quarta-feira, 17 de março de 2010

Desesperada, mãe acorrenta filho de 13 anos viciado em crack em Piracicaba, SP


SÃO PAULO - Sem políticas públicas, sem ação do Estado, sem opção. Desesperada, a mãe de um adolescente viciado em crack usou um último recurso: acorrentou o filho em casa em Piracicaba, a 168 km de São Paulo. A mãe vai responder a processo por maus tratos. Ela justifica a posição de acorrentar o adolescente como uma única forma de tentar tirar o menino do vício. Segundo a mulher, o adolescente ainda pratica furtos para sustentar o vício do crack.
- Ele já tentou fugir pelo teto e fica muito nervoso quando acorda (após consumir a droga). Eu não aguento mais esta situação. Eu quero que alguém me ajude - afirmou a mãe.
- É difícil. Dói ver ele assim todo dia, assim acorrentado, sem comer. Quando come, vomita por causa da droga. Tem vez que ele fica três dias dormindo assim direto - desabafa.
Quando o garoto acorda, segundo a mãe, ele fica muito agressivo. Para tentar fugir, já quebrou móveis e portas. O consumo da droga é pago com pequeno furtos praticados há um ano.
- A polícia já chegou aqui na porta da minha casa. Falei para o policial que ele estava acorrentado. Ele falou: infelizmente ele vai morrer na mão de bandido ou vai morrer na nossa mão - conta a mãe.
Quando tomou conhecimento do caso, o Conselho Tutelar levou o menino para o hospital. A mãe foi encaminhada para o distrito policial. Na delegacia, a mãe teve que assinar um termo circunstanciado. Isso acontece quando alguém é acusado por um crime considerado leve. Por ter acorrentado o próprio filho ela vai responder a um inquérito de maus tratos. Se condenada, pode ficar presa por um ano e quatro meses.
- Não é maus-tratos. Se tiver que acorrentar de novo eu acorrento. Prefiro fazer isso a vê-lo morto - avisa a mãe.
O Conselho Tutelar diz que não tem opção:
- Não temos para onde encaminhar. É uma falta enorme de política pública nessa área e o conselho Tutelar fica impotente - diz a conselheira tutelar Zélia dos Reis.
Depois de passar por dois prontos-socorros o menino foi internado na Santa Casa de Piracicaba. Ele passou a noite sedado.
A mãe do adolescente disse ainda que nunca conseguiu um tratamento na rede pública de saúde do município. A Secretaria de Saúde informou, por meio da assessoria de imprensa, que nunca foi negado o atendimento ao adolescente. Existe um registro de procura de atendimento de um ano atrás, mas o tratamento não teria dado sequência porque o garoto fugia de casa e faltava às consultas.
Segundo a assessoria, a mãe dele pode procurar assistência no Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Droga no bairro Campestre ou o Ambulatório de Saúde Mental da Vila Cristina.

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