domingo, 4 de outubro de 2009

Sicride reencontra 98% das crianças desaparecidas no Paraná

Quase 50% das crianças que desaparecem no País não são encontradas. Nos últimos nove anos, pelo menos 1.257 crianças e adolescentes brasileiros desapareceram. Segundo estatística da Rede Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos (ReDesap), pouco mais da metade (648) foi encontrada e 609 permanecem desaparecidas.
Os estados com mais registros de desaparecidos são Distrito Federal (297), Rio de Janeiro (144), São Paulo e Sergipe (ambos com 126), Goiás (94) e Minas Gerais (72). Apesar de expressivos, os números devem estar subestimados, na avaliação do antropólogo Benedito Rodrigues dos Santos, coordenador da ReDesap e secretário-executivo do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). O problema é mais comum em regiões metropolitanas do que no interior dos Estados.
No Paraná, a situação é inversa. De um total de 1,2 mil casos registrados nos últimos 13 anos, 22 não foram solucionados. Muito desse resultado pode ser creditado ao Serviço de Investigações de Crianças Desaparecidas (Sicride), que atua desde 1996. Desde então, dez casos permanecem sem solução, além de outros 12 que já estavam em aberto antes da criação do órgão, que ainda hoje é a única delegacia do País que atua especificamente no desaparecimento de crianças de zero até 12 anos incompletos. Alguns outros estados têm trabalhos semelhantes, mas não específicos, como delegacia para cuidar de pessoas desaparecidas ou até um setor dentro de uma outra delegacia.
Dos cerca de 80 a 100 casos que aparecem anualmente, o único caso deste ano, até agora, que permanece sem solução é o da menina Arielle, de três anos, do município de Lidianópolis, que desapareceu em maio e pelo qual o tio é o principal suspeito. Nos anos de 2006, 2007 e 2008, todos os casos de crianças desaparecidas foram resolvidos, segundo informações da delegada do Sicride, Ana Cláudia Machado.
O desaparecimento de crianças é encarado como algo sazonal. A criação do Sicride foi decidida na década de 1990, quando havia quadrilhas especializadas em adoção internacional. Hoje, de 3 a 5% das crianças são encontradas sem vida, como a menina Rachel Genofre, cujo corpo foi encontrado dentro de uma mala na rodoferroviária de Curitiba no ano passado. Mais de 80% dos casos tem como principal causa a fuga de casa, muitas vezes pela criança sofrer violência física ou sexual dentro do próprio lar.

Falta de comunicação
Um dos principais entraves que o Brasil ainda tem para resolver casos de crianças desaparecidas assim como outros tipos de crime é a falta de comunicação e de repasse de informação entre os estados. O Paraná é um dos poucos estados que faz parte do projeto Caminho de Volta, proposta do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Com base em técnicas de biologia molecular, genética e informática, o sistema garante um banco de informações com a coleta de exames de DNA capaz de ser comparado com sistemas vigentes em outros países.
Projeto de lei que tramita no Senado Federal prevê a criação de um Cadastro Nacional de Crianças Desaparecidas, que até agora não foi formado por divergências de critérios entre os estados.

Sonho do reencontro
Com a proximidade do Dia das Crianças, aumenta a dor de algumas famílias paranaenses que ainda sonham em reencontrar a criança que sumiu de casa e da qual muitas vezes sequer existe pistas do seu paradeiro.
Guilherme Caramês Tiburtius é o nome (e a foto) do caso de maior repercussão até hoje de uma criança desaparecida no Paraná. Ele sumiu quando tinha oito anos, em 1992, enquanto estava brincando na rua em frente de casa. Nem ele nem a bicicleta do garoto foram mais vistos desde então.
A busca por uma resposta sobre o que aconteceu com Guilherme foi o que motivou Arlete Caramês a fundar o Movimento Nacional em Defesa da Criança Desaparecida do Paraná (Cridespar). "O que falta, geralmente, é uma pista, uma denúncia, um ponto de partida. Hoje, tanto os pais quanto as crianças estão mais atentos", acredita Arlete, que mobilizou toda a sociedade na busca por seu filho.
Até hoje persiste essa luta por saber do paradeiro de seu filho. "Acredito que ainda vou ter uma resposta, é impossível ficar sem saber. No fundo do meu coração, eu ainda penso em encontrá-lo e tenho esperanças de um dia revê-lo", diz. (LC)

Sem um final feliz
Um abraço que não veio. A história de Elizabete e sua filha, Maristela, é um exemplo de que nem sempre o reencontro após um desaparecimento vai ser sinônimo de um final feliz. Elizabete da Silva não via a filha, Maristela, desde que esta tinha dois anos e meio de idade, em 1988. Na época a filha havia sido deixada morando com o pai e acabou sendo vendida para adoção internacional. Conforme notificado em O Estado, foi em 2006 que Maristela, que hoje se chama Ayellette e vive em Israel, voltou ao Brasil para descobrir suas origens. "Mãe é mãe. Eu sempre tive a certeza de que a minha filha estava viva e mais certeza ainda de que um dia iria reencontrá-la", afirma Elizabete. "Mais de dez meninas tinham aparecido antes dela, sempre fiz o exame de DNA, mas nunca acreditei que fosse nenhuma delas. Até eu ver a foto dessa moça em Israel. Aí eu tive a certeza de que era a minha filha", completa.
Mas o reencontro foi tumultuado. "Quando ela chegou, ela nem queria me ver. Eu tive meus erros e entendo a situação dela. Mas eu queria que ela primeiro me ouvisse e me desse um abraço que eu não tive. Esse abraço veio só depois, de outra forma", recorda a mãe, com tristeza. (LC)
Tragédia familiar que ainda não acabou
Fotos. Muitas fotos para lembrar da mãe, sempre alegre, e da filha espontânea fazem parte da decoração da casa dos avós Luiz e Marlene Florêncio, que vivem com os netos Vanessa e Evandro, de 15 e 19 anos, em Curitiba. Todos ainda esperam reencontrar a menina Vivian, vista pela última vez no dia 4 de março de 2005. No mês que vem, dia 7 de novembro, é aniversário de Vivian, quando ela deveria completar oito anos.
Naquele dia, Vivian e sua mãe, Maria Emília, tinham ido ao encontro do pai, o ex-sargento da Polícia Militar Edson Prado, para que ele fizesse, pela primeira vez, o pagamento da pensão da menina. Nunca mais foram vistas. O corpo da mãe foi encontrado cinco dias depois em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba. "Não tem como não chorar todos os dias. Quando todos já estão dormindo, pego as roupas delas e fico lembrando", diz a avó Marlene. Prado, já condenado pelo crime cometido contra Maria Emília, nunca revelou o que aconteceu com a filha e a história permanece um mistério.
Na reforma feita na casa dos avós, Vivian não foi esquecida. Continua com um lugar garantido, caso volte ao lar. "Vivian foi uma criança que veio, adoçou a vida de todo mundo e foi embora. Acredito que ela está viva, em algum lugar, porque eu sonho com ela. Parece que estou acompanhando o crescimento dela nos sonhos", acredita a avó.
Para a irmã Vanessa, o maior sentimento é de saudade, de Vivian e de sua mãe. "Saudade de receber os abraços, os beijos e até os tapas da mãe", revela, emocionada. Vanessa encontrou na escrita uma forma de consolo e de expressar o que sente e de ficar mais próxima da mãe e da irmã. Em uma agenda, ela escreve e conversa com elas, mantendo-as no seu dia-a-dia. (LC)

Recomendações
* Se uma criança desaparecer, os familiares podem entrar imediatamente em contato com o Sicride, pelo telefone (41) 3224-6822, que atende durante 24 horas. Não existe o prazo de 24 horas para procurar ajuda policial.
* Três regras básicas que devem ser ensinadas às crianças caso um estranho se aproxime e peça algo: dizer não; se afastar dele e contar aos pais, ao professor ou a um policial.
* O Sicride ressalta a importância de fazer a carteira de identidade o mais cedo possível.
* Não basta proibir a criança de manter contato com estranhos, tem que explicar a razão. A melhor forma de convencer a criança a não se aproximar de estranhos é falar exatamente para o filho o porquê dessa recomendação. No caso de uma tentativa de aproximação por criminosos, quando a criança conta isso para o desconhecido, a pessoa pode então dizer algo como: "então entra rapidinho que a gente vai encontrar seus pais e perguntar para eles".
* Outra forma de abordagem pode ser dizendo que a criança ganhou um sorteio ou algum prêmio. Muitas vezes, o desconhecido pode usar o nome do pai ou da mãe para convencer a criança.
* Não deixar a criança fazer pequenos trajetos sem a supervisão de um adulto. Caso não seja possível acompanhá-la todos os dias, fazer um rodízio entre os pais da vizinhança, por exemplo. Não deixar a criança sozinha dentro do carro, como em supermercados ou em shoppings.

Sicride


Paraná - Online

Um comentário:

  1. eu nao tenho pessoas desaparecidas , mais tenho a historia da minha mae que ate hoje, eu nao sei a verdadeira historia , porque eu, nao conheci os meus avos pois a minha mae fugiu de casa ninguem nunca procurou por ela ,eu nao sei a verdadeira historia porque ela nao conta;hoje eu tenho 30anos eu nao sei da verdade.

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