sábado, 26 de setembro de 2009

‘Resposta a um defensor dissimulado do monstro de jaleco’


por Teresa Cordioli

Olá, Gustavo, meu nome é Teresa Cordioli. Sou vítima de Roger Abdelmassih. Veja: o seu texto fez com que eu saísse do anonimato, em uma reação de quem teve uma ferida cutucada.
Não sou jovem como a maioria das vítimas. Tenho 58 anos. Sou viúva, formada em direito, escritora, cristã, temente a Deus – tenho uma fé inabalável.
Sou mãe de três filhos e avó de duas meninas. Tenho uma família linda! Advogados e engenheiros bem sucedidos.
Com tudo isso, perguntou-lhe: por que eu inventaria que fui assediada pelo dr. Roger?
Para que eu seja abordada por pessoas que querem saber ’se tudo é verdade’?
Para me constranger (e também a minha família) diante da curiosidade pública, como se já não bastasse a violência que sofri?
Talvez você, Gustavo, nem sequer desconfie como tem sido difícil para as vítimas levar adiante as acusações. Comparecer à Delegacia, ao Ministério Público e ao Conselho de Medicina. Ter de contar episódios os quais gostaríamos de apagar da memória, porque doem.
Ainda assim, quanto a mim, nada se compara aos dias de terror e humilhação pelos quais passei na década de 70 sob as mãos imundas do dr. Roger. Eu era adolescente e ingênua. Indefesa.
Vejo a sua foto, Gustavo, e noto que você tem uma cara bonitinha. Sorriso largo e olhar tranquilo. Você ainda é moço, tem 32 anos.
Tenho filhos de sua idade que, pela formação cristã deles, não se sujeitariam ao papel (dissimulado, é verdade) que você faz, o de defensor do monstro de jaleco. Um dia talvez se descubra o por quê.
Ao fazer uma comparação descabida entre o caso da Escola da Base com o do monstro, sem levar em conta as particularidades de cada um deles (não se deve comparar laranja com banana, menino!), você colocou sob suspeição mais de 60 mulheres, mantendo-nos no mesmo patamar do médico, que é, afinal, o acusado pela Polícia e pelo Ministério Público.
Quanta insensibilidade, Gustavo! Ou seria perversidade?
Você escreveu também que o número de mulheres molestadas é pequeno em relação ao total das pacientes do médico. Que é de 0,2%.
Só mais uma perguntinha, Gustavo: para você, a partir de quanto o número de vítimas do médico deixaria de ser insignificante? 1% do total das pacientes? 10%? 99%?
É de supor que, para as pessoas dignas, uma única vítima já seria muito, não é mesmo?
Mande meu abraço às mulheres de sua família.


Paulopes Weblog

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