sábado, 20 de março de 2010

Quatro capitais brasileiras estão entre as mais desiguais do mundo, diz ONU

PARIS - Quatro capitais brasileiras estão entre as mais desiguais do mundo : Goiânia, Fortaleza, Belo Horizonte e Brasília, segundo o relatório "Situação das cidades do mundo 2010-2011", da Habitat, a agência da ONU para habitação. Depois de Buffalo City , Johannesburg e Ekurhuleni, todas na África do Sul, as brasileiras foram classificadas como cidades "extremamente desiguais". Isto é : onde o fosso entre ricos e pobres é muito grande.
Mas a Habitat poupa o Brasil ao comparar a desigualdade destas cidades com os piores casos da África.
- Embora cidades brasileiras, em geral, tenham graus de desigualdade de renda extremamente altos, estão muito melhor do que cidades altamente desiguais na África quando se trata de saneamento e água encanada. Em 2007, embora a capital Brasília tivesse um índice Gini (que mede a desigualdade) muito alto, 90% da população tinha acesso à água encanada e 88% à saneamento básico - diz o relatório.
O índice Gini - entre 0 e 1 - mede a distribuição no consumo e na renda de um país, e é usado no mundo inteiro como indicador de desigualdade: quanto mais próximo de 1, maiior a desigualdade. As quatro capitais brasileiras, segundo a ONU, têm índice acima de 0.60.
Outras cidades com alto coeficiente de desigualdade são Bogotá (Colômbia), com 0.55, Buenos Aires (Argentina), Santiago do Chile e Quito (Equador), têm entre 0.51 e 0.55. Beijing, na China, é a cidade com menor índice de desigualdade: 0.22. E até Caracas, na Venezuela, aparece na lista das cidades menos desiguais do mundo: 0.39.
Se medida só com base na distribuição de consumo, cidades como Dhaka e Chittagong (ambas em Bangladesh), estão entre as cidades mais igualitárias do mundo. Mas não há o que comemorar: a população está "igual" por baixo, isto é, na mais absoluta na pobreza. Washington D.C, nos EUA, também é citada como uma cidade altamente desigual (0.53).
Segundo a Habitat, há vários outros problemas afetando cidades do mundo. Uma delas é que a prioridade na urbanização e nas reformas estão sendo dada à população rica, e não aos pobres, segundo sondagem em 30 cidades de vários continentes.
Má nutrição nas favelas é outro problema : o relatório diz que "cada vez mais as pessoas vivendo em cidades vão dormir com mais fome a cada noite, mais do que os que estão no campo". O relatório também chama atenção para o baixo índice de escolaridade de crianças nas favelas brasileiras. O Brasil é comparado com a Guatemala, onde apenas 54% das crianças vivendo em favelas estavam em escolas primárias em 1999.
A Habitat faz um apelo para que governos direcionem mais suas políticas para jovens das cidades, que estão sendo marginalizados, o que contribui para as desigualdades. Um estudo da Habitat mostrou que no Rio de Janeiro, com uma população de jovens de 1 milhão de um total de 6.1 milhão, políticas não estão funcionando : cursos são criticados pelos jovens por serem "insuficientes ou esporádicos" e sem conexão com o mercado.
Segundo o relatório, cidades estão crescendo e se conectando em eixos que o Habitat chama de "mega-regiões" ou "corredores urbanos". A agência da ONU, por exemplo, define o eixo São Paulo- Rio de Janeiro, onde 43 milhões de pessoas vivem, como uma mega-região. E vê vantagens nisso : estas "mega-regiões" estão crescendo mais rápido econômicamente do que "mega-cidades" (definidas como tendo mais de 20 milhões de habitantes), porque há estímulo para negócios, mais desenvolvimento imobiliário e valorização das terras, por exemplo. Mas há uma desvantagem : como estes corredores ganham muita importância econômica, outras regiões no país acabam ficando prejudicadas.
- Há o perigo de criar uma nova hierarquia urbana e mais padrões de exclusão econômica e social - diz o relatório.
Rio de Janeiro, São Paulo, cidade do México e Buenos Aires são as quatro mega cidades no mundo em desenvolvimento que, sozinhas, são responsáveis por 1.5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Já na Europa, por exemplo, Bruxelas contribui com 44,4% do PIB de seu país, a Bélgica.

Deborah Berlinck


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