quinta-feira, 18 de março de 2010

Avó, guarda que arrancou criança de mãe cigana em SP diz que só cumpriu dever



'Não é agradável para quem vê nem para quem participa', disse.
Justiça realiza audiência nesta quinta-feira (18) sobre o caso.

Mãe de dois filhos e avó de três netos, a inspetora da Guarda Civil Metropolitana de Jundiaí Isis Regina de Abreu Fernandes, de 52 anos, foi filmada na segunda-feira arrancando um bebê com a mesma idade de sua neta mais nova dos braços da mãe, uma cigana. Apesar dos gritos da mãe e da criança, Isis cumpriu a determinação judicial. Ouvida pelo G1, ela reconheceu que as cenas impressionam, mas disse que, apesar da dor naquele momento, ela estava apenas realizando o seu trabalho.
"Ninguém acredite realmente que existe algum prazer neste ato. A gente se coloca no lugar, tem aquela empatia pela mãe, mas infelizmente estava lá como profissional. Havia uma determinação que eu tinha que cumprir. A gente se sente no último", disse ela.
Há 18 anos na Guarda Civil e recém-promovida a inspetora, Isis afirmou que todos os cuidados foram tomados para tranquilizar a mãe durante uma hora antes de a criança ser levada.
"Não teve acerto de ela ceder espontaneamente a criança, o que é até natural, mas infelizmente a gente teve que retirar essa criança dela. Deu para transparecer na imagem que eu fiquei transtornada. Não é agradável para quem vê e muito menos para quem participa. A gente não levanta de manhã acreditando que vai fazer isso durante o dia, mas alguém teria de fazer."
Isis contou que ao chegar em casa foi recebida pela neta de 17 anos. "Ela me disse: 'Eu vi que você estava triste, vó'", afirmou. "Cheguei em casa, abracei minhas netinhas e fiquei pensando no que aquela mãe estaria sentindo. A dor da mãe é bem maior", reconheceu.
A inspetora da Guarda Civil afirmou que, embora as separações sejam dolorosas para a criança, muitas vezes as livram de situações injustas.
"As pessoas não têm noção. Isso ocorre diariamente. O ato de proteger uma criança do próprio pai e da própria mãe é assim. E a criança, até sendo uma criança vítima de agressão, tem o mesmo tipo de sentimento que teve esse bebê que foi filmado, porque o agressor é a unica referência que ela tem. Ela vai entrar em pânico porque vai cair no desconhecido. O que deu azar é que foi gravado", afirmou.
O comandante da guarda, Paulo Sérgio de Lemos Giacomelli Stel, reconheceu. "É bem verdade que aquela imagem, que fala por si só, é constrangedora. Foi certo, foi errado, não sei. Mas estávamos cumprindo uma ordem judicial. As imagens não foram agradáveis, mas ela sabe que cumpriu o dever dela."
O juiz Jefferson Barbin Torelli, da Vara da Infância e Juventude de Jundiaí, marcou para as 16h a primeira audiência de conciliação do processo que trata da guarda da menina de um ano e dois meses.
A mãe, que teve a filha levada a um abrigo, negou que tenha usado a menina para pedir esmolas. “Eu estava lendo sorte, lendo mão. Aí me pegou, colocou dentro do carro e trouxe na viatura”, disse Dervana Dias. Ela foi até o abrigo na quarta-feira (17), mas não conseguiu ver a filha. Ela foi orientada a voltar depois porque a menina estava muito agitada.

Roney Domingos


G1

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