”, adotado no período em que a jovem começou a namorar um rapaz. Ele também tinha preocupação com os diálogos e orientava a jovem a sempre apagar o histórico das conversas. “Ah, uma coisa, cuidado para não deixar nada no histórico do seu computador sobre nossos papos”.

DESCOBERTA

Para a mãe de A., ouvida pela reportagem de O DIA, os primeiros sinais de que algo estava errado na relação da filha com o professor surgiram há quatro anos. Em 2005, ela soube por uma professora que A. mantinha encontros com o professor. Imediatamente, a mãe solicitou reunião com a direção do colégio e com o P.. “Na época, a escola afirmou que tudo não passava de fantasia de criança. Mesmo assim, pedi que o professor não se aproximasse mais dela. Falei que sabia que ele estava alimentando isso tudo e não ia permitir isso”, explicou a empresária M., mãe da jovem, que, no entanto, manteve a menina no colégio e não suspeitou que os contatos continuassem a ocorrer.
Em 2006, veio o choque. M. descobriu que as conversas da filha com P. eram frequentes pelo serviço MSN de mensagens instantâneas. Novamente, M. recorreu ao colégio. “Nunca deixei de manifestar à escola minha preocupação, mas a resposta sempre foi a mesma. Hoje, acho que eles temiam um escândalo que poderia abalar a credibilidade da instituição”, conta.
O assédio se tornou mais grave ano passado. A., então com 15 anos, voltou a ter aulas com P. e, com o aumento da aproximação, chegou a revelar intimidades ao mestre. Relatos de experiências com o namorado, pelo MSN, alimentavam as fantasias de P., que chegou a convidá-la para ir a um motel. Em seu depoimento à polícia, a menina também admitiu que, quando tinha 12 anos, chegou a enviar uma foto sua, nua, para o professor.
A troca de imagens por adolescentes na web, como revelou O DIA no domingo, virou mania e preocupa as famílias. Conhecida como ‘sexting’ — mistura de ‘texting’, que é a troca de mensagens instantâneas, com ‘sex’, sexo em inglês —, a prática põe em risco a privacidade dos jovens, já que é fácil perder o controle sobre a distribuição das fotos ou vídeos na Internet e por celular.
Psicólogo e diretor de Prevenção e Atendimento da ONG SaferNet Brasil, Rodrigo Nejm alerta para o perigo da Internet. “Há dois tipos de abuso. O presencial e o facilitado pelo computador. Nesse caso ela sofreu os dois. Por mais que a criança corresponda ao aliciador, ainda assim ela é vítima de um crime. Nessa idade, é facilmente seduzida, sem ter condições de avaliar as consequências”, explica.

Garota conta que chegou a ser agredida

No depoimento prestado pela jovem A., consta o relato de uma agressão atribuída ao professor. Segundo a menina, em um episódio P. chegou a puxá-la com força pelo braço, dizendo que mataria ela e sua mãe caso o relacionamento dos dois chegasse ao conhecimento da polícia. Mãe da garota, M. afirma que a filha tomou a decisão de levar o caso aos tribunais “pensando nas outras colegas que também sofreram abuso”. A empresária não revela, no entanto, quem ou quantas seriam as vítimas de P.. “Essas meninas não procuraram a polícia por vergonha ou porque os pais não deixaram, temendo o escândalo, o constrangimento”, afirmou.
Depois que o caso foi denunciado à polícia, a jovem chegou a ficar afastada da escola por mais de um mês — segundo a mãe, por sugestão da própria direção do colégio. Em pouco tempo, os bastidores da relação entre P. e A. ganhou repercussão entre alunos e professores, e acabaram gerando a demissão por justa causa do professor.
A reportagem de O DIA tentou contato por telefone com o professor P., acusado pela jovem. Ele, no entanto, não quis dar entrevista. A direção do colégio também foi procurada, mas preferiu não dar declarações até que o processo seja concluído na Justiça.

PUNIÇÃO MAIS RÍGIDA

ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR
Como o crime foi cometido antes de entrar em vigor a nova lei sobre crime sexual, P. responde por atentado violento ao pudor na forma de “violência presumida”, já que na época A. ainda não tinha 14 anos. A pena é de seis a dez anos de reclusão.

ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Com a Lei 12.015/09, art. 217-A, quem tiver relações sexuais ou praticar atos libidinosos com adolescentes menores de 14 anos, de qualquer sexo, comete “estupro de vulnerável”. Agora, a lei não permite o ato sexual por parte de adolescentes, mesmo com consentimento. Antes, o estupro só ocorria no caso da consumação da relação sexual, apenas para vítimas do sexo feminino. A pena é de oito a 15 anos de prisão.


POR MARIA MAZZEI, RIO DE JANEIRO
Fonte: O Dia Online

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