Segundo a polícia, um homem que não está entre os identificados, mas pode ter ligação com o crime, foi detido na noite de domingo junto com outras duas pessoas, que foram liberadas após prestar depoimento. Chacina deixou oito mortos e dois feridos
Seis suspeitos de participar da chacina que deixou oito pessoas mortas e outras duas feridas no bairro Uberaba já foram identificados pela polícia, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). O crime ocorreu na noite de sábado (3) e desde o domingo (4) uma força-tarefa, composta por policiais civis e militares, toma conta das ruas das duas vilas.
Durante o patrulhamento das equipes policiais, um homem foi preso por volta das 20 horas de domingo por porte ilegal de arma de fogo. Um investigador da Delegacia de Homicídios, afirmou no início da manhã desta segunda-feira (5) à Gazeta do Povo que o preso seria suspeito de participar do crime, mas a informação foi desmentida pela Sesp.
Segundo a secretaria, o preso é um soldado da aeronáutica que não está entre os suspeitos identificados, embora sua ligação com o crime ainda não esteja totalmente descartada. Outras duas pessoas, entre elas uma adolescente, também foram conduzidas à delegacia juntamente com o soldado, mas ambas foram liberadas logo após prestar depoimento.
Os corpos de duas das vítimas da chacina, Nilza Ribeiro dos Santos, de 29 anos, e de seu filho, Mateus Alves da Silva, 5 meses, foram levados à cidade de Tamarana, no Norte do Paraná, para o velório e sepultamento. Outras três vítimas, Moisés Pereira Silva, de 28 anos, Marcos Aurélio Mateus de Lima, 17, e Valdir Francisco Santos, 19, foram enterrados na manhã desta segunda-feira em Curitiba. Os demais mortos foram identificados como Everaldo dos Santos Silva, 25, Jancarlo da Silva, 20, e Jéferson Carvalho da Silva, 25.
Investigação
Uma força-tarefa participa das investigações do caso. Segundo moradores do bairro, a chacina teria ocorrido após um toque de recolher anunciado por volta das 20h30. Depois de duas horas, seis homens, em três carros, teriam passado atirando a esmo, matando quem estivesse pela frente. Entre os mortos, uma criança de 5 meses e a mãe, que voltavam para casa após sair da igreja.
Os tiros começaram na Rua Helena Piekarski, na Vila União. Os atiradores estavam armados com uma carabina calibre 30, uma pistola 9 milímetros e outra de calibre 40, essa última de uso exclusivo das Forças Armadas.
O motivo do crime foi o assassinato do sobrinho de um dos traficantes que participou da chacina, segundo o titular da Delegacia de Homicídios, Hamilton da Paz. O rapaz teria sido preso e assassinado por traficantes rivais logo após ser solto, na semana passada.“Foi um ato de vingança”, disse o delegado no domingo. A população confirma que a chacina foi motivada por grupos rivais de traficantes das vilas Icaraí e União.
Caso atípico
De acordo com o delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Jorge Azôr Pinto, o caso foi atípico e envolve disputa pelo controle do tráfico de drogas. “Não me recordo de nada semelhante que tenha acontecido em pontos diferentes. Os policiais estão investigando. Temos oito viaturas no local e elas não vão sair de lá até que o caso seja resolvido”, disse. A investigação começou assim que a polícia foi informada da chacina. Viaturas da Divisão de Narcóticos, da Polícia Civil, da Polícia Militar e o Regimento da Polícia Montada tomaram conta das ruas das duas vilas, no fim da tarde de domingo.
Por motivos de segurança, a polícia não divulgou a identidade das duas pessoas que ficaram feridas, mas afirmou que elas passam bem e serão ouvidas assim que deixarem o hospital. Segundo Paz, a região do Uberaba conta com o patrulhamento de quatro viaturas nos horários de pico, para atender uma população de 70 mil habitantes. “Temos viaturas da Rotan e Rone na região, mas precisamos contar com o apoio da população para denunciar os traficantes por meio do Narcodenúncia. Não temos como prever casos como esses. Não tem como saber o que se passa na cabeça de um marginal”, disse.
Segundo levantamento da polícia civil, de março a outubro o Narcodenúncia recebeu apenas uma ligação daquela região. “No restante da cidade, o número de ligações da população chegou a 30 mil”, disse Azôr. Do horário da chacina até a tarde de domingo a polícia não recebeu nenhuma ligação da região das vilas União e Icaraí. Os moradores estão com medo de se manifestar. A última ação policial feita no Uberaba foi apreensão de armas e entorpecentes, também em março.
Moradores da região entrevistados pela reportagem disseram não acreditar na eficácia da polícia. Contaram que ficam sabendo dos bastidores do tráfico, mas preferem não “se meter” nesses casos. “Nunca vimos a polícia fazer nada, a não ser ficar cuidando de corpos”, reclamou um morador.
As vilas
A duas vilas integram uma região composta por sete comunidades do bolsão Audi-União. O bolsão recebe recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal para melhoria de infraestrutura. É uma população carente, de baixa renda, em que a maioria das famílias não ganha mais do que R$ 400 por mês. O bolsão Audi-União tem 2.554 domicílios.
A Vila Icaraí tem oficialmente 687domicílios mapeados e está ligada à área administrativa da Regional Cajuru. Já a Vila União tem cerca de 680 domicílios atendidos pela associação de moradores local.
Em parceria com o Jardim Alvorada, conta com uma unidade de saúde, cinco instituições de assistência social, quatro escolas municipais, duas estaduais e dois Centros de Educação Infantil (CMEI). A maior parte da população é formada por jovens e mulheres. Quatro em cada 10 moradores possuem apenas o ensino fundamental.
Balanço: Matanças têm enredos idênticos
Há uma constância perversa nas chacinas registradas no Paraná nos últimos meses. Elas ocorrem em localidades pobres, em que as instituições do poder público (polícia, saúde, educação, esporte) estão distantes ou inoperantes. Possuem ligações com o tráfico de drogas, seja por disputa entre grupos rivais, vingança ou dívidas, e vitimam, propositadamente, esposas, filhos, crianças e jovens que não estavam inseridos na lógica do tráfico. Fazer o maior número de vítimas possíveis tornou-se uma espécie de demonstração de poder e de força.
Em Guaíra, na maior chacina registrada no estado, em setembro do ano passado, 15 pessoas foram assassinadas por causa de um acerto de contas entre grupos que lidavam com tráfico e contrabando. Em cinco horas de matança, morreram adultos e jovens, homens e mulheres – entre eles, alguns que nada tinham a ver com a disputa em si.
Em dezembro do ano passado, em Campina Grande do Sul, região metropolitana de Curitiba, cinco pessoas foram mortas e outras cinco sobreviveram. De acordo com a polícia e com o testemunho de um jovem que sobreviveu à chacina, alguns dias antes duas das vítimas haviam praticado um furto e trocado o produto do roubo por drogas.
Em abril desse ano, no Xaxim, cinco homens e uma mulher morreram por uma dívida de dez gramas de crack. Segundo a investigação policial, eles estavam na casa de um usuário, mas nem todos eram alvos dos assassinos. “Se tivessem 20, eles matavam 20”, disse na época o titular da Delegacia de Homicídios, Hamilton da Paz.
Existem exemplos, porém, que mostram que os bairros mais pobres não estão fadados a sofrerem com o binômio tráfico/chacina. Na Vila Osternack, que já foi considerada a região mais violenta da cidade, houve uma redução significativa no número de homicídios. A vila chegava a ter 14 homicídios por final da semana. Atualmente tem um por mês e há dois não são registrados assassinatos na região. A melhora veio depois que a Polícia Militar iniciou na localidade o projeto de Segurança Social, em parceria com a própria comunidade, a sociedade civil e outras esferas governamentais.
Seis suspeitos de participar da chacina que deixou oito pessoas mortas e outras duas feridas no bairro Uberaba já foram identificados pela polícia, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp). O crime ocorreu na noite de sábado (3) e desde o domingo (4) uma força-tarefa, composta por policiais civis e militares, toma conta das ruas das duas vilas.
Durante o patrulhamento das equipes policiais, um homem foi preso por volta das 20 horas de domingo por porte ilegal de arma de fogo. Um investigador da Delegacia de Homicídios, afirmou no início da manhã desta segunda-feira (5) à Gazeta do Povo que o preso seria suspeito de participar do crime, mas a informação foi desmentida pela Sesp.
Segundo a secretaria, o preso é um soldado da aeronáutica que não está entre os suspeitos identificados, embora sua ligação com o crime ainda não esteja totalmente descartada. Outras duas pessoas, entre elas uma adolescente, também foram conduzidas à delegacia juntamente com o soldado, mas ambas foram liberadas logo após prestar depoimento.
Os corpos de duas das vítimas da chacina, Nilza Ribeiro dos Santos, de 29 anos, e de seu filho, Mateus Alves da Silva, 5 meses, foram levados à cidade de Tamarana, no Norte do Paraná, para o velório e sepultamento. Outras três vítimas, Moisés Pereira Silva, de 28 anos, Marcos Aurélio Mateus de Lima, 17, e Valdir Francisco Santos, 19, foram enterrados na manhã desta segunda-feira em Curitiba. Os demais mortos foram identificados como Everaldo dos Santos Silva, 25, Jancarlo da Silva, 20, e Jéferson Carvalho da Silva, 25.
Investigação
Uma força-tarefa participa das investigações do caso. Segundo moradores do bairro, a chacina teria ocorrido após um toque de recolher anunciado por volta das 20h30. Depois de duas horas, seis homens, em três carros, teriam passado atirando a esmo, matando quem estivesse pela frente. Entre os mortos, uma criança de 5 meses e a mãe, que voltavam para casa após sair da igreja.
Os tiros começaram na Rua Helena Piekarski, na Vila União. Os atiradores estavam armados com uma carabina calibre 30, uma pistola 9 milímetros e outra de calibre 40, essa última de uso exclusivo das Forças Armadas.
O motivo do crime foi o assassinato do sobrinho de um dos traficantes que participou da chacina, segundo o titular da Delegacia de Homicídios, Hamilton da Paz. O rapaz teria sido preso e assassinado por traficantes rivais logo após ser solto, na semana passada.“Foi um ato de vingança”, disse o delegado no domingo. A população confirma que a chacina foi motivada por grupos rivais de traficantes das vilas Icaraí e União.
Caso atípico
De acordo com o delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Jorge Azôr Pinto, o caso foi atípico e envolve disputa pelo controle do tráfico de drogas. “Não me recordo de nada semelhante que tenha acontecido em pontos diferentes. Os policiais estão investigando. Temos oito viaturas no local e elas não vão sair de lá até que o caso seja resolvido”, disse. A investigação começou assim que a polícia foi informada da chacina. Viaturas da Divisão de Narcóticos, da Polícia Civil, da Polícia Militar e o Regimento da Polícia Montada tomaram conta das ruas das duas vilas, no fim da tarde de domingo.
Por motivos de segurança, a polícia não divulgou a identidade das duas pessoas que ficaram feridas, mas afirmou que elas passam bem e serão ouvidas assim que deixarem o hospital. Segundo Paz, a região do Uberaba conta com o patrulhamento de quatro viaturas nos horários de pico, para atender uma população de 70 mil habitantes. “Temos viaturas da Rotan e Rone na região, mas precisamos contar com o apoio da população para denunciar os traficantes por meio do Narcodenúncia. Não temos como prever casos como esses. Não tem como saber o que se passa na cabeça de um marginal”, disse.
Segundo levantamento da polícia civil, de março a outubro o Narcodenúncia recebeu apenas uma ligação daquela região. “No restante da cidade, o número de ligações da população chegou a 30 mil”, disse Azôr. Do horário da chacina até a tarde de domingo a polícia não recebeu nenhuma ligação da região das vilas União e Icaraí. Os moradores estão com medo de se manifestar. A última ação policial feita no Uberaba foi apreensão de armas e entorpecentes, também em março.
Moradores da região entrevistados pela reportagem disseram não acreditar na eficácia da polícia. Contaram que ficam sabendo dos bastidores do tráfico, mas preferem não “se meter” nesses casos. “Nunca vimos a polícia fazer nada, a não ser ficar cuidando de corpos”, reclamou um morador.
As vilas
A duas vilas integram uma região composta por sete comunidades do bolsão Audi-União. O bolsão recebe recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal para melhoria de infraestrutura. É uma população carente, de baixa renda, em que a maioria das famílias não ganha mais do que R$ 400 por mês. O bolsão Audi-União tem 2.554 domicílios.
A Vila Icaraí tem oficialmente 687domicílios mapeados e está ligada à área administrativa da Regional Cajuru. Já a Vila União tem cerca de 680 domicílios atendidos pela associação de moradores local.
Em parceria com o Jardim Alvorada, conta com uma unidade de saúde, cinco instituições de assistência social, quatro escolas municipais, duas estaduais e dois Centros de Educação Infantil (CMEI). A maior parte da população é formada por jovens e mulheres. Quatro em cada 10 moradores possuem apenas o ensino fundamental.
Balanço: Matanças têm enredos idênticos
Há uma constância perversa nas chacinas registradas no Paraná nos últimos meses. Elas ocorrem em localidades pobres, em que as instituições do poder público (polícia, saúde, educação, esporte) estão distantes ou inoperantes. Possuem ligações com o tráfico de drogas, seja por disputa entre grupos rivais, vingança ou dívidas, e vitimam, propositadamente, esposas, filhos, crianças e jovens que não estavam inseridos na lógica do tráfico. Fazer o maior número de vítimas possíveis tornou-se uma espécie de demonstração de poder e de força.
Em Guaíra, na maior chacina registrada no estado, em setembro do ano passado, 15 pessoas foram assassinadas por causa de um acerto de contas entre grupos que lidavam com tráfico e contrabando. Em cinco horas de matança, morreram adultos e jovens, homens e mulheres – entre eles, alguns que nada tinham a ver com a disputa em si.
Em dezembro do ano passado, em Campina Grande do Sul, região metropolitana de Curitiba, cinco pessoas foram mortas e outras cinco sobreviveram. De acordo com a polícia e com o testemunho de um jovem que sobreviveu à chacina, alguns dias antes duas das vítimas haviam praticado um furto e trocado o produto do roubo por drogas.
Em abril desse ano, no Xaxim, cinco homens e uma mulher morreram por uma dívida de dez gramas de crack. Segundo a investigação policial, eles estavam na casa de um usuário, mas nem todos eram alvos dos assassinos. “Se tivessem 20, eles matavam 20”, disse na época o titular da Delegacia de Homicídios, Hamilton da Paz.
Existem exemplos, porém, que mostram que os bairros mais pobres não estão fadados a sofrerem com o binômio tráfico/chacina. Na Vila Osternack, que já foi considerada a região mais violenta da cidade, houve uma redução significativa no número de homicídios. A vila chegava a ter 14 homicídios por final da semana. Atualmente tem um por mês e há dois não são registrados assassinatos na região. A melhora veio depois que a Polícia Militar iniciou na localidade o projeto de Segurança Social, em parceria com a própria comunidade, a sociedade civil e outras esferas governamentais.
Célio Yano,
com informações de Anna Simas, Tatiana Duarte e Guilherme Voitch - Infografia: Thiago André Costa
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