quarta-feira, 17 de março de 2010

Pais querem limite na publicidade voltada às crianças


Sete em cada dez pais são influenciados pelos filhos de 3 a 11 anos na hora de fazer compras e os maiores responsáveis pelo estímulo aos pedidos dos pimpolhos são a propaganda, os personagens vinculados aos produtos, filmes e programas de TV. Esse é o resultado de uma pesquisa divulgada, terça-feira, pelo projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana. O levantamento também mostra que 73% dos pais acreditam que deveria haver restrição ao marketing e à publicidade voltados às crianças. “Eles estão preocupados com a exposição dos filhos aos anúncios publicitários. Sentem que há alguma coisa errada, mas não sabem o que podem fazer para mudar esse quadro”, afirma Isabela Vieira Machado Henriques, coordenadora do projeto.
Uma das maiores preocupações, segundo a pesquisa – que ouviu pais e mães de todas as idades, com mais destaque para a classe C -, é com a alimentação das crianças. Na frente disso, só há o medo da violência. O levantamento mostra que entre os pedidos espontâneos feitos pelos filhos o principal são as guloseimas (chocolate, bala, chiclete, doce e bolacha). Os percentuais são mais altos entre os mais novos. “Bolachas, refrigerantes e salgadinhos são alimentos consumidos algumas vezes por semana por meninos e meninas entre 3 e 11 anos. E isso é uma preocupação para a saúde”, observa Isabela Henriques. O estudo foi divulgado durante a abertura da terceira edição do Fórum Internacional Criança e Consumo, em São Paulo.
A fisioterapeuta Maria Beatriz Alvarenga de Almeida não esconde seu receio diante das escolhas alimentares da filha Fernanda, de 9 anos. Segundo ela, a menina é influenciada pela avalanche de publicidade que ronda os produtos infantis. “Ela quer o sorvete e sunday de determinado lugar. O chips tem que ser de tal marca, no lugar do suco quer refrigerante e até produtos que não são apropriados para crianças, como energético, já pediu para experimentar por causa dos comerciais”, explica a mãe.
Maria Beatriz afirma que está lutando para mudar os hábitos alimentares da filha, mas a dificuldade é grande justamente por causa da influência da publicidade. “A fruta não vem em embalagem colorida e, portanto, não estimula a criança a comer”, diz. Além da preocupação com a saúde de Fernanda, a fisioterapeuta também ressalta que produtos saudáveis são mais baratos . “Faz diferença no bolso você optar por um sacolão ou por um fast food”, compara.
Ainda de acordo com o resultado da pesquisa, a classe C entrou no mercado de consumo e usa esse canal como uma forma de afirmação, mas não sabe o que fazer para proteger seus direitos como consumidora. O problema fica mais grave quando o assunto é a saúde dos filhos. “Ao responder ao questionário, muitas pessoas se perguntavam se seria possível regulamentar a propaganda destinada às crianças”, revela Isabela. É o caso de Maria Beatriz. “Sou a favor de uma regulamentação da publicidade para crianças, principalmente no que diz respeito à alimentação”, diz a fisioterapeuta.

Queda de braço

No início de março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) voltou atrás da decisão de restringir os horários para a propaganda de produtos alimentícios infantis que tenham altos teores de açúcar, gorduras e sódio. Além disso, a agência também desistiu de limitar a publicidade de bebidas de baixo teor nutricional, como refrigerantes, para as crianças. Essas regras deveriam ter sido publicadas pela Anvisa em dezembro, mas, no início deste mês, entidades de defesa do consumidor foram comunicadas de que o órgão apenas manterá alertas sobre os riscos que esses produtos oferecem à saúde.
A agência reguladora afirma que não voltou atrás na decisão de proibir a veiculação dos anúncios, até porque a iniciativa não chegou a ser implementada. Além disso, afirma que não tem amparo legal para decidir sobre o assunto. Mas em 2006, a própria agência havia proposto, por meio de consulta pública, que os comerciais dos alimentos com essas características só pudessem ser veiculados das 21h às 6h. A também avaliou a possibilidade de proibir anúncios de alimentos açucarados e gordurosos – ou com muito sódio – em programas diretamente voltados para as crianças.
Na contramão da decisão do órgão regulador, o levantamento do Instituto Alana constatou que oito em cada dez pais estão muito preocupados com a violência e que 7,5 deles preocupam-se em oferecer aos filhos uma alimentação saudável. O recuo da Anvisa foi um golpe no esforço que vinha sendo construído há quatro anos por entidades de defesa do consumidor como Idec e o próprio Alana no sentido de defender o público infantil do assédio da indústria de alimentos não-saudáveis, que está levando as crianças à obesidade. Hoje, os parâmetros para a propaganda de alimentos destinada a esse público obedecem apenas à autoregulamentação da iniciativa privada. Cada empresa define os seus próprios critérios. (Colaborou Tetê Monteiro)

UAI

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