domingo, 31 de maio de 2009

Programas matutinos se renovam e apostam no jornalismo para aumentar a audiência

RIO - O bordão "Acorda, menina!", que está no título da capa, é de Ana Maria Braga. Mas poderia ser também dos apresentadores do "Hoje em dia", da Rede Record; do "Dia dia", da Band; ou do "Manhã maior", da RedeTV!. Com seus programas matutinos, as emissoras mostram que despertaram para a necessidade de esquentar uma velha fórmula da TV, sob pena de ver a audiência rolar ladeira abaixo. Vale (quase) tudo para fisgar adeptos nas manhãs televisivas: sorteios, concursos, muito serviço, jornalismo e algum chororô. A guerra pelo ibope tem feito com que os matutinos invistam em mudanças e assuntos nunca antes abordados nesse horário.

O telespectador de hoje não se contenta mais somente com culinária - apesar de ela ainda ser o carro-chefe das manhãs - e outra coisa fundamental mudou no meio do caminho: as mulheres não são mais o único público assíduo a partir das 8h. Além dos típicos temas de beleza e saúde, as atrações matinais - além de terem investido em cenários e novos apresentadores, mergulharam nas coberturas jornalísticas. Tragédias que param o país, por exemplo, estão sempre ocupando espaço nas primeiras horas do dia.

- A evolução desses programas acompanha a sociedade. Hoje, não são apenas as mulheres que ficam em casa enquanto eles saem para trabalhar. Há uma troca nessa estrutura, temos homens em casa também. Precisamos falar com todo mundo, o importante é não segmentar - diz J.B. de Oliveira Sobrinho, o Boninho, diretor de núcleo do "Mais você", que disputa a liderança da audiência com o "Hoje em dia", da Record (segundo as duas emissoras, as atrações têm uma média de oito pontos).

Notícia é a palavra de ordem e, às vezes, ela vem carregada de emoção - até demais. Quando a menina Isabela Nardoni foi jogada do sexto andar, ano passado, o "Hoje em dia" passou meses explorando o assunto.

- Quando há casos que chocam a opinião pública, a obrigação de um programa como o nosso é trazer o fato, mas também pessoas que o discutam. Quando o público não gosta disso, é inteligente o suficiente para mudar de canal - diz o diretor do "Hoje em dia", Vildomar Batista.

Dia desses, o "Mais você" recebeu uma das vítimas das enchentes de Santa Catarina e uma senhora que precisava desesperadamente de dinheiro para trazer os netos da Itália para o Brasil. Ganhou vários minutos adicionais.

- É um programa para família, essa é a meta. Então o que tem? Alimentação, que sempre foi a base, e atrai as mulheres. Com a notícia eu pego os homens. Tem a emoção, porque as pessoas são carentes de falar com os outros e escutar coisas boas. Gosto de dar a notícia mostrando o lado humano. O "Mais você" tem esse reflexo da realidade, com pessoas participando, trazendo seus problemas - diz Ana Maria. - Não objetivamos somente quem tem R$ 100 milhões no banco. Mostramos boas ideias de negócio, como artesanato, pessoas que correram atrás. E tem o Louro José, que é o lado lúdico e traz a criança.

Elisabetta Zenatti, diretora de programação e artístico da Band, também foca no jornalismo ao ser perguntada sobre o ponto mais forte do novato "Dia dia", que estreou há dois meses, comandado por Lorena Calábria, Patrícia Maldonado e Daniel Bork.

- Pautas fortes em sintonia com o factual - responde. - É um programa para entreter e prestar serviço. O público vai ver as principais notícias, se divertir e saber sobre temas polêmicos que interferem na vida dele. Mas ainda podemos melhorar na interatividade - avalia.

O "Manhã maior", da RedeTV!, também aposta em uma trinca de apresentadores: Keila Lima, Arthur Veríssimo e Daniela Albuquerque. Segundo o diretor do programa, Carlos Henrique Sartori, está aí justamente seu diferencial.

- Os três são repórteres, fazem matérias interessantes. Queremos prestar serviço, informar com o conhecimento de quem esteve nos lugares.

Os concursos também são armas fortes. O "Hoje em dia" já premiou com R$ 10 mil um sujeito que foi escolhido, entre dezenas, o melhor dançarino da chamada "kuduro", uma dança angolana parecida com o funk. E o quadro "Beleza na comunidade", uma espécie de concurso de miss, rende picos de audiência.

- Quando assumi o programa, fiquei um pouco decepcionado, não era meu perfil um matutino para mulheres. Acabei aplicando uma visão diferente, juntei vários assuntos e agora temos de tudo um pouco. Posso mudar o roteiro no ar, apesar de ele ser sempre feito com 15 dias de antecedência - garante Batista.

Os quatro matutinos - o SBT é o único dos grandes canais abertos que não investe no filão - têm muita coisa em comum, guardando as devidas particularidades. Os cenários são mais ou menos padrão - com exceção da nova "casa de cristal" de Ana Maria Braga - e o sofá é quase obrigatório. O merchandising tem lugar cativo, mas a maneira de anunciar ficou, digamos, mais suave. Os diretores tentam encaixar sabões em pó, cremes para depilação e afins no contexto.

- O formato da propaganda tende a se adaptar ao conteúdo, com ações interativas e integradas. A ideia é que ela não interfira em nada - explica Elisabetta, sobre o "Dia dia".

No "Mais você" é a mesma coisa. Ana Maria faz questão de ser consultada cada vez que um produto tenta comprar preciosos minutos no ar.

- Temos o limite de três merchandisings por dia, não cabem mais. Tenho que respeitar o público - diz a apresentadora. - A parte de culinária continua forte. Hoje a maioria dos homens gosta de ir para a cozinha. Os pratos que fazemos têm que ser bons, bonitos e baratos. Você nunca vai me ver fazendo um prato caro.

Em outubro, Ana Maria completa dez anos de TV Globo. Ela, que se autodenomina pioneira dos matinais de variedades nos moldes que vemos hoje, garante que não pensa mais em mudar de horário, como em outras épocas.

Em outubro, Ana Maria completa dez anos de TV Globo. Ela, que se autodenomina pioneira dos matinais de variedades nos moldes que vemos hoje, garante que não pensa mais em mudar de horário, como em outras épocas.

- Antes, eu queria fazer um programa à tarde. Mas na grade da Globo estamos no melhor horário, pegamos o pessoal acordando, ou vindo das notícias e se preparando para o dia - comenta. - A concorrência é boa. Temos que olhar outro lado, porque não sou perfeita, nem sei tudo. A concorrência motiva todo mundo e quem ganha é o telespectador.



Revista da tv

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Verbratec© Desktop.