sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Família de garoto portador de vírus HIV sofre com preconceito


Às lágrimas, mãe do garoto de quatro anos portador de vírus HIV diz: ``Não quero pensar como será quando ele começar a entender. Não me imagino contando a ele que não irá poder namorar``, desabafa

Emmanuel Macêdo
emmanuelmac@opovo.com.br

Ao ver o menino sorrindo e correndo pela pequena sala da casa da tia, não se imagina um drama em sua vida. Nem ele imagina. A mãe pede justiça. ``Claro que não vão resolver meu problema. Mas queremos saber de quem é a culpa e vamos acionar a Justiça``, desabafa.
Aos cinco meses o menino, hoje com quatro anos, deu entrada no hospital Albert Sabin com quadro de infecção intestinal e anemia. Uma transfusão foi feita. Dois anos depois, o garoto retorna ao hospital com novas infecções e com febre. Após bateria de exames, constatou-se anemia e precisou ser feito uma nova transfusão. A partir de então, o hospital passou a rastrear vírus, que foi detectado em abril deste ano, como sendo o vírus HIV.
A família conta que desde os cinco meses ele sempre frequenta hospitais por problemas de saúde. ``Ele já teve infecção intestinal e tuberculose. É um garoto muito frágil``, relata, contrastando com a esperteza do garoto. ``Mas graças a Deus que pelo menos agora ele ta dando esse trabalho todo correndo por aí. Nem parece que está passando por tudo isso.``
A mãe vai às lágrimas ao falar de como será uma conversa com o menino quando ele entender tudo que acontece em sua vida. ``Agora ele brinca e não entende. No momento eu procuro ficar orientando para ele tomar cuidado e não se ferir, mas nessa idade é difícil. Meninos nessa idade se cortam e querem mostrar para os colegas o sangue. Não me imagino contando a ele que não irá poder namorar. Na época que isso acontecer, toda a tristeza vai voltar. Se já está sendo difícil agora, vai ser muito mais ainda no futuro``, lamenta. E completa: ``Eu não sei o que faria se perdesse meu filho. Nós já vivemos em uma dificuldade tão grande. Depois que tudo começou, tive que trabalhar mais ainda. A gente vive só com meu dinheiro``.
O pai não quer falar com ninguém. Ele se recusou a fazer exame de HIV. O irmão e mãe já fizeram e tiveram resultado negativo .Diante de todo o problema do menino, a família prefere esconder tudo, principalmente da escola, para preservar o garoto de preconceito.
``A gente sabe que existe preconceito. Muita gente próxima não tem (preconceito) porque gosta da gente. Mas sabemos que existe, pois os poucos que sabem, já tratam ele diferente``, conta a tia do garoto. Segundo a tia a pessoa acostumada a cuidar da criança disse que não podia mais.
A família quer entrar na Justiça. Desde abril, quando os pais souberam da infecção do filho, procuraram a Defensoria Pública para conseguir um advogado. Apenas ontem, 7, tiveram a certeza do nome de quem pegaria o caso.

Indenização
Em outubro de 2005, a Justiça condenou ao Estado do Ceará a pagar R$ 150 mil à família de um menino que foi internado no Hospital Infantil Albert Sabin ainda bebê. O menino passou por transfusões de sangue antes de ser diagnosticado o vírus HIV.

ENTENDA MAIS SOBRE O CASO

> O garoto foi internado em 2005, no Hospital Infantil Albert Sabin, quando tinha apenas cinco meses, encaminhado pelo Centro de Assistência à Criança Lúcia Fátima. Na época foi constatado um quadro de infecção intestinal e uma transfusão de sangue foi feita.

> Em 2007, a criança foi internada no hospital Albert Sabin mais uma vez, com novas infecções e febre. Uma segunda transfusão foi realizada.

> Foi solicitado ao Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), que enviasse ao Ministério Público Estadual, informações sobre os métodos utilizados nas análises de recolhimento de sangue com o objetivo de saber como funciona os métodos utilizados nos bancos de sangue.

> Também foi solicitado ao Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremec) a abertura de uma sindicância para apurar possíveis irregularidades ocorridas no tratamento de pacientes nas entidades envolvidas: Centro de Assistência à Criança Lúcia Fátima (Croa), Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) e Hemoce.

> Além do Hias, onde recebeu a transfusão, o menino também foi internado no Centro de Assistência à Criança Lúcia Fátima (Croa), na Parangaba, e nos Hospitais Waldemar Alcântara e Luís de França.

Fonte: O Povo

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