sábado, 10 de outubro de 2009

Estudo liga origens da família de Michelle Obama à escravidão


HISTÓRIA :Fraser Robinson III e sua mulher, Marian, com os filhos, Craig e Michelle, atualmente a primeira-dama dos Estados Unidos

Pesquisa genealógica publicada pelo jornal The New York Times mostra como a história da primeira-dama dos EUA representa um pedaço importante da história do país

Um estudo realizado pela genealogista Megan Smolenyak e publicado pelo jornal The New York Times conseguiu elaborar a árvore genealógica da primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, e mostrar como suas origens podem ser traçadas de volta para o século 19, período em que a escravidão ainda vigorava nos Estados Unidos.
A antepassada de Michelle que mais chama a atenção é sua tataravó, Melvinia, cujo primeiro registro aparece na divisão dos bens de David Patterson, um branco dono de terras na Carolina do Sul que morreu em 1850. Na época, Melvinia tinha apenas 6 anos e se tornou propriedade de Henry Shields, filho de David, e Christianne, a mulher de Henry.
A propriedade de Henry Shields ficava no Estado da Geórgia e tinha apenas três escravos, incluindo Melvinia. Segundo o NYT, não há registros de quais atividades ela cumpria, mas um censo da agricultura americana realizado em 1860 mostra que a propriedade tinha plantações de trigo, milho, batata doce e algodão, além de três cavalos, cinco vacas, 17 porcos e 20 ovelhas.
Melvinia teve um filho, Dolphus, quando tinha cerca de 15 anos, mas a paternidade é desconhecida. Segundo um censo de 1870, Dolphus era mulato, o que indica que ele era filho de um homem branco. O garoto recebeu o sobrenome Shields, mas é impossível saber se foi Henry ou um de seus quatro filhos que engravidou a ancestral de Michelle. Segundo Jason A. Gillmer, profesor da universidade Texas Wesleyan ouvido pela reportagem, estuprar as escravas era praticamente um hábito no século 19. Entretanto, era comum também que os escravos adotassem os sobrenomes de seus proprietários.
Enquanto a história de Melvinia tem poucos detalhes, a vida de Dolphus foi recuperada em grande parte pelo jornal e pela genealogista. Sua primeira mulher foi Alice, a trisavó de Michelle Obama, e o casal se mudou em 1888 para Birmingham, também na Geórgia. Dolphus era carpinteiro, sabia ler e escrever e, em 1900, já tinha casa própria, um feito e tanto para quem nasceu como escravo. Em 1911, o censo mostrava que ele era dono de uma carpintaria.
Dolphus foi co-fundador de duas igrejas Batistas que se tornaram centros importantes na luta pelos direitos civis nos EUA na metade do século 20 e era um homem “muito sério”, segundo Helen Heath, de 88 anos, entrevistada pelo NYT e que frequentava a mesma igreja que Dolphus.


O trisavô de Michelle se casou quatro vezes e, com a quarta mulher, Lucy, criou Bobbie Holt, hoje com 73 anos. Segundo ela, Dolphus “claramente tinha parentes brancos” – por conta da dor da pele e da textura do cabelo – e não gostava de falar de seu passado, já que os EUA daquela época eram rigidamente segregados, com os negros proibidos de votar, de entrar em determinados restaurantes e de ter propriedades em bairros de brancos.
A carpintaria de Dolphus, no entanto, era uma ligação entre brancos e negros. “Os brancos iam à sua loja, sentavam e conversavam”, disse Bobbie Holt. Segundo ela, Dolphus acreditava que as relações entre brancos e negros “um dia melhorariam”.
Um dos filhos do primeiro casamento de Dolphus, Robert Lee Shields, se casou com Annie Lawson em 1906 e provavelmente morreu aos 32 anos. Foi o filho deste casal, Purnell Shields, que levou a família para Chicago. Pintor, Purnell se casou com a enfermeira Rebecca Jumper, com quem teve sete filhos, incluindo Marian Lois Shields, a mãe de Michelle.
Segundo o NYT, Michelle preferiu não se manifestar sobre a reportagem, mas certamente deve ter ficado surpresa, como ficou Bobbie Holt, a mulher criada pelo trisavô da primeira dama, quando soube que seu pai de criação era parente da mulher de Obama. “Eu sempre o admirei muito, mas eu nunca teria imaginado algo assim. Louvado seja Deus, nós percorremos um longo caminho”, disse ela.



Época

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