Concurso para estimular conservação e higiene em presídio feminino do Complexo de Gericinó transforma a vida no cárcere e premia vencedoras com visitas adicionais
Rio - Do cenário inóspito, que traduz o submundo das carceragens, para uma vida digna atrás das grades. A ideia era simples: premiar, com uma visita extra e uma sessão de cinema acompanhada de parentes, as detentas do Presídio Nelson Hungria, no Complexo de Gericinó, em Bangu, que melhorassem seus hábitos de higiene e a limpeza das celas. Aos poucos, os espaços com mofos, paredes rabiscadas e pisos quebrados, cobertos por restos de comida, o que atraía insetos e ratos, cederam lugar a um projeto que mistura autoestima, saúde e um resgate da cidadania. “É incrível, mas temos casos até de presas que passaram a tomar banho a partir disso. Elas perceberam que é possível ter dignidade mesmo cumprindo pena. Se a casa delas é arrumada, por que teria que ser diferente aqui?”, questiona a diretora da unidade, Ana Gabriela Rosa Maia. A maratona de limpeza durou 30 dias, tempo que as detentas tiveram para reinventar, com o material fornecido pela Secretaria de Administração Penitenciário (Seap), suas acomodações de cárcere.TransformaçãoAssim como num concurso, cada uma das 11 celas foi vistoriada por júri e recebeu notas. Para quem duvidasse das mudanças, uma foto com o ‘antes’ de cada antigo ‘cafofo’ foi colocado na entrada de cada pavilhão. “Quando a gente fala numa vida melhor na prisão, é isso: ações que efetivamente vão transformar a vida de quem está lá. Bangu 3 é a próxima a unidade onde vai acontecer esse tipo de concurso”, afirmou o secretário de Administração Penitenciária, Cesar Rubens de Monteiro Carvalho.Outras mudanças estão previstas para a população carcerária. Ainda este ano, devem ser entregues 300 mil uniformes que vão padronizar todos os presídios. As primeiras unidades a receber as peças são Bangu 1, 2 e 3. Cada detento vai receber dois kits com blusa, calça jeans e um tênis. “Vamos colocar todo mundo, preso pobre ou rico, como a mesma roupa”, afirma o secretário. Em outro programa inovador, a Penitenciária Vieira Ferreira Neto, em Niterói, vai se transformar em espécie de modelo para as outras unidades dos sistema. Lá, os presos deixarão de fazer as refeições nas celas e vão ganhar um refeitório. Também vai ser construída uma lavanderia comunitária para que os próprios internos passem a cuidar das suas roupas de cama. PM vai deixar presídios e 800 agentes darão reforçoAinda este mês, os policiais militares que atuam como inspetores penitenciários vão voltar para os quartéis. A mudança ocorre porque a Seap vai convocar 800 agentes aprovados no concurso de 2006. A primeira turma vai ter aula inaugural no dia 10. Atualmente, 150 homens da PM desempenham em presídios a função que era para ser exercida por concursados. “Inicialmente, 200 farão o treinamento, o que já vai possibilitar que os policiais voltem às suas atividades de origem. Vamos chamar esse mesmo quantitativo a cada três meses até fechar os 800”, afirmou o secretário de Administração Penitenciária, Cesar Rubens Monteiro de Carvalho. No momento, 3.750 inspetores atuam em 44 presídios do estado, que abrigam cerca de 44 mil detentos.Nos últimos oito meses, a Seap conseguiu devolver para a Polícia Militar um efetivo de 500 homens. “O agente penitenciário é especializado em mediar conflitos e tem um treinamento específico para atuar nesse universo, que é a detenção. A PM nos foi útil, mas eles não são especializados para ficar cuidando de presos”, disse o secretário. Durante o treinamento para atuar dentro das unidades, os novos agentes têm 457 horas de aulas práticas e teóricas — o material didático é gratuito.
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