domingo, 16 de agosto de 2009

A síndrome que impede o funcionamento das glândulas salivares e lacrimais atinge 2% da população

Imagine ter que chorar sem lágrimas ou engolir alimentos sem a ajuda da saliva. Esse é o cotidiano de quem sofre da síndrome de Sjögren, doença de nome difícil, pouco conhecida, mas que atinge cerca de 2% da população mundial. O mal se manifesta quando o sistema de defesa do organismo ataca e impede o funcionamento das glândulas salivares e lacrimais, responsáveis pela lubrificação da boca e dos olhos. Pouco se sabe sobre as causas da doença, que acomete mulheres em 90% dos casos e não tem cura. Com um tratamento contínuo, contudo, é possível controlar os sintomas e levar uma vida normal.
Sintomas como boca seca, sensação de areia nos olhos, sede excessiva e dificuldade de sentir o sabor dos alimentos podem ser indicativos da doença, descoberta pelo oftalmologista sueco Henrik Sjögren-Larsson, em 1957. Nesses casos, o mais indicado é procurar um reumatologista, que poderá determinar por meio de biópsia de glândulas salivares e exames clínicos se o paciente é portador da síndrome. Quanto antes for feito o diagnóstico, melhor será a qualidade de vida do paciente e mas fácil será para o tratamento ser realizado.
De acordo com a dentista e professora do departamento de odontologia da Universidade de Brasília Nilce Santos de Melo, uma das principais barreiras para o tratamento é o diagnóstico. “Os principais sintomas, como boca seca e sensação de areia nos olhos, são associados a várias doenças, o que torna difícil definir se é Sjögren”, explica. Em lugares como Brasília, onde são registrados baixos índices de umidade, durante boa parte do ano, o problema é agravado.A falta de conhecimento também dificulta o tratamento. “Pouca gente sabe que ela existe, e nem todos os médicos conhecem seus sintomas, por isso muitas vezes o paciente carrega a síndrome há anos e não sabe” diz a dentista. “O agravamento dos sintomas pode levar a quadros mais graves, como perda de dentes, úlceras e infecções bucais”, alerta Nilce.

Demora
A funcionária pública Andréia Freitas, 36 anos, passou por dentistas, endocrinologistas e um clínico geral até descobrir que é portadora da síndrome. “Eu ficava com a boca e a pele ressecadas durante todo o ano, mesmo quando o tempo não estava seco”, conta. Hoje, mantém cuidados diários para controlar os sintomas. “Antes de dormir, passo um gel nos olhos, sempre uso hidratantes no corpo e tento umedecer a minha boca o dia todo.”Andréia conta que, com o tempo, o convívio com a doença vai ficando mais fácil. “No início, eu ficava muito irritada, porque sabia que teria que viver com isso para sempre. Com o tempo e com os sintomas controlados, você vai aprendendo a conviver bem com a síndrome.” Para ela, o maior problema foi a demora no diagnóstico. “Tive que passar por três médicos antes de descobrir o que eu tinha. Esse período foi muito difícil, pois os sintomas iam aumentando e ninguém sabia o que fazer”, completa.
A melhor forma de controlar os sintomas bucais da síndrome de Sjögren é ingerindo líquidos, em especial sucos e chás, além do estímulo mecânico. “Esse estímulo pode ser feito por meio da ingestão de frutas cítricas ou mascando chicletes sem açúcar, que estimulam as glândulas a produzirem mais saliva”, conta Nilce Santos Melo. Para controlar a manifestação ocular da doença, é essencial o uso de colírios, que funcionam como uma espécie de lágrima artificial, especialmente em períodos secos, ou à noite, quando o olho nunca se fecha totalmente. Maquiagem nos olhos, como rímel e sombras, deve ser evitada, pois contribui para agravar o ressecamento da região.
Existem dois tipos de doença, o primário, que é quando a síndrome aparece isolada, e o secundário, quando ela vem associada a outra doença relacionada à autoimunidade, como lúpus e artrite reumatoide. Esse foi o caso da assistente social Maria Maia, 35 anos. Durante o tratamento de uma artrite, ela descobriu que tem a forma secundária da síndrome. No caso de Maria, a recorrência de duas doenças dificultou o controle dos sintomas. “Foi a parte mais difícil, conviver com a dor nos olhos causada pela síndrome e a dor no corpo por causa da artrite”, conta ela, hoje com os sintomas controlados.

Na gravidez
Portadoras da doença que estejam grávidas pedem, em geral, atenção dobrada, principalmente nos primeiros meses, já que é o período em que o corpo naturalmente tende a provocar abortos espontâneos. Quando o paciente já tem um histórico de autoimunização, esse risco é potencializado, pois o organismo tende a agir contra qualquer corpo que considere “estranho”.
Esse foi o receio que Maria sentiu no ano passado, quando decidiu que era hora de engravidar. Para evitar que acontecesse qualquer problema, foi acompanhada por um obstetra especializado em gestações de alto risco. “Eu tive a gravidez acompanhada de muito perto por um médico, o que foi essencial para que eu não tivesse nenhuma complicação”, comemora, enquanto brinca com a pequena Letícia, de apenas seis meses.

Fonte: Correio Braziliense

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