sábado, 17 de outubro de 2009

Por que pacientes do Roger demoraram para acusá-lo de abuso?


Nesta semana, a juíza Kenarik Boujikian Felippe, da 16ª Vara Criminal de São Paulo, começou a colher o depoimento das mulheres que acusam Roger Abdelmassih (foto) de abuso sexual.
Algumas delas têm relatado o que por anos não disseram sequer ao marido.
Por que algo tão grave foi mantido em segredo por tanto tempo? E por que só agora essas mulheres resolveram denunciar o especialista em reprodução humana assistida?
Muitas pessoas que acompanham o caso fazem essas perguntas.

Abaixo, segue a explicação de uma das ex-pacientes do médico.

Por que não contei nada na hora?

O meu marido não era totalmente favorável ao tratamento. Após eu insistir, resolvemos pagar cerca de 30 mil para realizar um sonho, no "melhor do Brasil" (o médico assim se denominava).
Após gastar mais de R$ 11 mil de remédios, no dia da aspiração, em uma sala de repouso, onde eu estava sozinha, ele [o médico] me agarrou, me beijou, me acariciou nos órgãos genitais, etc.... Mesmo implorando para que ele parasse, ele continuou.
No momento em que consegui fugir só tinha duas possibilidades:
1ª) Fazer um escândalo na clínica e contar tudo ou
2ª) Ficar calada para sempre.

Ponderei rapidamente com muita dor e sofrimento a primeira hipótese e senti que a consequência poderia ser muito pesada, pois meu marido ficaria nervoso e quebraria tudo, inclusive ele [o médico].
Neste caso, o meu marido seria preso e eu não teria nenhuma prova do fato. Estávamos nós dois na sala e não houve penetração. E quem acreditaria numa "Joana Ninguém" se comparada a um médico com projeção nacional e internacional e com amigos poderosos?
Além disso, possivelmente meu marido nunca mais toparia fazer um tratamento para ter um filho, somando-se a isso o fato de os nossos embriões já estarem dentro da clínica, era só implantar. Para somar, eu já havia pagado tudo (R$ 37 mil) e era a minha quase única chance de ter um filho.
Ainda com sofrimento, ponderei as consequências da hipótese de ficar calada. Neste caso, também sofreria para o resto da vida, mas ao menos não faria o meu marido e a minha família sofrerem.
Além disso eu poderia engravidar e torcer para que um dia eu ou outra pessoa conseguisse alguma prova para incriminá-lo, porque certamente Deus trataria do assunto com a verdadeira justiça. Diante das consequências menos arriscadas para minha família, optei por ficar calada.
No entanto, precisei voltar [à clínica] para implantar os embriões e me certifiquei de que não seria com ele [o dr. Abdelmassih]. Além disso, tomei o cuidado de não ficar sozinha em NENHUM momento dentro daquele local.
Infelizmente, fui vítima de uma dor emocional muito forte combinada com uma infecção e aí perdi o meu bebê. Mas mesmo tendo pago um pacote de três tentativas [de fertilização] NUNCA MAIS VOLTEI NAQUELE HORROR...
Esse depoimento é apenas para esclarecer por que não contei tudo na hora.
Hoje é tudo mais fácil, inclusive julgar quem não contou na hora. Agora tenho certeza de que o médico fazia [abusava] de várias [mulheres] e armava tudo para que não houvesse provas. Afinal, o crime de abuso sexual é realmente um crime silencioso.
Graças a Deus alguém muito mais forte e corajosa do que eu contou a verdade. Então a verdade das demais ganhou a força para buscar a justiça dos homens.
Às mulheres que se trataram na clínica e não passaram por isso, eu digo: agradeçam a Deus todas as noites por terem sido poupadas.

Alguns comentário sobre a matéria:

Paulo Roberto Lopes disse...
Gostaria que neste espaço outras mulheres que acusam o médico contassem por que demoraram tanto (ou não) para contar sobre o assédio ao marido e também as razões daquelas que ainda mantêm o segredo.
16/10/09 20:34

Mariana disse...
Na época em que fui abusada (faz 9 anos), cheguei a fazer um BO. Procurei um advogado, que não me deu crédito e disse que a história não teria futuro. Conhecidas começaram a me dizer que os fatos não eram novidadade e que o Dr.Roger era um homem perigoso. Decidi me calar, por não saber a quem mais recorrer, além de ficar insegura. Não sou de São Paulo e não tinha contatos importantes, como o Doutor, tinha. Quando li a matéria da Folha, em janeiro deste ano, quase morri de tanta satisfação. E aí já estava o caminho das pedras. Foi só seguir a diante, procurando o Ministério Público.
Tenho um prazer inenarrável de juntamente com as outras vítimas, ver a justiça ser feita contra o Doutor Roger.
16/10/09 23:01

Vitima de Santa Catarina disse...
Paulo, eu acho incrível como nós as 56 vítimas iniciais pensaram e agiram da mesma maneira...
Primeiro o sonho do marido em ser pai.
E quem iria acreditar numa caipira do interior de Santa Catarina sendo assediada por um médico de renome internacional e amigo de famosos.
Após um intervalo de alguns anos meu marido quis voltar a clínica p/ fazer mais uma tentativa, daí eu cheguei no meu limite e contei a ele o que tinha acontecido, contei a ele e a um amigo que é médico da família... Meu marido queria ir até SP, bater, fazer e acontecer, mas uma formiguinha diante de um elefante não tem nenhuma chance não é mesmo?
Passei mais alguns anos da minha vida pensando se eles (marido e amigo médico) tinham acreditado em mim. Até o dia em que recebi um e-mail denunciando este ex doutor, daí sim o peso que eu carregava nos ombros foi aliviado e hoje nós as vítimas esperamos pela justiça, nada mais do que isso, JUSTIÇA. Obrigada Paulo mais uma vez por este espaço, obrigada aos promotores da GAECO, obrigada por todas as pessoas que de muitas maneiras manisfestam solidariedade a nós.
16/10/09 23:31

Anônimo disse...
Apesar do meu caso ser novo, adorei esse espaço, pois as minhas razões não diferem em nada das citadas, e era isso com certeza que o deixava na impunidade e ele sabia disso, ele estava com a "faca e o queijo nas mãos" literalmente.
17/10/09 00:04
Teresa disse...
Vamos lá...
Não pensem que estamos aqui relatando os fatos por nos fazer bem.
Não, é que, infelizmente no Brasil uma pessoa que é rica e famosa, não é considerada criminosa. Só comentem crimes os pobres e negros, só estupram os que são doentes e os que não tem família..
Quando são denunciados os grandes considerados “classe A”, a sociedade não acredita ou finge não acreditar.
Restando para nós vítimas o papel mais difícil, que mesmo depois de provado que sofreu um crime considerado hediondo, sofremos por parte da sociedade uma cobrança brutal (ESTA) que está fora de nossas forças, “A OBRIGAÇÃO” de ter que desenhar o abuso sofrido diante das câmeras de TV, Jornais e outros meios de Comunicação. Mesmo assim, dizem não acreditar só por ELE SER rico e famoso.
Minha história é diferente de todas, mas de muita importância, porque ela mostra que ele faz isso desde sempre, talvez desde o ventre de sua mãe.
Aconteceu na década de 70, eu menor de idade, única filha mulher (caçula) de uma prole de 7 irmãos.
Família recém chegada da roça, xucros, sem nenhuma informação, não conheciam TV e pouco sabiam ler.
Acredito que eu nem soubesse que existia algo chamado “DIREITO”, meu pai faleceu com 74 anos e minha mãe com 91, nunca contrataram de um advogado.
Então Sra. Sociedade, não contei, por falta de informação, e por “MEDOS” primeiro era o medo de contar e ele cumprir as ameaças feitas contra minha família, depois o medo de contar e saber que acima de mim existiam pais e irmãos que poderiam acabar cometendo um crime fazendo justiça com as próprias mãos, e ai ficaria pior. O terceiro medo era da SOCIEDADE, se viesse saber me marcaria como se marca um boi, para sempre.
Para que os leitores tenham idéia, eu a época nunca tinha tido um namorado, nunca tinha beijado um homem, uma educação rígida, sair de casa apenas acompanhada pelos irmãos e com hora marcada para chegar, sempre antes das 21:00.
Se aqui entre os leitores tem alguém com minha idade, saberá entender o que era na época o valor moral de uma mulher. A maioria dos pais quando descobriam que as filhas não eram mais virgens virgem as obrigavam a casar ou sair de casa.
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Fico me perguntando, porque querem saber o motivo de não termos contado na época e qual diferença faz?...rsrsrs, se vocês não acreditam agora em mais de 80 denuncias iriam acreditar em mim sozinha?
17/10/09 04:23


3 comentários:

  1. Muito bom saber as razões de as vítimas não terem denunciado antes.

    Mas também é muito interessante ver pelo relatório da delegada, reproduzido na Revista da Joyce P., que as supostas vítimas são 39. Não são 56. A mesma vítima, ao que parece, está acusando o médico de múltiplos estupros.

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  2. Anônimo,
    Não se iluda!!! O que importa a quantidade? Para você o estupro só seria estupro se fosse com 100 vítimas, ou 200 vítimas ou 300 vítimas. Quantas mais teríam que ser estupradas para que esse monstro seja julgado culpado?

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  3. Como já foi dito em alguns lugares, é a noivinha dele que está fazendo esses comentários ridículos.
    Ainda tem coragem de ficar e defender um tipo como esse?

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