quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A gestação emocional do filho adotivo


Na maioria dos casos, a decisão de adotar uma criança decorre da impossibilidade de ter filhos biológicos. Essa impossibilidade pode ser do casal, ou exclusivamente de um deles. Um filho traz a sensação de valorização, a oportunidade de produzir coisas boas, de poder trocar afeto.
Quando o casal começa a conversar sobre a possibilidade de adotar uma criança, sobre as vantagens e dificuldades dessa atitude neste momento de suas vidas, eles passam a viver a etapa chamada de Gestação Emocional da adoção.
No decorrer desta espera que pode durar dias, meses, anos a ansiedade dos pais quanto ao aspecto físico da criança (sexo, cor de olhos e da pele, peso, etc.) e suas características emocionais, envolve as conversações entre os pais. Os temores quanto a herança biológica: doenças, mal formações; também fazem parte deste período.
Assim, o tempo que levaram desde o início da idéia de adoção até o seu floresciment(buscar a criança), corresponde a uma verdadeira gestação.
O momento de buscar a criança para trazê-la para casa eqüivale (sic) emocionalmente ao Parto: a expectativa de como será este encontro, como a criança é, como reagirá, desperta muita ansiedade. Nesta ocasião, que será de grande emoção, os pais poderão ter reações as mais diversas e confusas, tais como medo, insegurança, alegria, esses sentimentos também permeiam o universo dos pais biológicos quando têm seus filhos.
O Puerpério, período que dura mais ou menos 45 dias e corresponde ao pós-parto, é acometido de múltiplas emoções na qual a adaptação da criança aos pais se dá. Ao levar a criança para casa, os pais começam a praticar os cuidados com a criança, ou seja, alimentação, fraldas, troca de roupas, banho, etc. Durante esses cuidados diários a criança começa a adquirir o sentimento de pertencer àquela família, assim como os pais sentem que pertencem à ele. Todo esse manejo dá aos pais a sensação concreta que "criam" o filho, que ele é seu dependente e que precisa ser cuidado em tempo integral.
Nesse período, mais ainda quando o adotado é o primeiro filho do casal, os pais costumam sentir a responsabilidade de ter essa criança com eles, pode gerar dúvidas quanto ao erro ou acerto de tê-la adotado; pensam se vão sair-se bem nesta função, se são suficientemente bons, se estão preparados. Mas é também um período em que a vinculação entre pais e criança se estreita, onde o medo do abandono existe nos dois lados. Então, o menor gesto da criança de buscar auxilio dos pais representa a aceitação, daí todas as dúvidas são dissipadas porque aquela criança os reconhece como pais e os cativa. Os pais pensam "Nem lembramos que ela é adotada". "Para a criança o contato com os pais adotivos torna-os as pessoas centrais de sua vida"

PROTEGENDO O SEGREDO
Os pais adotivos que já "nem lembram" que seu filho é adotado, podem começar a ter em mente se devem ou não contar ao filho sobre sua origem. As dúvidas giram em torno de como contar, porque contar, como e quando!
O melhor modo de contar sobre a adoção é ter esse tema como um assunto que é "ventilado" naturalmente pelos pais desde o início do relacionamento com o filho. Não fazer desse assunto um tabu, um segredo a ser protegido.
A curiosidade da criança se acentua aos 3 anos de idade quando ela pergunta sobre o mundo que a circunda. Perguntando se são adotadas. Têm necessidade de saber sobre a origem das coisas. Portanto, o período infantil é o mais propício para contar a verdade.
Os pais que desejam omitir do filho o fato de ser adotivo precisam lembrar que a criança tem o direito de saber sua origem e buscar informações a esse respeito. É uma necessidade existencial do ser humano.
"...a revelação tem que ser feita com muito amor, com muito carinho. Reuna-os, ore com eles e diga que gostaria muito que tivessem nascido dela, mas que Deus resolveu diferente."
(frase de Chico Xavier em Lições de Sabedoria por Marlene Nobre - FE)
Contar à criança que ela é adotada evitará que ela saiba por terceiros, de forma distorcida e equivocada. O importante é salientar que ela foi escolhida; que dentre todas as crianças os pais optaram por ela. Que o sentimento de amor por ela os cativou.
Mesmo tendo sido esclarecida sobre a adoção, a criança ainda perguntará inúmeras vezes sobre isso. Em todas as vezes deve-se manter o mesmo conteúdo de resposta, isto é, a resposta mais próxima da verdade.
É igualmente importante não expor aspectos negativos da família de origem, pois a tendência, quando se expõe os aspectos negativos, é a criança sentir-se desvalorizada, inferiorizada. Os adotantes podem responder: "Não sabemos porque sua outra mamãe não pode ficar com você mas acreditamos que ela gostaria muito de fazer isso. Agora você é nosso filhinho e nós te amamos muito."
O que devemos ter em mente é que a criança tem medo do abandono e os pais adotivos também têm.

Por Márcia Fuga
Psicóloga clínica com especialização em infância e adolescência, diretora de Psicologia do Pineal Mind Inst.de Saúde, Vice Presidente da ABRAPE

Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICÓLOGOS ESPÍRITAS - http://www.promaster.com.br/abrape

Postado no blog "Filhos Adotivos" por Letícia Godo

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