– Vamos ter juízes, promotores, representantes da Câmara Municipal, da Assembleia Legislativa, secretarias municipais de Saúde, Educação, Ordem Pública, da Pessoa com Deficiência, secretarias estaduais de Saúde, Assistência Social e Direitos Humanos, Segurança Pública e de Governo e os ministérios da Saúde, do Desenvolvimento e da Educação – revela o secretário municipal de Assistência Social. – É necessária essa ação porque o que temos hoje é uma doença que mata e que está crescendo, ou seja, uma epidemia.
A ideia é que o grupo saia da reunião e já comece a elaborar algumas propostas para análise do prefeito Eduardo Paes. Fernando William pretende inclusive ir a Brasília com secretário municipal de Saúde, Hans Dohmann, para solicitar recursos para contratação de médicos e implantação de enfermarias para internação, ainda que de caráter temporário.
– O crack é um problema de saúde pública e de nível nacional – enfatiza Fernando William. – Temos de fazer tudo que possa ser feito: sites e blogs na internet, participação da sociedade, que precisa se envolver denunciando aproveitadores das meninas que se prostituem para comprar a droga, escolas identificando os primeiros sintomas dos envolvidos. A maioria dessas crianças e adolescentes está num estágio de envolvimento no qual precisa de internação, de tratamento médico mesmo.
O grau de envolvimento é tão grande que, em alguns casos – como o flagrado pelo Jornal do Brasil em frente aos Arcos da Lapa, quando C.H., 25 anos, consumia a droga próximo a um trailer da Polícia Militar – o viciado não teme represália. E, após a hora de duração dos efeitos do crack, entra em desespero por mais droga.
Além da degradação humana provocada pelo consumo do crack, os menores de rua acometidos são invariavelmente enquadrados em pequenos furtos, no caso dos meninos, e prostituição infantil, no caso das meninas. De acordo com o secretário, as menores chegam a fazer programas por dois reais para sustentar o vício.
– Crack e prostituição infantil são indissociáveis – afirma Fernando William.
Ele cita o caso de uma menina de 12 anos acolhida na semana passada. Portadora do vírus HIV por conta da prostituição que paga o crack, ela dizia saber da intenção dos educadores de dar ajuda, mas se negava continuar o tratamento porque o crack “chama”. Diante da afirmação de que sem se tratar e ao dar continuidade à prostituição ela contaminaria outras pessoas, a menor foi categórica:
– Eles lá têm pena de mim, que tenho 12 anos? Por que tenho que ter pena deles?
Uma das ações imediatas da Secretaria Municipal de Assistência Social no combate ao crack será a busca das famílias dos menores recolhidos das ruas. A estimativa da secretaria é que 400 crianças e adolescentes vivam nas ruas; desse número, 90% seria de usuários.
– A solução é a família. Você pode resolver tudo, mas se a situação familiar não for adequada, não adianta – aponta. – É altamente alarmante porque a criança pobre, de rua e em situação de abandono, que antes usava cola de sapateiro e solvente, agora começa a usar o crack. O solvente e a cola de sapateiro têm danos, mas se comparados ao crack são mínimos.
No caso de impossibilidade de identificação das famílias dos menores acolhidos – que seriam integradas em programas sociais para apoio ao problema – e consequente reintegração ao ambiente familiar por rejeição, por exemplo, a secretaria optará pelo programa já existente da Família Acolhedora – o único que não sofreu cortes de repasse de verbas por conta da crise financeira do município.
Bruna Talarico
Jornal do Brasil
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