terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dê limites de presente a seu filho: ele agradece


Dê limites de presente a seu filho

Quem nunca ouviu ou usou a expressão "é de pequeno que se torce o pepino", numa referência à necessidade de estabelecer limites para as crianças? Mas parece que a velha máxima, cada vez mais, torna-se esquecida. Crianças e adolescentes rebeldes, indisciplinados, que não respeitam pais e professores, existem aos montes por aí. E pais que alegam "não dar conta" dos filhos também.
Há casos em que crianças de 4, 5 anos de idade, exercem controle sobre os pais. Como a menina que após uma birra num shopping, levada para o carro pela mãe, começou a gritar: "Socorro, estou sendo sequestrada!".
Esse fato, descrito pela psicopedagoga paulista Maria Irene Maluf, retrata uma situação vivida hoje por várias famílias. Maria Irene explica que bebês são mesmo capazes de controlar suas mães. Crianças podem ser especialistas em manipulação.
E se limites não são estabelecidos no tempo devido - e aí não se inclui punição física, porque todos sabem que a velha palmada hoje é alvo de rejeição -, os problemas só acumulam-se.
"A asa cresce, mas o mal deve ser arrancado pela raiz", diz Maria Irene Maluf, fazendo questão de afirmar: "É preciso lembrar que criar filho é diferente de criar pássaro, cachorro. Dá trabalho, envolve questões morais, éticas", um verdadeiro alerta neste Dia das Crianças.
O fato de os pais não saberem dizer não aos filhos preocupa aos especialistas. "Muitas vezes só punem quando estão com raiva. E aí, o que eles estão ensinando? Nada", diz o psicólogo Adriano Facioli, professor da Faculdade Alvorada e do Ceub, em Brasília.

Pulso firme
Ele explica que os pais devem manter as regras sem perder a cabeça. "É preciso clareza de regras e coerência na aplicação de possíveis penalidades. Deve-se mostrar para a criança ou para o adolescente que é preciso respeitar compromissos. Ter pulso firme é manter o que foi acordado", orienta Facioli.
Professora do curso de Psicologia da Ufes, Claudia Broetto Rosset deixa claro que não há receita nem fórmula mágica para educação dos filhos. Afinal, educação é um processo.
"Um adolescente rebelde resulta da história de anos. É preciso aplicar limite desde a primeira infância. A criança vai berrar, espernear, mas os pais têm que ter clareza do que fazem".
A psicóloga lembra que hoje, os pais ficam muito tempo fora de casa, e muitos tendem a ceder facilmente à pressão. "O fato é que é que quem não aprende a ter limite em casa vai enfrentar essa realidade em algum lugar, às vezes de forma traumática".

Compreender transgressão faz punição funcionar

Você "dá uma dura" no seu filho por causa de um comportamento que considera inadequado, e o coloca de castigo. Dias depois, ele repete o mesmo "malfeito", e recebe uma nova "bronca".
A situação descrita acima não é incomum, e leva à reflexão sobre algo estudado pela Psicologia de Desenvolvimento Humano: qual a a percepção de moralidade que o indivíduo tem? Até que ponto um garoto que vive aprontando vê seu comportamento como transgressão, e como ele julga e mede a forma pela qual deve ser punido por esse comportamento?
A discussão da moralidade das ações, lembra o professor de Psicologia da Ufes Sávio Silveira de Queiroz, passa pelos contextos familiar, escolar e clínico.
Ele diz que a compreensão da transgressão por uma criança ou adolescente é muito importante para que a correção do ato seja por eles compreendida, e funcione.
"A chave para se entender transgressão, punição, limite, é o desenvolvimento da moralidade. Os pais devem mostrar para os filhos, desde cedo, o que fere uma boa conduta ética e moral", diz o psicólogo.
"Até as formigas têm hierarquia. Filhos não podem mandar nos pais, e nós não podemos mesmo abrir mão disso"
Maria Irene Maluf Psicopedagoga

Regras rígidas e diálogo com ajuda bíblica

Mãe e pedagoga, Marcela Waleska Rodrigues Henrique, 39, vê os filhos Hedrei, 15, e Silvia Elise, 12, reagindo, cada um à sua maneira, às normas do viver em família e fora dela. Marcela diz que Silvia costuma ter sempre "resposta na ponta da língua", e que Hedrei vive uma fase de querer sair com colegas, e estar sempre falando ao telefone, na fase típica em que surgem interesses por meninas. Evangélicos, os Henrique oram juntos e usam a Bíblia como referência também na educação dos filhos. As regras, no entanto, são rígidas em caso de desrespeito ou falhas de comportamento. A menina, por exemplo, já ficou um mês sem poder usar o computador. Há também punição financeira. Ambos, Hederi e Silvia Elise, recebem mesada, e se não colaboram, deixando uma toalha molhada sobre a cama, por exemplo, sofrem um desconto de R$ 2. O mesmo se aplica à rebeldia e à desobediência. "A cada coisa errada, debito no saldo da mesada. É a regra", diz a mãe, admitindo que, assim, evita maiores irritações. Marcela lembra que os pais não podem desistir dos filhos. "Precisamos ver a melhor forma de dialogar com eles e fazê-los perceber seus erros", diz ela.

Elogios e críticas registrados diariamente

Mônica Fernandes é comerciante, tem dois filhos - Beatriz, 8 anos, e João Pedro, 6 -e, por isso mesmo, uma agenda cheia, diariamente. As crianças têm rotinas diárias a cumprir, mas, muitas vezes, Mônica tem que repetir sempre as mesmas recomendações. "Às vezes me irrito, mas me esforço para manter a calma", diz ela, explicando que funciona muito bem na sua casa é um controle feito por meio de elogios e críticas registrados em cartazes afixados nos quartos das crianças. Uma carinha alegre desenhada no papel indica tarefas cumpridas e bom comportamento. "As crianças adoram receber elogios, principalmente a Bia, que é muito competitiva", diz a mãe. Mas há momentos em que a punição se faz necessária, e aí entra na lista, por exemplo, a temporária retirada de acesso à TV. Mônica diz que João Pedro exige uma abordagem diferente, por ser mais novo. "Às vezes ele demonstra que não está nem aí se eu lhe tiro um brinquedo. Ele consegue brincar com qualquer coisa, e parece não querer ouvir aquilo que não o interessa, mas não gosta de se sentir sem liberdade, retido num quarto, por exemplo ", diz a mãe, que desdobra-se em atenção às crianças. "Esforço-me para fazer o melhor, porque sei que estou formando o caráter delas".

Projeto prevê proibição legal para o uso da palmada

Qualquer castigo físico imposto à criança, inclusive a palmada, pode ser proibido por lei com a aprovação do Projeto de Lei que tramita no Congresso Nacional. Há pesquisa mostrando as consequências nos processo da construção da inteligência das crianças que apanham. Testes de inteligência americanos teriam revelado que os bebês que apanharam com um e dois anos apresentaram dificuldades de aprendizado aos 3 anos.
Mas o psicólogo Adriano Facioli, de Brasília, afirma: na discussão sobre a palmada estão em jogo aspectos éticos. "Se é proibida punição corporal para adultos, por que seria permitida para crianças?", argumenta.
Facioli lembra que a violência também pode acontecer por meio da humilhação, da negligência, e que ela tem sempre efeito colateral. "Um sujeito muito punido tende a se retrair, a apresentar uma relação com o mundo marcada pelo medo. Perde a criatividade", afirma o psicólogo.
Ele diz também que aquele que é punido sempre tende a agir de forma certinha só quando está perto de quem o pune. Além disso, tende a reproduzir as formas de punição das quais é vítima, sendo agressivo.

Claudia Feliz
cfeliz@redegazeta.com.br
Gazeta On-line


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