sexta-feira, 26 de março de 2010

Telefonemas provam que os Nardoni estavam no apartamento quando Isabella foi jogada, diz promotor


SÃO PAULO - O promotor Francisco Cembranelli falou aos jurados que decidirão o futuro de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá por duas horas e meia, num discurso considerado eletrizante, que prendeu a atenção do plenário lotado. O promotor explicou a crononologia dos fatos no dia da morte da menina Isabella e a sequência dos telefonemas ocorridos para comunicar a Polícia e a família de Alexandre Nardoni no momento em que o corpo da criança caiu do sexto andar do prédio.
- As informações dos telefonemas, todas cruzadas, demonstram que o casal estava no apartamento no momento do crime - disse o promotor aos jurados, que não desgrudaram os olhos de Cembranelli, que tem 22 anos de júri e atuação em mais de mil casos.
Para o promotor, a tese de uma terceira pessoa na cena do crime não é factível.
- A inocência do casal seria absurda - afirmou.
Alexandre e Anna Jatobá não esboçaram qualquer reação. Na plateia, Rosa Maria Oliveira e o marido, avós maternos de Isabella, choraram. O avô paterno, o advogado Antonio Nardoni, pai de Alexandre, reclamou bastante e escreveu bilhetes, que repassou aos advogados de defesa.
- Não irei discutir conjecturas, hipóteses, crenças. O que não se pode discutir são fatos. Vou lhes apresentar fatos, embasados com a tecnologia de um dos mais destacados institutos de criminalísticas do mundo, o de São Paulo - afirmou o promotor aos sete jurados.
Segundo Cembranelli, o tempo que Alexandre levou para descer até o térreo foi o mesmo que o porteiro levou para avisar o vizinho Antônio Lúcio, morador do 1º andar do edifício London, e que o vizinho demorou para pedir socorro. Para ele, o casal estava estava no apartamento no momento em que a menina Isabella foi jogada do apartamento 62 do Edifício London.
A cronologia dos telefonemas, de acordo com o promotor, mostra que a sequência de fatos apresentada pelo casal Nardoni não poderia ter verdadeira. Alexandre Nardoni diz que subiu com a filha no colo até o apartamento, a colocou na cama e voltou à garagem para pegar os outros dois filhos, que estavam com a mulher, no carro. Ao chegar, disse o casal, é que ele foi ao quarto e viu que a menina havia sido jogada.
O promotor questionou ainda o porquê de Alexandre Nardoni não ter ligado para o resgate. A primeira ligação de pedido de socorro foi feita pelo morador do 1º andar, que viu a menina caída.
- Ele fez o que qualquer um de nós faria, menos o pai: ligar para o resgate. É isso que se faz em uma situação de emergência. Eu pularia pela janela para defender meu filho, desceria as escadas, não ficaria apertando botão, esperando - disse.
Cembranelli disse que Anna Carolina Jatobá tentou se apresentar como uma pessoa normal, mas assinalou que esta não é a "realidade da moça"
- Ela tem rompante. Não é uma pessoa comum. Chamava Ana Carolina de vagabunda. Quando ri, ri mesmo. Quando xinga, xinga mesmo. Quando agride, agride mesmo - afirmou o promotor, acrescentando que há evidências de que ela passa por "altos e baixos" e que chegou a procurar um médico e tomar remédios para combater estresse.
O promotor disse ainda que Alexandre Nardoni afirmou que nunca traiu a mãe de Isabella com Anna Carolina Jatobá, mas há depoimento de que a primeira relação sexual dos dois ocorreu em novembro de 2002, antes do fim do relacionamento anterior, que ocorreu em março de 2003, quando Isabella estava com 11 meses
O promotor Cembranelli lembrou que Isabella tinha características de asfixia mecânica típicas de esganadura no pescoço e que a menina não poderia ter sozinha se esganado. Disse ainda que uma testemunhas ouviu uma discussão entre um casal momentos antes da queda de Isabella e reconheceu que a voz era de Anna Jatobá.

A possibilidade de terceira pessoa, para ele, é descartada.

Cembranelli elogiou o trabalho da polícia e dos cerca de 40 profissionais envolvidos na investigação do crime e chamou de "pífia" a defesa, além de se referir à advogada especializada em perícia, Roselle Adriane Soglio, que ajudou na defesa, como "perita trapalhona".
Após falar por duas horas e meia, o promotor disse que o júri realizado é um divisor de águas, pois apresenta inúmeras provas técnicas que se sobrepõem a testemunhos, que em algumas ocasiões podem mostrar apenas a interpretação dos fatos.
O promotor acusou a defesa de promover um tsunami para liquidar a perícia, mas conseguiu apenas criar uma "ondinha pequena". Ele acusou o advogado Roberto Podval de desconhecer o processo e ainda tentar desqualificar reconhecidos especialistas na área.
- Prometeu-se um tsunami, mas não passou de uma onda de criança. De tsunami não teve nada. Entrei com duas pessoas muito importantes, a perita Rosângela Monteiro e a delegada Renata Pontes, além da mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, que contaria a história de vida da família. A defesa, que apresentou inicialmente 20 testemunhas, diminuiu para 15, para 10, para 6 e terminou com duas - afirmou Cembranelli.

Previsão é de resultado 1h da madrugada
O debate entre acusação e defesa do casal Nardoni é a ultima etapa antes da sentença dos jurados. O julgamento recomeçou às 10h26m e a previsão do Tribunal de Justiça é que a decisão do júri seja divulgada por volta de 1 hora da madrugada de sábado.
Ana Carolina Oliveira, a mãe de Isabella, não foi ao Fórum, segundo a advogada Cristina Christo Leite. A mãe de Isabella, afirmou a assistente da acusação, estaria muito debilitada por ter ficado quatro dias no Fórum e teria dito que espera apenas por justiça.
Na chegada ao Fórum, o advogado Ricardo Martins afirmou que "tudo pode acontecer" neste julgamento e que ele, pessoalmente, trabalha com a hipótese de absolvição por não terem provas concretas contra seus clientes.


O Globo

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