A população da Índia tem por origem dois grupos de ancestrais tão geneticamente distintos um do outro quanto dos demais asiáticos, de acordo com a mais ampla pesquisa sobre o DNA da herança genética indiana já realizada até agora. Hoje em dia, porém, a população indiana em geral provém de uma mistura imprecisa dos dois grupos, a despeito da natureza estratificada da sociedade do país.
"Todos os indianos são bastante semelhantes", diz Chris Tyler-Smith, pesquisador do genoma no Instituto Wellcome Trust Sanger, de Cambridge, Inglaterra, que não participou do estudo. "A subdivisão da população não teve efeito dominante".
A Índia responde por cerca de um sexto da população mundial, mas até agora o país do sul da Ásia vinha sendo representado com baixa frequência nos estudos de variação genética humana baseados em genomas completos. O International HapMap Project, por exemplo, inclui populações com ancestrais africanos, leste-asiáticos e europeus - mas não indianos.
O mais perto que o Human Genome Diversity Cell Line Panel, um estudo com 51 populações mundiais, chega da Índia é o Paquistão, vizinho do país a oeste. O banco de dados Indian Genome Variation foi lançado em 2003 para preencher essa lacuna, mas até o momento o projeto estudou apenas 420 diferenças de letras de DNA, conhecidas como polimorfismos de nucleotídeo único, em 75 genes.
Divisões por casta
Agora, uma equipe liderada por David Reich, do Instituto Broad, de Cambridge, Massachusetts, e por Lalj Singh, do Centro de Biologia Celular e Molecular de Hydebarad, Índia, analisou mais de 560 mil polimorfismos de nucleotídeo único nos genomas de 132 indivíduos indianos provenientes de 25 grupos étnicos e tribais distintos espalhados por todo o território.
Os pesquisadores demonstraram que a maioria das populações indianas é formada por misturas genéticas de dois grupos antigos e geneticamente divergentes, que contribuíram cada qual com entre 40% e 60% do ADN para a maioria das populações atuais. Uma das linhagens ancestrais - geneticamente assemelhada à de populações do Oriente Médio, Ásia Central e Europa- tem presença mais elevada nos indivíduos de mais alta casta que falam idiomas indoeuropeus como o hindi, constataram os pesquisadores. A outra linhagem não é próxima à de qualquer grupo radicado fora do subcontinente indiano, e é mais comum entre as pessoas nativas das ilhas Andaman, um remoto arquipélago na Baía de Bengala.
Os pesquisadores também constataram que as populações indianas são muito mais subdivididas que as europeias. Mas enquanto os ancestrais dos europeus tendem a se distinguir basicamente por traços geográficos, a separação entre as populações indianas ocorre em geral ao longo das linhas de castas. "Existem populações que viveram na mesma cidade ou aldeia por milhares de anos sem troca intensiva de genes", diz Reich.
O enigma dos números
As populações indianas, ainda que sejam atualmente muito elevadas no que tange a números, também foram fundadas por grupos relativamente pequenos de indivíduos, sugere o estudo. Em termos gerais, o quadro que emerge é o de uma mistura genética no passado distante, diz Reich, seguida por fragmentação na forma de grupos étnicos pequenos e isolados, que posteriormente se mantiveram separados por milhares de anos devido ao número razoavelmente limitado de casamentos entre integrantes de diferentes grupos.
Esses indícios genéticos refutam as alegações de que a estrutura de castas indiana na verdade seja uma criação moderna dos colonizadores britânicos, afirmam os autores do estudo. "A ideia de que as castas na verdade existem mesmo há milhares de anos é uma constatação importante", disse Nicole Bolvin, arqueóloga que estuda a pré-história do sul da Ásia na Universidade de Oxford, no Reino Unido. "Afirmar que a endogamia tem raízes antigas a esse ponto, e que a genética é capaz de confirmar o fato, será controverso para muitos antropólogos".
Boivin teme que o estudo possa ser "manipulado" por políticos que desejam manter as estruturas de casta na Índia, e apela a cientistas sociais e geneticistas por trabalho colaborativo quanto a questões "altamente politizadas", como essa.
Para além das repercussões sociais do estudo, os baixos índices de mistura genética "poderiam ter importantes implicações para os estudos biomédicos de populações indianas", aponta Sarah Tishkoff, geneticista humana da Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia, que não participou da pesquisa. A estrutura dividida da população não será levada em conta em quaisquer esforços para mapear os genes de doenças, disse.
O pequeno número de fundadores de cada grupo indiano também pode ter consequências no campo clínico, de acordo com Reich. "Haverá muitas doenças recessivas na Índia que serão diferentes em cada população e que seremos capazes de buscar e mapear geneticamente", ele afirma. "Isso poderá ter efeitos importantes sobre a saúde dos indianos".
Os indícios de que a maioria dos indianos apresenta composição genética semelhante, ainda que os dados antropológicos demonstrem que os indianos tendem a casar com pessoas de seu próprio grupo, "são altamente intrigantes", afirma Aravinda Chakravarti, geneticista molecular humano na escola de medicina da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, Maryland.
Por exemplo, Chakravarti aponta que o estudo não tem como estabelecer uma data básica para que a mistura ancestral das duas populações tenha acontecido. "Existem traços muito curiosos e difíceis de explicar, nos dados obtidos", ele afirma, acrescentando que "a história não vai terminar por aqui".
Nature
Terra Notícia
"Todos os indianos são bastante semelhantes", diz Chris Tyler-Smith, pesquisador do genoma no Instituto Wellcome Trust Sanger, de Cambridge, Inglaterra, que não participou do estudo. "A subdivisão da população não teve efeito dominante".
A Índia responde por cerca de um sexto da população mundial, mas até agora o país do sul da Ásia vinha sendo representado com baixa frequência nos estudos de variação genética humana baseados em genomas completos. O International HapMap Project, por exemplo, inclui populações com ancestrais africanos, leste-asiáticos e europeus - mas não indianos.
O mais perto que o Human Genome Diversity Cell Line Panel, um estudo com 51 populações mundiais, chega da Índia é o Paquistão, vizinho do país a oeste. O banco de dados Indian Genome Variation foi lançado em 2003 para preencher essa lacuna, mas até o momento o projeto estudou apenas 420 diferenças de letras de DNA, conhecidas como polimorfismos de nucleotídeo único, em 75 genes.
Divisões por casta
Agora, uma equipe liderada por David Reich, do Instituto Broad, de Cambridge, Massachusetts, e por Lalj Singh, do Centro de Biologia Celular e Molecular de Hydebarad, Índia, analisou mais de 560 mil polimorfismos de nucleotídeo único nos genomas de 132 indivíduos indianos provenientes de 25 grupos étnicos e tribais distintos espalhados por todo o território.
Os pesquisadores demonstraram que a maioria das populações indianas é formada por misturas genéticas de dois grupos antigos e geneticamente divergentes, que contribuíram cada qual com entre 40% e 60% do ADN para a maioria das populações atuais. Uma das linhagens ancestrais - geneticamente assemelhada à de populações do Oriente Médio, Ásia Central e Europa- tem presença mais elevada nos indivíduos de mais alta casta que falam idiomas indoeuropeus como o hindi, constataram os pesquisadores. A outra linhagem não é próxima à de qualquer grupo radicado fora do subcontinente indiano, e é mais comum entre as pessoas nativas das ilhas Andaman, um remoto arquipélago na Baía de Bengala.
Os pesquisadores também constataram que as populações indianas são muito mais subdivididas que as europeias. Mas enquanto os ancestrais dos europeus tendem a se distinguir basicamente por traços geográficos, a separação entre as populações indianas ocorre em geral ao longo das linhas de castas. "Existem populações que viveram na mesma cidade ou aldeia por milhares de anos sem troca intensiva de genes", diz Reich.
O enigma dos números
As populações indianas, ainda que sejam atualmente muito elevadas no que tange a números, também foram fundadas por grupos relativamente pequenos de indivíduos, sugere o estudo. Em termos gerais, o quadro que emerge é o de uma mistura genética no passado distante, diz Reich, seguida por fragmentação na forma de grupos étnicos pequenos e isolados, que posteriormente se mantiveram separados por milhares de anos devido ao número razoavelmente limitado de casamentos entre integrantes de diferentes grupos.
Esses indícios genéticos refutam as alegações de que a estrutura de castas indiana na verdade seja uma criação moderna dos colonizadores britânicos, afirmam os autores do estudo. "A ideia de que as castas na verdade existem mesmo há milhares de anos é uma constatação importante", disse Nicole Bolvin, arqueóloga que estuda a pré-história do sul da Ásia na Universidade de Oxford, no Reino Unido. "Afirmar que a endogamia tem raízes antigas a esse ponto, e que a genética é capaz de confirmar o fato, será controverso para muitos antropólogos".
Boivin teme que o estudo possa ser "manipulado" por políticos que desejam manter as estruturas de casta na Índia, e apela a cientistas sociais e geneticistas por trabalho colaborativo quanto a questões "altamente politizadas", como essa.
Para além das repercussões sociais do estudo, os baixos índices de mistura genética "poderiam ter importantes implicações para os estudos biomédicos de populações indianas", aponta Sarah Tishkoff, geneticista humana da Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia, que não participou da pesquisa. A estrutura dividida da população não será levada em conta em quaisquer esforços para mapear os genes de doenças, disse.
O pequeno número de fundadores de cada grupo indiano também pode ter consequências no campo clínico, de acordo com Reich. "Haverá muitas doenças recessivas na Índia que serão diferentes em cada população e que seremos capazes de buscar e mapear geneticamente", ele afirma. "Isso poderá ter efeitos importantes sobre a saúde dos indianos".
Os indícios de que a maioria dos indianos apresenta composição genética semelhante, ainda que os dados antropológicos demonstrem que os indianos tendem a casar com pessoas de seu próprio grupo, "são altamente intrigantes", afirma Aravinda Chakravarti, geneticista molecular humano na escola de medicina da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, Maryland.
Por exemplo, Chakravarti aponta que o estudo não tem como estabelecer uma data básica para que a mistura ancestral das duas populações tenha acontecido. "Existem traços muito curiosos e difíceis de explicar, nos dados obtidos", ele afirma, acrescentando que "a história não vai terminar por aqui".
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