quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Pedofilia em Portugal


*Bernardo Teixeira, ex-casapiano e testemunha no processo de pedofilia, escreveu um livro em que conta como alegadamente foi violado. É um relato brutal que acaba como a sua vida começou: sem esperança, principalmente na Justiça.
"Bernardo, não podes falar disto a ninguém. É o nosso segredo". Desta forma, o autor conta como foi violado pela primeira vez pelo motorista da instituição.
Nas páginas seguintes, Bernardo Teixeira partilha o sofrimento que sentiu após a violação e os tempos de solidão que se seguiram. Recorda ainda como tentou contar à psicóloga da instituição o que lhe estava acontecer, sem que conseguisse
.

Veja o vídeo
A meio do livro, escreve sobre o seu "amigo famoso", que lhe terá sido apresentado pelo "motorista da Casa Pia".
"Ele é tal e qual como aparece na televisão: tem uma cara sorridente.
Estende-me a mão; eu aperto-a por impulso, ainda meio incrédulo com o que está a acontecer". É desta forma que a autor do livro "Porquê a Mim?" relata o primeiro encontro com o seu "amigo famoso".
Este "amigo famoso" terá violado Bernardo Teixeira uns tempos depois. "No calor abafado do carro, no meio de uma rua deserta, iluminada apenas pela luz ténue de um candeeiro, o meu amigo famoso, sempre tão simpático e prestável, tratava-me como lixo".
O autor descreve mais adiante como soube do escândalo Casa Pia e o que
sentiu quando a televisão passou imagens de um alegado pedófilo, precisamente quem o tinha violado: o motorista da instituição.
"Como era possível que ele tivesse feito o que fez comigo a centenas
de miúdos? E quem eram eles? Comecei a lembrar-me dos rostos dos meus colegas, um a um", conta, sublinhando a conclusão a que chegou quando soube das notícias: "Eu fui violado. Eu sou um dos miúdos violados pelo Caetano (nome fictício)".
A partir daqui, o autor descreve como se tornou uma das testemunhas
do processo, mas principalmente do medo que sentiu nos tempos seguintes e que, segundo o próprio, tiveram razão de ser, uma vez que terá sido ameaçado, espancado e até raptado.

Adeus aos sonhos

Esta testemunha foi ouvida pela Polícia Judiciária, a quem terá apresentado uma queixa. Nesse dia, pensou: "Por momentos senti que estava prestes a fazer a maior burrice da minha vida. Se calhar devia era ficado caladinho".
O "adeus aos sonhos" chegou pouco depois. Bernardo Teixeira abandonou o Colégio Santa Catarina, deixando para trás o sonho de ser "advogado" e "alguém na vida".
Como justificação para abandonar o colégio, contou a verdade. À frente da mãe - a quem acusa de o ter abandonado no colégio aos 11 anos - mas também dos profissionais da instituição que o acompanharam nos últimos anos e que alegadamente não sabiam do que se passava.
"Como é possível que isto vos tenha passado tudo ao lado?! Prometeram-me que aqui eu ia tornar-me um homem decente e com futuro. Na realidade o que aconteceu é que fui violado mais do que uma vez por mais do que uma pessoa", questionou Bernardo Teixeira, nome que lhe foi atribuído pelo Estado no âmbito da sua protecção como testemunha no processo Casa Pia e que agora o próprio assumiu como sua identidade.
Seguiu-se a "descida ao inferno". O autor passou pela prostituição, consumiu drogas, foi agredido várias vezes. Teve a protecção do Estado e deixou de contar com esta. E deixou de acreditar.
Quando escreveu a obra, publicada pela editora "A esfera dos livros", o processo Casa Pia estava na fase de alegações finais. "Não acredito nas
pessoas e muito menos na Justiça portuguesa (...) e tenho a certeza de que muitos dos arguidos vão levantar-se das cadeiras dos réus sem pena ou com uma pena muito reduzida".
Sem culpar a Casa Pia, Bernardo Teixeira identifica o réu: "O Estado português, que me via como uma vítima de violação, mas que não julgou todos os envolvidos".

*Artigo original, extraído do jornal on line português "Expresso"

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