quinta-feira, 15 de outubro de 2009

PROFESSORES DO BRASIL - Uma professora nota 10


Série mostra docente de uma escola de Viamão que serve de psicóloga para gerações sucessivas de alunos

Durante os anos de formação, Rosilene Konrath Kroth tinha uma certeza: seria uma professora rígida e exigente, de quem aluno algum conseguiria gostar.
Acertou apenas metade da previsão. Em 27 anos de magistério, granjeou de fato fama de severa. Mas também virou uma professora amada pelos estudantes, daquelas a quem se confiam problemas íntimos e que deixam marcas vívidas.
A auxiliar de secretaria Cassandra Alano, 27 anos, dá um testemunho disso. Foi aluna de Rosilene durante três anos, há mais de uma década, na Escola Estadual de Ensino Médio Nísia Floresta, em Viamão. Nesta semana, quando deparou com o blog Professor Nota 10, de zerohora.com, a jovem sentiu-se impelida a postar uma foto e um texto em homenagem a duas antigas mestras. Rosilene era uma delas.
– Foi o momento de dizer que, apesar de ter passado muito tempo, ainda lembro muito das aulas dela – contou Cassandra.
O que leva uma professora a se tornar uma referência desse gênero na vida de alguém? Aos 45 anos, Rosilene acredita que justamente ser rígida e exigente motivou isso.
– Tenho autoridade e coloco limites. Exijo disciplina. Quando se está na sala de aula, é para estudar. Essas são as coisas que os alunos esperam. Mas tem de complementar isso com carinho e respeito.
Rosilene começou a lecionar em 1982, recém-formada em Magistério. Ensinou em escolas municipais de Sobradinho e Viamão enquanto fazia o curso de História. Quando se formou, em 1987, passou no concurso do Estado para ser professora da disciplina na Escola Nísia Floresta. Envolveu-se de tal forma com a comunidade da Vila Elza que nunca mais quis se afastar de lá. Segundo ela, apesar de se tratar de uma escola de periferia, com nível socioeconômico baixo, o estabelecimento evitou o campo minado de violência em que vivem outros colégios porque os moradores são participativos.
Nesse universo, Rosilene é uma referência que atravessa gerações. Ela dá aula hoje para os filhos dos seus alunos de anos atrás. Conhece todo mundo – os casos tristes e os casos alegres. Com frequência identifica pelo comportamento de algum estudante que ele está com problemas em casa, desvia a aula do tema da História do Brasil, aborda questões capazes de reconfortá-lo e, só então, retoma o conteúdo.
– Às vezes, viro psicóloga. Meninos e meninas vêm trazer os problemas, às vezes desesperados.
A professora procura acompanhar o destino dos seus ex-alunos. Deprime-se quando descobre que algum foi parar no presídio, mas exulta com as notícias de sucesso de outros. Vários viraram professores. Alguns fazem faculdade de História.
– Por um lado, sinto orgulho, porque estou servindo de modelo. Mas quando penso em toda a trajetória de dificuldade que esses alunos terão pela frente, tenho angústia. Eles vão ter de superar muita coisa com um pedacinho de giz e o quadro-negro. O professor tem de ser muito criativo e trabalhar por amor, porque pelo salário não é. Tenho prazer de ensinar e de ajudar – afirma Rosilene.

Itamar Melo e Marcelo

Zero Hora


http://ponderantes.blogspot.com/2009/09/professores-do-brasil-blogagem-coletiva.html

Um comentário:

  1. Uma história de vida que serve de exemplo para outros educadores e para nós, pais de alunos, uma ponta de esperança que sibila por dias melhores. Beijus,

    ResponderExcluir

Verbratec© Desktop.