terça-feira, 16 de março de 2010

Vamos conhecer um pouco da África II

Na escola do vilarejo Simonga recebem benefícios diretos de Toka Leya. Quem sabe um desses meninos não será o futuro gerente da pousada em 30 anos?

Surpresas no Zambezi e exemplo de sustentabilidade em Toka Leya

Depois de três semanas na Namíbia, entramos na Zâmbia, o sexto país de nossa viagem. Antes de cruzar a ponte sobre o rio Zambezi e perder a conexão telefônica, recebemos um torpedo de Gerhard Botha, fotógrafo que tem uma loja de equipamentos na capital Windhoek. “Consegui a objetiva Nikon. Favor confirmar a compra da lente 18-200 mm.”
Como relatei em crônica anterior, minha objetiva sofreu um pequeno acidente e fiquei sem grande angular a partir de então. Gerhard, um dos contatos da Wilderness Safaris, havia sido acionado. A boa notícia do torpedo me deixa bem mais tranquilo. Mas como a nova lente chegará às minhas mãos, agora que entro na Zâmbia?


A pergunta é respondida algumas horas mais tarde por Marc Harris, gerente da pousada Toka Leya. “Já estou a par de seu problema com a lente. Quando ela estiver disponível em Windhoek, ela será enviada por avião até a cidade mais próxima. Eu garanto que, em poucos dias, tudo estará resolvido.” Para aliviar um pouco minha agonia, Marc entrega uma lente, emprestada por Dave Bennett, diretor de Wilderness na Zâmbia. “Agora, para relaxar, sugiro que vocês façam um passeio pelo rio Zambezi.”
O rio Zambezi, o quarto em extensão na África, cruza seis países. Suas águas ainda estão transparentes. Na estação das chuvas, a cada dia que passa, o nível sobe um pouco mais e a cor fica mais barrenta. Deslizar sobre o rio e descobrir dezenas de espécies de pássaros me enche de vigor e energia. Donald, nosso motorista, aponta, com entusiasmo, para uma das ilhas. “Um elefante macho. Isso é raro de ver nessa época”.
O animal está na beira da água e chegamos, com cuidado, a uma distância de 10 metros dele. O bicho é enorme! Mikael e eu nos revezamos na foto e no vídeo, extasiados.


A pousada Toka Leya é o destino da terceira etapa da viagem. Enquanto esperamos o envio da nova objetiva, passamos horas e horas trabalhando no laptop, escrevendo roteiros e crônicas e processando fotos e vídeo. Estamos concentrados na escolha das melhores imagens de vídeo da Namíbia, quando um guia nos interrompe. “Perdão incomodá-los, mas talvez vocês gostariam de ver um rinoceronte branco que está bem perto do acampamento”, diz. Em poucos segundos, estamos armados com câmeras e tripés. De jipe, rodamos apenas 100 metros e paramos ao lado de um guarda – este, sim, armado de verdade: leva uma AK-47 nos ombros.
“Vocês podem me seguir, em fila indiana. Chegaremos perto do rinoceronte, a pé”, afirma Clever, um dos seis guardaparques que mantêm os cinco rinocerontes do parque sob constante vigilância, 24 horas por dia. “Essa ação é necessária. Há dois anos, cinco animais foram assassinados e seus chifres foram vendidos a preços altos na China.” Se ficamos impressionados com o tamanho do elefante no Zambezi, nossa sensação de vulnerabilidade frente ao rinoceronte é ainda maior.

A localização da pousada Toca Leya é estratégica, pois está a 20 minutos das Cataratas Vitória (Vic Falls, para os íntimos), uma das sete maravilhas naturais do mundo. Assim como as Cataratas do Iguaçu, Vic Falls está na divisa entre dois países e os pontos de observação na Zâmbia e no Zimbábue se complementam. Do lado da Zâmbia, conseguimos ver um belo arco-íris. Mas ao cruzarmos a ponte para o Zimbábue, a chuva – tão presente nessa época do ano – aparece com força. Gravar uma imagem de 5segundos de vídeo transforma-se em uma epopéia ornamentada de sacos de plástico, guardachuvas e ponchos.


Vic Falls atrai centenas de milhares de turistas anualmente. Mas o impacto negativo do turismo de massa fez com a que a UNESCO considerasse o cancelamento do status de Patrimônio Mundial conferido às cataratas. Esse cartão amarelo provocou uma maior conscientização ambiental na região e a pousada Toka Leya é um dos melhores exemplos de sustentabilidade na esfera de hospedagem.
O acampamento de 12 cabanas aplica uma série de práticas ambientais responsáveis, não para “mostrar que são verdes”, mas porque os executivos de Wilderness compreendem que a única maneira que os hóspedes continuarão a visitar a pousada é se o lugar for mantido em perfeitas condições ambientais. Aquecedores solares para a água quente dos chuveiros, passarelas de madeira para preservar o habitat e uma máquina que “cria” água do ar são algumas das iniciativas ecologicamente corretas de Toca Leya.
Bem menos óbvio para os hóspedes que vem admirar as cataratas e os grandes mamíferos africanos, os bastidores da pousada também refletem uma responsabilidade ambiental. Uma estação de tratamento de água por ozônio transforma as águas cinzas da pousada em um pequeno pântano para as aves. Um minhoqueiro converte os restos de cozinha em fertilizante natural. Um viveiro de plantas nativas dissemina novas árvores no parque que, há alguns anos, estava em mau estado.
As contribuições sociais de Toka Leya não ficam atrás. A pousada apoia a escola do vilarejo Simonga e contribui com doações semanais de combustível e água (quando necessário). Wilderness criou o programa “Children in the Wilderness” (traduzido, Crianças nas Áreas Selvagens) que desfazem as eventuais barreiras entre o turismo de safári e as populações locais. Durante uma semana, dezenas de meninos e meninos das comunidades vizinhas curtem o luxo das acomodações de Toka Leya e aprendem, em primeira mão, como o turismo funciona. Muitos deles saem da experiência com uma nova vocação profissional na cabeça, pretendendo, no futuro, ser gerente de pousada, guia especialista em pássaros ou um chef de cozinha. Nota 10 em Turismo Responsável para Toka Leya e Wilderness!


Época


Viajologia

Haroldo Castro

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