Durante os cindo dias de julgamento do caso Isabella Nardoni, algumas cenas se repetiram em frente ao Fórum de Santana, na zona norte de São Paulo. Populares com cartazes de protesto. Gente dormindo na rua. Vaias, fila de espera e agressão. Manifestantes que pediam justiça protagonizaram cenas de violência e intolerância. Muitas pessoas se aglomeraram no lugar em que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram julgados – e condenados – pela morte da menina de cinco anos
Houve quem enfrentasse horas de viagem, ou noites sem dormir para acompanhar o júri. Gente sem qualquer ligação com os envolvidos no crime. É o caso da manicure Neli Fernandes, de 60 anos. Ela passou a noite na calçada porque queria ver o casal de perto. “Quero ver a cara deles depois da monstruosidade que fizeram”, afirmou e, categórica, completou: “Para mim, eles foram culpados. Se fosse preciso, passaria mais uma noite aqui para vê-los”.
Danielle de Vitória, de 19 anos, saiu da casa onde mora em Itaquera, pegou metrô, ônibus e, cerca de uma hora depois, às 19h da última quarta-feira, já estava no Fórum para acompanhar o julgamento que só continuaria no dia seguinte. “Acompanhei desde o começo e agora quero ver o final”, justificou. “Comi, tomei energético. Não estou cansada, só preciso controlar a emoção”, disse.
Mas afinal qual é o motivo do fascínio que exerce um dos maiores julgamentos da história do País? Para a psiquiatra forense Thatiane Fernandes trata-se do senso moral que, em julgamentos desse porte, torna-se coletivo.
“Há um senso moral tão forte que a pessoa quase se sente na obrigação de apontar no outro o que não é aceito pela sociedade, de condenar, crucificar”, diz. “Esse casal já estava condenado muito antes de começar o julgamento. E jamais será perdoado, ainda que venha a cumprir pena.” Ainda segundo ela, outro motivo que desperta a atenção das pessoas é a ausência de motivação real para o crime. O fato de o pai e a madrasta supostamente terem espancado e atirado uma criança do sexto andar é injustificável. “Essa realidade é tão bizarra que as pessoas precisam demonizar os envolvidos para poder afastar-se dela.”
“Além disso, existe uma atração natural do ser humano pelo espetáculo, pelo horror, pela circunstância trágica.”
Thatiane e o psicanalista Nélio Tombini, psiquiatra do Serviço de Doenças Afetivas da Santa Casa de Porto Alegre, ressaltam a característica exibicionista do ser humano. Esse seria mais um fator de incentivo para quem chegou a passar dias em frente ao fórum: chamar a atenção, já que o caso ocupou o noticiário dos principais veículos de comunicação do País.
Para Tombini, o caso exerce fascínio por envolver um casal parecido com tantos outros e por tratar de agressão de pais contra filhos, “tema mais comum à vida das pessoas do que se imagina”. O psiquiatra acredita ainda que boa parte dos que estão em frente ao fórum, protestando, já foi maltratada ou tem algum histórico de violência, de abuso.
“O ser humano é incontrolável, tem atitudes impulsivas. É preciso cuidar do nosso lado marginal, sempre.”
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