sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Com ajuda, cerca de 30% dos moradores de rua se recuperam em SP


SÃO PAULO - Pelo menos 30% dos moradores de rua que recebem apoio de ONGs e órgãos do governo conseguem se recuperar e voltar a levar uma vida normal, com casa e trabalho. Os dados são da secretaria municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. Atualmente, segundo levantamento da secretaria, há cerca de 13 mil moradores de rua na cidade de São Paulo.
- O caminho de volta para a sociedade é complexo. Além de apoio, essas pessoas precisam ter esperança e de um encontro transformador - diz a psicóloga Aparecida Magali de Souza Alvarez, especialista que acompanhou, por 10 anos, grupos de moradores de rua da capital.
A situação miserável em que vivem, a higiene precária e a violência a que são submetidos dão a sensação de que não há qualquer perspectiva para essas pessoas. Mas a decadência que parece definitiva pode, sim, ser revertida.
- Eu bebia, estava totalmente desiludido com tudo. Demorou até conseguir dar um passo para fora da rua. Só aconteceu depois que encontrei pessoas que acreditaram em mim - relata o ex-morador de rua Antônio Carlos Araújo, de 47 anos.
Do instante em que resolveu deixar as ruas até arrumar um emprego, Araújo contou com a ajuda de uma assistente social. Hoje, recuperado e com muitos planos dedica-se a ajudar outras pessoas. Trabalha justamente com o grupo de funcionários da Prefeitura responsável por fazer as abordagens aos moradores de rua e quer fazer faculdade de Direito.
- Agora uso meu exemplo para ajudar os outros.
O motivo que levou Araújo para as ruas é parecido com o de tantos outros: desemprego, alcoolismo e quebra de laços familiares. O taxista Raul de Almeida, de 50anos, relata ter enfrentado um drama idêntico.
- Perdi o emprego, comecei a beber e, quando vi, já passava o dia bebendo e pedindo dinheiro na região central da cidade. Eu não estava ali porque queria. Sempre trabalhei, sempre cuidei da minha vida e, de repente, estava numa situação daquelas -lamenta.
Raul ficou assim por dois anos, até procurar o apoio de uma casa de recuperação para tratar do alcoolismo.
- A ajuda foi boa. Mas, se a pessoa não quiser sair daquilo, não adianta nada. Tem que ter vontade - conclui.
Para incentivar a independência de ex-moradores de rua, a secretaria municipal de Assistência e Desenvolvimento Social vai fornecer bolsas de auxílio-aluguel de R$ 300, por um período de 30 meses.
- A idéia é que a pessoa possa conseguir se restabelecer ao longo desse tempo - explica o secretário Floriano Pesaro.
Segundo ele, num primeiro momento, serão 800 beneficiados.
- Vamos priorizar as famílias. Além disso, essas pessoas terão acompanhamento social.
Para viabilizar a locação dos imóveis, a secretaria pagará os três primeiros meses adiantados.
- Essas pessoas não têm crédito ou fiador. Então, os três primeiros meses poderão ser usados como depósito de garantia do aluguel - diz.
Pesaro avalia que o índice de 30% de reinserção da população em situação de rua na capital ainda é baixo.
- Em Nova York, esse índice é de 70%. Lá, o investimento em moradia e saúde para essa população é bastante forte. Nesse quesito, ainda estamos engatinhando - reconhece.
Para a pesquisadora Aparecida Magali de Souza Alvarez, que há mais de 10 anos estuda a população de rua na cidade, é preciso haver iniciativas que de fato promovam a melhoria da vida de toda essa gente.
- Não é só arrumar um emprego para essas pessoas. Elas precisam de cuidados específicos para que o processo seja contínuo - conclui a pesquisadora.

Fonte: Globo
Publicada em 24/02/2008

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