Levantamento realizado em 14 países mostra que redes "apelam" para os brinquedos como forma de vender lanche
O McDonald's diz que não impõe distribuição de brinde a consumo de sanduíche; outras redes não se pronunciaram
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Cachorrinhos e vaquinhas que grudam nas roupas, garrafinhas com imagens do super-homem e personagens do filme do momento. Uma pesquisa realizada em 14 países, incluindo o Brasil, apontou que a distribuição de brinquedos com sanduíches é a principal estratégia das redes de fast food para atrair crianças e pode contribuir com a obesidade infantil.
Coordenado pela Consumers International (federação que reúne organizações de defesa do consumidor), o estudo analisou a estratégia de marketing das linhas infantis do McDonald's, Burger King e KFC em países como Argentina, Espanha e Reino Unido.
A federação internacional recomenda que os brindes das redes de fast food não sejam mais distribuídos com os lanches.
No Brasil, o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), que coordenou a pesquisa, excluiu o KFC, que não é popular no país, e incluiu as redes Bob's, Giraffas e Habib's.
Todas elas têm "práticas apelativas de marketing", conta a coordenadora-executiva do Idec, Lisa Gunn. E a distribuição desses brindes estimula que as crianças consumam produtos ricos em sódio e gordura.
"A criança vai a lanchonete e consome o lanche por causa do brinquedo. Essas redes acabam induzindo a formação de um padrão de consumo nada saudável", afirma Gunn.
A conselheira do Conselho Federal de Psicologia, Roseli Goffman, concorda. "Esses brinquedos mexem com o imaginário da criança. Ela associa os símbolos que vê nos filmes, com os quais se identifica, com um alimento que faz mal."
No Burger King, por exemplo, os brindes do momento são brinquedos do filme "Tá Chovendo Hambúrguer".
A pesquisa também analisou a quantidade de calorias, gordura, gordura saturada e sódio dos lanches promocionais para crianças. Concluiu que nos produtos das cinco redes estudadas no Brasil havia quantidade de sódio pelo menos duas vezes maior do que o recomendado para crianças de sete a dez anos.
Todos também tinham ao menos um terço da quantidade de calorias e de gorduras de que elas necessitam por dia.
O McLanche Feliz, do McDonald's, com cheeseburger, batata frita e coca-cola, tem 54% das gorduras saturadas que elas precisam, segundo a pesquisa.
Valores que, se consumidos com frequência, podem levar à obesidade, afirma José Marcondes, endocrinologista do hospital Sírio-Libanês.
"Tenho atendido muitos adolescentes com hipertensão e diabetes em função da obesidade. Isso é frequente nos EUA e aqui está começando", afirma.
O McDonald's afirma que não impõe nenhuma obrigatoriedade de consumir a refeição para ter acesso ao brinquedo do McLanche Feliz e que os índices nutricionais do produto são adequados a uma dieta balanceada e saudável. O brinquedo, comprado separadamente, custa R$ 9 -a promoção, com o alimento, fica entre R$ 11 e R$ 12.
A lanchonete afirma ainda que oferece 60 combinações de McLanche Feliz, 83% com menos de 600 calorias.
O Burger King disse que vai continuar incluindo mais opções no cardápio. O Bob's não quis se prenunciar e o Giraffas disse que não teria como responder à reportagem a tempo. Procurado por e-mail, o Habib's não respondeu à Folha.
A coordenadora do Idec concorda que muitas empresas têm adotado em seu cardápio produtos mais saudáveis, como frutas e saladas. "Mas as medidas ainda são muito frágeis. A criança com menos de 12 anos ainda não tem a visão crítica do que significa aquele produto".
Fonte: Folha de São Paulo
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