domingo, 7 de junho de 2009

Indígenas do Pará vão assinar primeiro contrato de crédito de carbono para preservar florestas

RIO - Depois de um ano de negociações, os índios tembé-ténêtéhar vão assinar esta semana um contrato histórico. Eles passarão a receber dinheiro lá de fora para manter a floresta em pé dentro da reserva, que é um pouco maior que Brasília e as cidades satélites que compõem o Distrito Federal. É o que mostra a reportagem de Liana Melo publicada na edição deste domingo do jornal O GLOBO. A repórter viajou à Terra Indígena Alto Rio Guamá, no Pará.
Vídeo: conheça o território dos tembés e veja depoimentos sobre a parceria.
O contrato de venda de crédito de carbono estava previsto para ser assinado na última sexta-feira, Dia Mundial do Meio Ambiente. Só que as chuvas adiaram a cerimônia, que acontecerá me Belém. O acordo vai juntar a empresa americana C-Trade e os índios da Terra Indígena Alto Rio Guamá, que vivem no noroeste do Pará.
O presidente mundial da C-Trade, Ronald Schiflett, continua no país, esperando a chegada dos novos parceiros a Belém. Como vai ser um encontro de negócio, o executivo pretende encontrá-los, no dia da assinatura do contrato, vestindo um terno. Os índios também irão a caráter ao encontro, com seus cocares e suas pinturas corporais representando as tradições da etnia, tudo feito à base de jenipapo e urucum. O encontro será feito com tradução simultânea, já que o executivo só fala inglês e alguns dos índios - como os líderes das aldeias -, preferem o tupi-guarani.
- A proposta da C-Trade é vantajosa para nós - admite Valdeci Tembé, líder da comunidade Susuarana, uma das 14 aldeias situadas ao sul da Terra Indígena Alto Rio Guamá, às margens do Rio Gurupi, e um dos entusiastas da proposta entre os indígenas com Muxi Tembé, líder da aldeia Tekowau. Clique aqui e confira imagens do cotidiano dos tembés.
Como os tembé-ténêtéhar vivem permanentemente sob ameaça dos madeireiros, a reserva é considerada uma das mais ameaçadas do Pará, de acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Sem praticamente nenhuma fonte de renda, a venda de toras de madeira ilegal virou uma das únicas alternativas para algumas das 216 famílias que vivem na terra indígena. Não bastasse os madeireiros que costumam invadir a reserva, parte dela já está ocupada com plantação de maconha. O plantio, segundo os próprios índios, é feito pelos traficantes de drogas.
Cálculos conservadores da C-Trade projetam um retorno financeiro para os índios de R$ 1 milhão anuais. A oferta feita aos índios prevê que eles ficarão com 85% das vendas do crédito de carbono no mercado internacional e os 15% restantes, com a empresa. Apenas um quarto da reserva será alvo do contrato. Para cada hectare de mata nativa preservada, calcula-se que quatro toneladas de gás carbônico (CO2) deixarão de ser jogados na atmosfera.
Tembés são guardiões de 'armazém de carbono' em plena Amazônia
Estão estocadas apenas na Terra Indígena Alto Rio Guamá 145,39 toneladas de carbono por hectare. É um volume tão grandioso que transforma os tembé-ténêtéhar em verdadeiros guardiões de um imenso "armazém de carbono" em plena floresta Amazônica: 40,8 milhões de toneladas de carbono armazenados num território de 279 mil hectares, na divisa com o Maranhão.
Os tembé-ténêtéhar com as 281 terras indígenas espalhadas pela Amazônia e mais as 61 reservas extrativistas da região estocam um volume total de carbono de 15 bilhões de toneladas. Isto significa 30% dos 47 bilhões de toneladas de carbono estocados em troncos, galhos, folhas e o próprio solo das florestas amazônicas, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Especialistas alertam que, caso todo esse volume seja liberado para atmosfera, o efeito seria um agravamento ainda maior da crise climática.



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