quarta-feira, 17 de março de 2010

Confio nas provas e nos legistas, diz promotor do caso Isabella


Há cinco dias do julgamento do casal Nardoni, acusado por matar a menina Isabella Nardoni, de 5 anos, o promotor do caso, Francisco Cembranelli, afirmou ao iG que o fato de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá não confessarem o crime não mudará a estratégia da acusação para condená-los. “Eu não conto com a colaboração de nenhum deles. É normal os réus negarem a responsabilidade e isso não me afeta”, diz.
Às vésperas do julgamento, que deve ser um dos maiores do País, Cembranelli afirma estar “preparado” e “tranquilo”. “Vivo um dia de cada vez, um passo de cada vez”, disse à reportagem.
Francisco José Tadeu Cembranelli, de 48 anos, atua há 22 anos como promotor e, neste tempo, afirma ter participado de 1.075 julgamentos. Neles, diz que é “praxe os acusados negarem a culpa ou, nos raros casos em que assumem, alegar que agiram em legítima defesa”. “Ninguém diz: ‘o promotor tem razão e preciso pagar pelo crime que cometi’”, ironiza.
Alexandre e Anna Carolina Jatobá negam veementemente o crime. Inclusive, divulgaram cartas e concederam entrevista à TV alegando inocência. “Isso não prejudica meu trabalho, confio nas provas e nos legistas que olharam o corpo de Isabella”, diz Cembranelli.

Estratégia

Cembranelli afirma que, durante o julgamento do casal, marcado para o dia 22 de março, não abordará somente o que aconteceu na noite do dia 29 de março de 2008, quando Isabella morreu após cair da janela do 6º andar do Edifício London, na zona norte da capital paulista. “Vou mostrar o histórico de vida daquelas pessoas. Vou contar a história muito antes do dia 29 para que os jurados possam se situar e entender tudo o que se passou”, explica.
O promotor, que escolheu quatro testemunhas de acusação, entre elas a mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, diz não temer fatos novos que possam ser mostrados pelo advogado do casal, Roberto Podval. “A prova já está toda produzida. Eu não fico pensando no que pode acontecer, só analiso concretamente o que o processo tem”, afirma. Ele explica que, além de mostrar como o crime foi cometido, falará sobre a produção da prova pericial e todos os passos da investigação.

Preparação

Quando perguntado se abandonou os outros processos para se dedicar integralmente ao caso Isabella, Cembranelli ri e brinca: “não virei promotor americano que cuida só de um caso”. Atualmente, afirma estar com cerca de 700 casos, entre processos e inquéritos. “Nem nos momentos mais críticos eu abandonei os outros. Às vezes, a imprensa estava no Tribunal e eu participando de outro julgamento”, afirma.
O promotor enfatiza que a repercussão do caso e a atenção dada pela mídia ao assunto não influenciaram o trabalho da polícia. “O tumulto fora da delegacia e do Fórum não chegava até nós. Ouvimos quase 60 testemunhas em clima de tranquilidade”, garante.
Apesar disso, admite que, em mais de 20 anos de promotoria, nunca ficou tão conhecido, a ponto de ser parado nas ruas. Aos que o criticam por supostamente se expor demais, Cembranelli diz que está sendo “apenas transparente”. “Sempre estive de portas abertas à imprensa e a quem me procura no meu gabinete. Faço isso porque sou promotor de Justiça e, se me coloco como defensor da sociedade, preciso estar à disposição para esclarecê-la”, defende.
Ele também rebate as críticas de que teria acusado o casal rápido demais: “só ofereci denúncia contra eles 35 dias após o crime, em 7 de maio”.

Condenação e pena

De acordo com Cembranelli, se condenados, Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni devem pegar de 15 a 18 anos de prisão. Eles são acusados de homicídio triplamente qualificado – meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e para encobrir crime anterior (que seria a esganadura) – e fraude processual. O promotor considera que uma eventual confissão pouco mudaria o resultado. “Esta é só uma hipótese entre mil que existem. A confissão traria uma atenuante, mas que pouco tiraria de uma pena consideravelmente alta”, afirma.
Para um crime como este, a pena é satisfatória? “Em um País com leis mais rigorosas, seria maior. Aqui, é este o patamar para esse tipo de delito”, conforma-se.

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