sábado, 20 de março de 2010

Complexo do Alemão tem "bunkers" e feira atacadista de drogas e armas


Favelas do Rio possuem tenda onde recebem fornecedores, diz policial civil

Traficantes realizam diariamente uma feira atacadista no largo do Coqueiro, na parte alta do complexo de favelas do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. Segundo um policial civil que pediu anonimato, algumas das favelas da facção criminosa que age no Alemão e é chefiada pelo traficante Fernandinho Beira-Mar contam com uma tenda de plástico onde recebem os chamados matutos - fornecedores que trazem mercadorias de países vizinhos - para a compra de armas e drogas.
Policiais informaram à reportagem do R7 que, no Complexo do Alemão, os criminosos têm de três a cinco esconderijos subterrâneos, conhecidos como bunkers. Esses bunkers, segundo um agente da DCOD (Delegacia de Combate às Drogas), são considerados "área vip" na favela e só são frequentados pelos chefões da organização criminosa, entre eles, Marcelinho Niterói, homem de confiança de Beira-Mar, traficante preso na penitenciária de Campo Grande (MS). Os traficantes, segundo policiais, construíram até túneis que ligam os seus principais esconderijos.
Um agente da DRAE (Delegacia de Repressão à Armas e Explosivos) estima que, em todo o complexo, os traficantes tenham cerca de 400 armas pesadas, entre fuzis e metralhadoras antiaéreas. Considerado base da maior facção do tráfico no Rio, o complexo do Alemão não recebe uma grande operação policial desde setembro de 2008, quando a favela foi ocupada para a procura do então chefe do local, o traficante Tota, que teria sido morto por antigos aliados.
A feira do Alemão, segundo policiais, costuma começar às 14h e só acabam por volta das 3h ou 4h. Em cada barraca, ficam até dez seguranças armados com fuzis. Para que o matuto possa participar, ele mantém contato com um emissário que comunica sua chegada ao chefe da favela. Cabe a ele, decidir recebê-lo ou não. Entre os traficantes que possuem tendas no local, estão os chefes das comunidades do Jacarezinho, Mangueira e Mandela, na zona norte, e da Vila Kennedy, na zona oeste. O pagamento pelas armas e drogas, segundo o policial, é feito no ato e sempre em dinheiro. E os criminosos testam as armas na hora para saber se funcionam, dando tiros para o alto..
Os matutos levam cargas de drogas de 3 kg até 20 kg nas malas dos próprios carros, diferentemente dos grandes fornecedores, cujos entorpecentes chegam em caminhões. .
O largo do Coqueiro é o "quartel-general" do complexo do Alemão. No local, os traficantes fazem churrascos e várias festas. Imagens feitas em 2008 mostram o atual chefe do tráfico na favela, conhecido como Pezão, comemorando a suposta morte de Tota rodeado por vários bandidos armados. Pezão segue as ordens do criminoso Marcinho VP, atualmente preso na penitenciária federal de Catanduvas (PR).
Policiais ainda contam que criminosos do alto escalão da organização criminosa baleados em confrontos são levados para o Coqueiro, onde são atendidos por médicos e permanecem durante a recuperação. Por lá, também recebem a visita de prostitutas.

Tráfico na Penha
Vizinho ao Alemão e vinculado à mesma facção, o complexo de favelas da Penha também não recebe uma grande operação policial há meses. Informações de um agente da delegacia de Brás de Pina (38ª DP) dão conta que os traficantes estão preparados para a "guerra". Segundo ele, os criminosos montaram barricadas usando botijões de gás e granadas para dificultar qualquer ação policial.
O complexo, que reúne as comunidades Vila Cruzeiro, Chatuba, Fé, Sereno e Caixa D´Água, recebeu traficantes de comunidades da zona sul que foram ocupadas por UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras), como a Ladeira dos Tabajaras, Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, além da Cidade de Deus, na zona oeste. Segundo um agente da DRAE, os criminosos têm cerca de 200 fuzis e metralhadoras antiáereas..
Os policiais que investigam a criminalidade no complexo não sabem a dimensão exata do poderio bélico dos traficantes. Um agente declarou, no entanto, que grampos telefônicos feitos com autorização da Justiça indicam que, todas as semanas, chegam armas pesadas no local..
- Os bandidos já tinham o arsenal deles e agora têm dos outros que foram para lá. Eles nem usam mais pistolas e fuzis 556. Só querem de calibre 762, ponto 30, ponto 50 para cima..
Com base em informações de colaboradores, os policiais já sabem que as ruas 12 e 29, ambas na Vila Cruzeiro, são os pontos principais de concentração dos bandidos. Segundo o agente, nesses locais, os traficantes têm de tudo que precisam, porque não podem sair da comunidade. Ali, as bocas de fumo funcionam a todo vapor..
O Disque-Denúncia está oferecendo recompensa para quem prestar informações que levem às capturas dos principais chefes do tráfico nos complexos do Alemão e da Penha. Por Pezão, o serviço oferece R$ 2.000, mesma quantia paga pelo traficante Marcelinho Niterói. Já o traficante Fabiano, o FB, que comanda o complexo da Penha, a recompensa chega a R$ 5.000.
Procurada pelo R7, a Secretaria de Segurança Pública informou que, quando a polícia tiver informações concretas sobre o tráfico nessas comunidades, vai realizar operações para tentar capturar os bandidos, como aconteceu na favela da Rocinha, em São Conrado, na zona sul, na semana passada, que resultou na morte de sete supostos traficantes.
A pasta informou ainda que o complexo do Alemão está nos planos para receber uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), mas ainda não há data certa para a implantação.

Polêmica
A falta de operações no complexo do Alemão vem causando polêmica. Nesta semana, a delegacia da Penha (21ª DP) recebeu um pedido do Ministério Público Estadual para abrir procedimento investigatório sobre um oficial do batalhão de Olaria, na zona norte.
O problema, segundo um agente, começou depois que o batalhão teve que cumprir um mandado de prisão contra um traficante no Alemão. O oficial não se recusou a ir, mas comunicou a Promotoria que, para prender o suspeito, precisava montar um grande aparato policial, com a ajuda de helicópteros. Por causa disso, a Justiça determinou ao Ministério Público que solicitasse à polícia a abertura de uma investigação para apurar a conduta do policial.


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